Exame Logo

Trumpofobia

Trump está fazendo o que disse que faria: tomando medidas contra a imigração para os EUA. Banimento temporário de pessoas oriundas de sete países e a ordem para a construção do muro. Medidas equivocadas, mas que a oposição a ele não está sabendo criticar. A reação normal da oposição tem sido justamente a mais fraca […]

PROTESTO CONTRA TRUMP: exigir que os EUA simplesmente aceite todo mundo indiscriminadamente é exigir que ele se suicide pelo bem comum / Brendan McDermid/ Reuters
DR

Da Redação

Publicado em 2 de fevereiro de 2017 às 10h37.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h05.

Trump está fazendo o que disse que faria: tomando medidas contra a imigração para os EUA. Banimento temporário de pessoas oriundas de sete países e a ordem para a construção do muro. Medidas equivocadas, mas que a oposição a ele não está sabendo criticar.

A reação normal da oposição tem sido justamente a mais fraca de todas: a indignação moral. Por trás dela está o pressuposto de que os EUA têm o dever de aceitar migrantes e refugiados livremente, sem controle, pelo simples fato de que essas pessoas sofrem muito em seus países de origem. No fundo, aceitam a ideia de que a população americana sai perdendo quando um migrante entra no país, mas o altruísmo deve falar mais alto.

Se é assim que funciona, então os EUA estão mais do que certos em controlar a migração. Todo governo deve mirar, evidentemente, os interesses de sua população. O “Put America First” é quase uma banalidade, perigoso pelo seu aspecto demagógico (pressupõe que a política aberta não estivesse nos interesses dos EUA) do que pela verdade trivial que enuncia. Exigir que a população vote contra os próprios interesses – contra o bem-estar de seus filhos e netos – para beneficiar massas de miseráveis do outro lado do globo é, na melhor das hipóteses, uma ilusão.

Como liberal, entendo que a imigração é, de maneira geral, um benefício (principalmente de eficiência econômica, que se traduz em aumento do padrão de vida da população) para o país que recebe os imigrantes, e que o mundo progredirá se caminhar na direção de fronteiras menos fechadas. Contudo, há diversos fatores que tornam essa questão mais complexa.

O primeiro é o argumento econômico antiliberal que está, hoje em dia, muito forte: imigrantes roubam empregos, trabalham por salários menores e reduzem, portanto, a renda dos nativos. Mais do que qualquer outra coisa, o voto em Trump foi o voto de trabalhadores americanos com medo da concorrência de trabalhadores mais baratos do Oriente e da América Latina.

O segundo é a segurança nacional. Entre os imigrantes e refugiados pacíficos podem se esconder terroristas, e é de total interesse de um país manter terroristas fora de suas fronteiras.

O terceiro é o aspecto cultural. Imigrantes podem trazer culturas muito diferentes e que se chocam com os costumes e regras do novo país. Em certas vizinhanças da França, uma mulher corre risco se NÃO sair de casa com a cabeça coberta. Na passagem de 2015 para 2016, gangues de imigrantes cometeram diversos estupros em Colônia, na Alemanha. Novamente, faz sentido que um país queira restringir a entrada de populações que, por motivos culturais, cometem mais crimes.

É por isso que absolutamente todo país do mundo controla (ou busca controlar) de alguma maneira quem entra nele. O muro de Trump não é inédito. Dezenas de países têm muros entre suas fronteiras.

Exigir que os EUA simplesmente aceite todo mundo indiscriminadamente é exigir que ele se suicide pelo bem comum (e, evidentemente, sua eventual ruína não contribuiria para o bem comum). A resposta para os inimigos da imigração é, em primeiro lugar, mostrar que seus medos são embasados, e que ela representa um bem para o país.

Sim: a imigração é ruim, no curto prazo, para os trabalhadores que concorrem com os imigrantes. Esses saem perdendo, pois ou perderão o emprego ou terão que se contentar com salários menores, se não migrarem de setor. Para trabalhadores mais velhos, é progressivamente mais difícil migrar de setor. Portanto, há sim um argumento razoável para que certos grupos de trabalhadores recebam alguma reparação depois da entrada de imigrantes.

Com menos dinheiro sendo gasto no trabalho industrial (que agora é mais barato) e com o influxo de mão-de-obra, há mais capital e mão-de-obra disponível para outros setores, como tecnologia e serviços. Além disso, todo o Ocidente enfrenta o espectro do envelhecimento de sua população. A chegada de imigrantes capazes de trabalhar melhora a relação entre a população economicamente ativa e a inativa, que tende a crescer conforme as pessoas vivem mais e há menos jovens entrando na fase adulta.

Por fim, há que se questionar o muro de Trump em termos de custo/benefício. Essa promessa eleitoreira faz sentido? A imigração ilegal pela fronteira mexicana caiu radicalmente nos últimos anos. Conforme reportado pela The Economist (‘How necessary is Donald Trump’s wall?’, 26/01/2017), o número de cruzamentos ilegais da fronteira é hoje um terço do que era no ano 2000. O projeto caro e que provavelmente será pago pelo contribuinte americano valerá a pena?

