O que o PISA revela é pior que a indignidade no Senado
Enquanto a política se preocupa exclusivamente com a política, o Brasil segue à deriva. Assim, perdoem-me se, contrariando a regra, não falo do Renan. É que há uma crise ainda mais grave para tratar. Os novos resultados do PISA chegaram, e nós, que já não éramos bons, estamos ainda pior. Dentre a piora geral, a […]
Da Redação
Publicado em 8 de dezembro de 2016 às 09h48.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h02.
Enquanto a política se preocupa exclusivamente com a política, o Brasil segue à deriva. Assim, perdoem-me se, contrariando a regra, não falo do Renan. É que há uma crise ainda mais grave para tratar. Os novos resultados do PISA chegaram, e nós, que já não éramos bons, estamos ainda pior. Dentre a piora geral, a queda em matemática dos alunos brasileiros salta aos olhos: fomos de 391 para 377 pontos. As primeiras posições estão por volta dos 550 pontos.
Não sou do tipo que acha que a educação deva se pautar inteiramente pelos resultados de exames internacionais ou vestibulares. Há muito que eles não medem: originalidade, criatividade, audácia, maturidade, responsabilidade pessoal, autonomia, capacidade de aproveitar a vida.
Além disso, maximizar o resultado no PISA também tem seus custos. Quando julgamos apenas as notas, China e Singapura se afiguram como grandes modelos para o Brasil; países em que a educação realmente é valorizada. E é verdade, realmente a educação lá é valorizada. Mas quando olhamos para a carga horária asiática (passando facilmente as 12 horas diárias), a privação de lazer e vida social, o estresse absoluto ao qual jovens são submetidos para ser bem colocados no final do ensino médio, e a frustração (às vezes suicida) de quem não atinge o resultado esperado, somos levados a ter um pouco mais de calma. É esse tipo de vida que queremos para nossos jovens? Eu tenho tranquilidade em dizer que não, ainda que isso signifique alguns pontos a menos em matemática e química.
Dito isso, estamos ainda muito longe do ponto em que melhores notas no PISA significariam o sacrifício de outras coisas mais valiosas. Dado o fundo do poço que o Brasil ocupa, precisamos sim de uma política educacional focada em corrigir as deficiências gritantes do nosso ensino e em dar aos alunos o ferramental básico para entender e interagir com o mundo. Habilidades e conhecimentos que são mensuráveis e quantificáveis justamente em exames como o PISA.
Nossa educação precisa de foco. Português, inglês, matemática, pensamento crítico, história. Se isso não está sendo passado, é estritamente irrelevante gastar tempo e recurso dando outros conteúdos. Por isso, a PEC da educação acerta ao reduzir o currículo obrigatório. Dados os discursos disponíveis em um contexto no qual o básico não é provido, é bom que eles sejam pouco dispersos e concentrados justamente em suprir essa básico.
Não precisamos ser uma China, impor uma disciplina asiática de estudo e busca de resultados mensuráveis acima de tudo. Mas um pouco mais desse espírito não nos faria mal nenhum.
Enquanto a política se preocupa exclusivamente com a política, o Brasil segue à deriva. Assim, perdoem-me se, contrariando a regra, não falo do Renan. É que há uma crise ainda mais grave para tratar. Os novos resultados do PISA chegaram, e nós, que já não éramos bons, estamos ainda pior. Dentre a piora geral, a queda em matemática dos alunos brasileiros salta aos olhos: fomos de 391 para 377 pontos. As primeiras posições estão por volta dos 550 pontos.
Não sou do tipo que acha que a educação deva se pautar inteiramente pelos resultados de exames internacionais ou vestibulares. Há muito que eles não medem: originalidade, criatividade, audácia, maturidade, responsabilidade pessoal, autonomia, capacidade de aproveitar a vida.
Além disso, maximizar o resultado no PISA também tem seus custos. Quando julgamos apenas as notas, China e Singapura se afiguram como grandes modelos para o Brasil; países em que a educação realmente é valorizada. E é verdade, realmente a educação lá é valorizada. Mas quando olhamos para a carga horária asiática (passando facilmente as 12 horas diárias), a privação de lazer e vida social, o estresse absoluto ao qual jovens são submetidos para ser bem colocados no final do ensino médio, e a frustração (às vezes suicida) de quem não atinge o resultado esperado, somos levados a ter um pouco mais de calma. É esse tipo de vida que queremos para nossos jovens? Eu tenho tranquilidade em dizer que não, ainda que isso signifique alguns pontos a menos em matemática e química.
Dito isso, estamos ainda muito longe do ponto em que melhores notas no PISA significariam o sacrifício de outras coisas mais valiosas. Dado o fundo do poço que o Brasil ocupa, precisamos sim de uma política educacional focada em corrigir as deficiências gritantes do nosso ensino e em dar aos alunos o ferramental básico para entender e interagir com o mundo. Habilidades e conhecimentos que são mensuráveis e quantificáveis justamente em exames como o PISA.
Nossa educação precisa de foco. Português, inglês, matemática, pensamento crítico, história. Se isso não está sendo passado, é estritamente irrelevante gastar tempo e recurso dando outros conteúdos. Por isso, a PEC da educação acerta ao reduzir o currículo obrigatório. Dados os discursos disponíveis em um contexto no qual o básico não é provido, é bom que eles sejam pouco dispersos e concentrados justamente em suprir essa básico.
Não precisamos ser uma China, impor uma disciplina asiática de estudo e busca de resultados mensuráveis acima de tudo. Mas um pouco mais desse espírito não nos faria mal nenhum.