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O pacto da política contra a sociedade

Fatos não contam nenhuma história. Precisamos interpretá-los, construir alguma narrativa com eles. Mas há limites factuais que a narrativa não pode ultrapassar. E a narrativa petista padrão parece ter se colocado firmemente fora de qualquer limite dos fatos. Inicialmente, as gravações de Sérgio Machado com Romero Jucá apareceram como um trunfo aos que são contrários […]

DR

Da Redação

Publicado em 26 de maio de 2016 às 13h00.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 17h57.

Fatos não contam nenhuma história. Precisamos interpretá-los, construir alguma narrativa com eles. Mas há limites factuais que a narrativa não pode ultrapassar. E a narrativa petista padrão parece ter se colocado firmemente fora de qualquer limite dos fatos.

Inicialmente, as gravações de Sérgio Machado com Romero Jucá apareceram como um trunfo aos que são contrários ao impeachment: então havia realmente um pacto para barrar as investigações da Lava-Jato. A alegria petista durou pouco: no dia seguinte já ficara claro que o pacto incluía o PT de maneira geral e Lula em particular, e que a própria presidente afastada estava nas negociações.

Quem se opõe ao PT tem uma vantagem clara nessa história: a de não assinar embaixo de nenhuma figura da oposição, seja Temer, Cunha ou Aécio. Ninguém que defende o atual governo parte da premissa de que seja limpo ou mesmo bom; apenas menos ruim do que o que vigorava antes.

Seja como for, a briga corre solta pelas redes sociais. Uma briga estranha, em que a mesma investigação que antes era parte do golpe agora é a principal arma contra os golpistas. Em que aliados até anteontem são pessoas indignas de qualquer confiança hoje. Mas o mais estranho é que os representantes desses dois campos lá em Brasília não parecem pensar da mesma maneira que seus defensores pelo resto do Brasil. Uma curiosa cumplicidade – até uma camaradagem? – prevalece entre membros do PT, PMDB e PSDB, como se o “problema” dos dias atuais devesse ser resolvido entre amigos.

Mais do que uma briga de diferentes partidos pelo poder, o que os áudios desta semana revelam é um pacto de toda a classe política brasileira contra a sociedade. Temos representantes que não apenas não nos representam como conspiram contra nós, procurando aliciar os três poderes no engodo nacional.

Felizmente, é um pacto que não se concretizou. Que as gravações tenham vindo a público é prova de que Judiciário e Polícia não estão no jogo e, para desespero dos políticos de todos os lados, continuam trabalhando a todo vapor.

Os dias que correm são traumáticos para nossa democracia, mas dessa crise há de nascer uma sociedade mais madura. Temos testemunhado um processo de aprendizado em velocidade relâmpago: não dá mais para ser corrupto como se era antigamente. A cabeça de juízes e promotores mudou, as tecnologias de obtenção de informação mudaram e as leis mudaram – permitindo, por exemplo, a delação premiada. Nosso maior risco reside na possibilidade de que, sem corrupção, o sistema político se mostre inoperável.

A campanha #QueSeVayanTodos cresce. A pura negatividade é a única força capaz de unir todos os corações desejosos de um mundo melhor. A política, que deveria ser um meio de resolver problemas, agora aparece como o maior dos problemas. E mesmo que recomecemos do zero, fica a impressão de que as regras eleitorais restritivas e a atmosfera viciada dos partidos, que são os únicos meios de acesso à política, impedem a mudança. Quem terá que mudar antes: as leis pelas quais elegemos os políticos ou os políticos que desenham essas leis?

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Fatos não contam nenhuma história. Precisamos interpretá-los, construir alguma narrativa com eles. Mas há limites factuais que a narrativa não pode ultrapassar. E a narrativa petista padrão parece ter se colocado firmemente fora de qualquer limite dos fatos.

Inicialmente, as gravações de Sérgio Machado com Romero Jucá apareceram como um trunfo aos que são contrários ao impeachment: então havia realmente um pacto para barrar as investigações da Lava-Jato. A alegria petista durou pouco: no dia seguinte já ficara claro que o pacto incluía o PT de maneira geral e Lula em particular, e que a própria presidente afastada estava nas negociações.

Quem se opõe ao PT tem uma vantagem clara nessa história: a de não assinar embaixo de nenhuma figura da oposição, seja Temer, Cunha ou Aécio. Ninguém que defende o atual governo parte da premissa de que seja limpo ou mesmo bom; apenas menos ruim do que o que vigorava antes.

Seja como for, a briga corre solta pelas redes sociais. Uma briga estranha, em que a mesma investigação que antes era parte do golpe agora é a principal arma contra os golpistas. Em que aliados até anteontem são pessoas indignas de qualquer confiança hoje. Mas o mais estranho é que os representantes desses dois campos lá em Brasília não parecem pensar da mesma maneira que seus defensores pelo resto do Brasil. Uma curiosa cumplicidade – até uma camaradagem? – prevalece entre membros do PT, PMDB e PSDB, como se o “problema” dos dias atuais devesse ser resolvido entre amigos.

Mais do que uma briga de diferentes partidos pelo poder, o que os áudios desta semana revelam é um pacto de toda a classe política brasileira contra a sociedade. Temos representantes que não apenas não nos representam como conspiram contra nós, procurando aliciar os três poderes no engodo nacional.

Felizmente, é um pacto que não se concretizou. Que as gravações tenham vindo a público é prova de que Judiciário e Polícia não estão no jogo e, para desespero dos políticos de todos os lados, continuam trabalhando a todo vapor.

Os dias que correm são traumáticos para nossa democracia, mas dessa crise há de nascer uma sociedade mais madura. Temos testemunhado um processo de aprendizado em velocidade relâmpago: não dá mais para ser corrupto como se era antigamente. A cabeça de juízes e promotores mudou, as tecnologias de obtenção de informação mudaram e as leis mudaram – permitindo, por exemplo, a delação premiada. Nosso maior risco reside na possibilidade de que, sem corrupção, o sistema político se mostre inoperável.

A campanha #QueSeVayanTodos cresce. A pura negatividade é a única força capaz de unir todos os corações desejosos de um mundo melhor. A política, que deveria ser um meio de resolver problemas, agora aparece como o maior dos problemas. E mesmo que recomecemos do zero, fica a impressão de que as regras eleitorais restritivas e a atmosfera viciada dos partidos, que são os únicos meios de acesso à política, impedem a mudança. Quem terá que mudar antes: as leis pelas quais elegemos os políticos ou os políticos que desenham essas leis?

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