Zeitgeist é o conjunto de ideias, crenças, comportamentos e influências que definem o espírito de uma época específica. (Getty Images/Divulgação)
Colunista
Publicado em 2 de agosto de 2025 às 08h00.
Nem todas as ideias precisam chegar a um fim. Algumas apenas nos acompanham em silêncio, atravessando os anos sem pressa. Voltam de tempos em tempos, não para se resolver, mas para se deixar ver de outro ângulo.
Vivemos cercados pela lógica da conclusão. Fechar ciclos, esclarecer posições, deixar tudo dito. Mas há uma forma legítima de pensamento que acontece no intervalo, na dúvida, no rascunho. Ela não perde valor por não se resolver.
É cada vez mais difícil manter esse espaço em aberto. A urgência por interpretar, responder, se posicionar, ocupa tudo. Pensar demais, às vezes, é uma forma de esquecer. A vontade de entender pode sufocar o que ainda está em processo. E a certeza tem o péssimo hábito de silenciar o que não se encaixa. Às vezes, a reflexão excessiva funciona como anestesia: impede que a experiência nos atravesse de verdade.
Talvez por isso tantas conversas terminem inconclusas. Não por falta de lucidez, mas por excesso de ansiedade. Algumas ideias só amadurecem quando a gente para de empurrar. Não se trata de abandonar o raciocínio, mas de reconhecer que há momentos em que a inteligência está mais no freio do que na aceleração.
O inacabado tem um valor próprio. Como as obras que nunca foram terminadas, mas seguem influenciando quem passa por elas. Ele não precisa encantar. Basta continuar ali, sendo tocado com o tempo. A dúvida que se repete talvez diga mais sobre nós do que a resposta que aliviamos por conveniência.
O Brasil, nesse sentido, também é uma ideia que nunca se concluiu. É um país que ensaia ser há séculos, mas que parece hesitar diante de cada chance de se tornar. Há sempre um traço de rascunho nas grandes promessas, como se houvesse certo conforto, ou alívio, em permanecer provisório. Em alguns momentos, parece à beira de se realizar. Em outros, volta à estaca zero. Talvez o problema não seja só político, mas de linguagem. Queremos um país redondo, e o Brasil sempre foi elíptico.
O mesmo vale para muita coisa que realmente importa: relações, afeto, desejo, identidade. Nem tudo precisa ser resolvido. Algumas experiências ganham profundidade justamente porque não terminam, porque não se explicam, porque continuam reverberando mesmo depois que o assunto já passou.
Esse texto, se for mesmo um texto, não pretende concluir nada. Só acompanhar o que continua pendente dentro da gente. Talvez a dúvida, afinal, não seja a ausência da resposta. Talvez seja só o seu modo mais honesto de permanecer.