Trump presidente move os EUA para um território instável de demagogia e instintos à flor da pele. A melhor maneira de reagir a seus equívocos não é o ultraje moral, a histeria coletiva e o clima de apocalipse, mesmo porque alguns aspectos podem se revelar positivos. A oposição real baseia-se naquilo que a política deveria ter: inteligência nas ideias e firmeza no temperamento.

joel-ficha33.jpg

Veja também

Trump está fazendo o que disse que faria: tomando medidas contra a imigração para os EUA. Banimento temporário de pessoas oriundas de sete países e a ordem para a construção do muro. Medidas equivocadas, mas que a oposição a ele não está sabendo criticar.

A reação normal da oposição tem sido justamente a mais fraca de todas: a indignação moral. Por trás dela está o pressuposto de que os EUA têm o dever de aceitar migrantes e refugiados livremente, sem controle, pelo simples fato de que essas pessoas sofrem muito em seus países de origem. No fundo, aceitam a ideia de que a população americana sai perdendo quando um migrante entra no país, mas o altruísmo deve falar mais alto.

Se é assim que funciona, então os EUA estão mais do que certos em controlar a migração. Todo governo deve mirar, evidentemente, os interesses de sua população. O “Put America First” é quase uma banalidade, perigoso pelo seu aspecto demagógico (pressupõe que a política aberta não estivesse nos interesses dos EUA) do que pela verdade trivial que enuncia. Exigir que a população vote contra os próprios interesses – contra o bem-estar de seus filhos e netos – para beneficiar massas de miseráveis do outro lado do globo é, na melhor das hipóteses, uma ilusão.

Como liberal, entendo que a imigração é, de maneira geral, um benefício (principalmente de eficiência econômica, que se traduz em aumento do padrão de vida da população) para o país que recebe os imigrantes, e que o mundo progredirá se caminhar na direção de fronteiras menos fechadas. Contudo, há diversos fatores que tornam essa questão mais complexa.

O primeiro é o argumento econômico antiliberal que está, hoje em dia, muito forte: imigrantes roubam empregos, trabalham por salários menores e reduzem, portanto, a renda dos nativos. Mais do que qualquer outra coisa, o voto em Trump foi o voto de trabalhadores americanos com medo da concorrência de trabalhadores mais baratos do Oriente e da América Latina.

O segundo é a segurança nacional. Entre os imigrantes e refugiados pacíficos podem se esconder terroristas, e é de total interesse de um país manter terroristas fora de suas fronteiras.

O terceiro é o aspecto cultural. Imigrantes podem trazer culturas muito diferentes e que se chocam com os costumes e regras do novo país. Em certas vizinhanças da França, uma mulher corre risco se NÃO sair de casa com a cabeça coberta. Na passagem de 2015 para 2016, gangues de imigrantes cometeram diversos estupros em Colônia, na Alemanha. Novamente, faz sentido que um país queira restringir a entrada de populações que, por motivos culturais, cometem mais crimes.

É por isso que absolutamente todo país do mundo controla (ou busca controlar) de alguma maneira quem entra nele. O muro de Trump não é inédito. Dezenas de países têm muros entre suas fronteiras.

Exigir que os EUA simplesmente aceite todo mundo indiscriminadamente é exigir que ele se suicide pelo bem comum (e, evidentemente, sua eventual ruína não contribuiria para o bem comum). A resposta para os inimigos da imigração é, em primeiro lugar, mostrar que seus medos são embasados, e que ela representa um bem para o país.

Sim: a imigração é ruim, no curto prazo, para os trabalhadores que concorrem com os imigrantes. Esses saem perdendo, pois ou perderão o emprego ou terão que se contentar com salários menores, se não migrarem de setor. Para trabalhadores mais velhos, é progressivamente mais difícil migrar de setor. Portanto, há sim um argumento razoável para que certos grupos de trabalhadores recebam alguma reparação depois da entrada de imigrantes.

Com menos dinheiro sendo gasto no trabalho industrial (que agora é mais barato) e com o influxo de mão-de-obra, há mais capital e mão-de-obra disponível para outros setores, como tecnologia e serviços. Além disso, todo o Ocidente enfrenta o espectro do envelhecimento de sua população. A chegada de imigrantes capazes de trabalhar melhora a relação entre a população economicamente ativa e a inativa, que tende a crescer conforme as pessoas vivem mais e há menos jovens entrando na fase adulta.

Por fim, há que se questionar o muro de Trump em termos de custo/benefício. Essa promessa eleitoreira faz sentido? A imigração ilegal pela fronteira mexicana caiu radicalmente nos últimos anos. Conforme reportado pela The Economist (‘How necessary is Donald Trump’s wall?’, 26/01/2017), o número de cruzamentos ilegais da fronteira é hoje um terço do que era no ano 2000. O projeto caro e que provavelmente será pago pelo contribuinte americano valerá a pena?

Trump presidente move os EUA para um território instável de demagogia e instintos à flor da pele. A melhor maneira de reagir a seus equívocos não é o ultraje moral, a histeria coletiva e o clima de apocalipse, mesmo porque alguns aspectos podem se revelar positivos. A oposição real baseia-se naquilo que a política deveria ter: inteligência nas ideias e firmeza no temperamento.

joel-ficha33.jpg

Acompanhe tudo sobre:Exame Hoje

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se