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Sem Moro, o governo Bolsonaro desmoronou

A interferência na PF vem não só durante uma pandemia grave, mas também no momento em que o Presidente se aproxima do Centrão

BOLSONARO COM ELEITORES: na história brasileira, todos os líderes que apostaram na reação popular dançaram / Adriano Machado/ Reuters
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Da Redação

Publicado em 24 de abril de 2020 às 16h06.

Última atualização em 24 de abril de 2020 às 16h56.

Aquilo que fora há muito tempo anunciado finalmente aconteceu: Moro rompeu definitivamente com Bolsonaro. A demissão de Maurício Valeixo como diretor geral da Polícia Federal foi a gota d’água, mas não é a primeira indignidade que o governo joga no ex-Superministro. Desde o início, sua suposta “carta branca” foi pisoteada sempre que conveio ao Presidente. Perdeu o COAF, teve que se desculpar publicamente pela indicação de uma suplente do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, viu seu pacote anticrime esvaziado pelo Congresso sem qualquer esforço do Presidente em acatar as sugestões finais do Ministro. Em um dado momento, correu o risco de ter seu Ministério desmembrado. Naquela ocasião, bateu o pé e venceu. Desta vez, o imperativo de sobrevivência política do Presidente falou mais alto.

Motivos não faltam para o governo querer interferir diretamente na Polícia Federal: investigação contra Flávio Bolsonaro pelo esquema das rachadinhas, investigação contra Carlos Bolsonaro ligada às fake news e ao “gabinete do ódio” e, possivelmente, interesses dos novos aliados de Bolsonaro do Centrão. O sonho de Bolsonaro é tê-la na mão da mesma forma que fez com a PGR, com a diferença de que o Procurador-Geral conta com uma independência que falta ao diretor-geral da Polícia Federal.

A interferência na PF vem não só durante uma pandemia grave, mas também no momento em que o Presidente se aproxima do Centrão. Ver Bolsonaro abrir os braços para PTB e PP não é novidade: ele pertenceu a essas siglas. A novidade é tanta gente ter acreditado que ele era algo diferente dos políticos com que agora negocia cargos. E agora que abriu o balcão de negócios para esses e tantos outros partidos do Centrão, para sobreviver agora e quem sabe emplacar o próximo presidente da Câmara, volta a assumir publicamente o que sempre foi. Algo muito distante daquilo que Sérgio Moro projeta como um ideal de política.

Para Moro, seria impossível compactuar com o governo sem manchar sua imagem. Embora tenha já engolido tantos sapos neste ano e meio de governo, permanecer ao lado de Arthur Lira, Roberto Jefferson e Valdemar Costa Neto seria demais. Perdendo Moro, o governo Bolsonaro perde o verniz de anti-corrupção de que se revestira, mostrando-se às claras como aquilo que sempre foi: um governo fisiológico e de defesa de interesses corporativistas.

Assim como na Justiça, na Economia o governo parece ter abandonado todo o programa de campanha. Nem bem Guedes se resignou a passar este mandato como gestor de crise e de política assistencial, Braga Netto, Tarcísio e Rogério Marinho aparecem como um Ministério da Economia alternativo propondo um verdadeiro Plano Marshall para o pós-epidemia. Um dia depois, o Ministro é fustigado abertamente por reportagem na TV Record, aliada de primeira hora de Bolsonaro.

No desespero da sobrevivência, Bolsonaro joga ao fogo as bandeiras que o elegeram: cruzada anti-corrupção, negação da política e liberalismo econômico. Em troca, ganha o Centrão. No mesmo momento que o PT embarcou no impeachment, o Centrão foi para o lado do Presidente. Se a aliança for selada, isso lhe garantes os votos de sobrevivência.

É claro que esse casamento cobrará um preço alto à frente; e esse “a frente” pode chegar muito rápido. A única arma que Bolsonaro tinha para enfrentar o jogo duro da política era seu apoio popular. Bom, depois do fracasso anunciado da saúde pública, do balcão de negócios ao ar livre e das acusações graves de Moro, vamos ver quantos ainda estarão dispostos a ir às ruas lutar pelo Mito.

Na história brasileira, todos os líderes que apostaram na reação popular dançaram – Jânio, Jango, Collor, Lula (nos dias de sua prisão). Restam as Forças Armadas, mas nada indica que estejam dispostos a romper com a institucionalidade para salvar um presidente que causa tantos problemas. Bolsonaro está, portanto, nas mãos do Centrão – voltou para de onde nunca saiu -, da política feita como puro jogo de interesses, que media todos os conflitos na política nacional. É um senhor cruel e impiedoso. Sem Moro, o governo Bolsonaro desmoronou.

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Aquilo que fora há muito tempo anunciado finalmente aconteceu: Moro rompeu definitivamente com Bolsonaro. A demissão de Maurício Valeixo como diretor geral da Polícia Federal foi a gota d’água, mas não é a primeira indignidade que o governo joga no ex-Superministro. Desde o início, sua suposta “carta branca” foi pisoteada sempre que conveio ao Presidente. Perdeu o COAF, teve que se desculpar publicamente pela indicação de uma suplente do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, viu seu pacote anticrime esvaziado pelo Congresso sem qualquer esforço do Presidente em acatar as sugestões finais do Ministro. Em um dado momento, correu o risco de ter seu Ministério desmembrado. Naquela ocasião, bateu o pé e venceu. Desta vez, o imperativo de sobrevivência política do Presidente falou mais alto.

Motivos não faltam para o governo querer interferir diretamente na Polícia Federal: investigação contra Flávio Bolsonaro pelo esquema das rachadinhas, investigação contra Carlos Bolsonaro ligada às fake news e ao “gabinete do ódio” e, possivelmente, interesses dos novos aliados de Bolsonaro do Centrão. O sonho de Bolsonaro é tê-la na mão da mesma forma que fez com a PGR, com a diferença de que o Procurador-Geral conta com uma independência que falta ao diretor-geral da Polícia Federal.

A interferência na PF vem não só durante uma pandemia grave, mas também no momento em que o Presidente se aproxima do Centrão. Ver Bolsonaro abrir os braços para PTB e PP não é novidade: ele pertenceu a essas siglas. A novidade é tanta gente ter acreditado que ele era algo diferente dos políticos com que agora negocia cargos. E agora que abriu o balcão de negócios para esses e tantos outros partidos do Centrão, para sobreviver agora e quem sabe emplacar o próximo presidente da Câmara, volta a assumir publicamente o que sempre foi. Algo muito distante daquilo que Sérgio Moro projeta como um ideal de política.

Para Moro, seria impossível compactuar com o governo sem manchar sua imagem. Embora tenha já engolido tantos sapos neste ano e meio de governo, permanecer ao lado de Arthur Lira, Roberto Jefferson e Valdemar Costa Neto seria demais. Perdendo Moro, o governo Bolsonaro perde o verniz de anti-corrupção de que se revestira, mostrando-se às claras como aquilo que sempre foi: um governo fisiológico e de defesa de interesses corporativistas.

Assim como na Justiça, na Economia o governo parece ter abandonado todo o programa de campanha. Nem bem Guedes se resignou a passar este mandato como gestor de crise e de política assistencial, Braga Netto, Tarcísio e Rogério Marinho aparecem como um Ministério da Economia alternativo propondo um verdadeiro Plano Marshall para o pós-epidemia. Um dia depois, o Ministro é fustigado abertamente por reportagem na TV Record, aliada de primeira hora de Bolsonaro.

No desespero da sobrevivência, Bolsonaro joga ao fogo as bandeiras que o elegeram: cruzada anti-corrupção, negação da política e liberalismo econômico. Em troca, ganha o Centrão. No mesmo momento que o PT embarcou no impeachment, o Centrão foi para o lado do Presidente. Se a aliança for selada, isso lhe garantes os votos de sobrevivência.

É claro que esse casamento cobrará um preço alto à frente; e esse “a frente” pode chegar muito rápido. A única arma que Bolsonaro tinha para enfrentar o jogo duro da política era seu apoio popular. Bom, depois do fracasso anunciado da saúde pública, do balcão de negócios ao ar livre e das acusações graves de Moro, vamos ver quantos ainda estarão dispostos a ir às ruas lutar pelo Mito.

Na história brasileira, todos os líderes que apostaram na reação popular dançaram – Jânio, Jango, Collor, Lula (nos dias de sua prisão). Restam as Forças Armadas, mas nada indica que estejam dispostos a romper com a institucionalidade para salvar um presidente que causa tantos problemas. Bolsonaro está, portanto, nas mãos do Centrão – voltou para de onde nunca saiu -, da política feita como puro jogo de interesses, que media todos os conflitos na política nacional. É um senhor cruel e impiedoso. Sem Moro, o governo Bolsonaro desmoronou.

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