Míriam Leitão e a civilidade perdida
Míriam Leitão contou em sua coluna no O Globo como foi agredida por delegados do PT em um voo comercial, sob total omissão do comandante, da tripulação e das autoridades. Suportou calada o “bullying” de vários representantes partidários – músicas ofensivas, xingamentos e gestos ameaçadores. Ao publicar a coluna relatando o ocorrido, a reação da […]
Publicado em 15 de junho de 2017 às, 15h21.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às, 17h59.
Míriam Leitão contou em sua coluna no O Globo como foi agredida por delegados do PT em um voo comercial, sob total omissão do comandante, da tripulação e das autoridades. Suportou calada o “bullying” de vários representantes partidários – músicas ofensivas, xingamentos e gestos ameaçadores.
Ao publicar a coluna relatando o ocorrido, a reação da imprensa marrom petista – de toda a fauna de blogs criada para defender o partido custe o que custar, e que até o impeachment era mantida com dinheiro público – também foi previsível: tentar desacreditá-la. O curioso é que essas tentativas, como por exemplo o relato de uma professora Lucia Capanema, que estaria no avião, repetem lugares-comuns tão batidos do discurso petista que é impossível imaginar que alguém de fora da igrejinha leve-as a sério. Um exemplo, retirado da conclusão do texto da professora (publicado no site da Revista Forum):
“Você sim, na qualidade de profissional da oligarquia midiática brasileira, se aproveita do episódio para envolver e criminalizar nosso mais querido presidente.
Deixem-no em paz e verão que ele, mais uma vez, fará história em favor das classes que vocês odeiam.”
Além de minar a própria credibilidade para qualquer leitor são, essas palavras nos lembram de um fato importante: embora tenha muitas causas e não se explique de maneira simplista, o clima de polarização raivosa que vivemos hoje foi gestado e parido pelo próprio PT. Quem criou a atmosfera de guerra em que vivemos foi a esquerda petista brasileira, ao se arrogar o monopólio da virtude por décadas. Foi, por décadas, o partido dos éticos incorruptíveis e o único dotado de boas intenções.
Para completar, sua estratégia sempre foi criar “lutas de classe” para, dividindo a população, subir em suas costas. Pobres vs ricos, brancos vs negros, mulheres vs homens. Ódio social como arma retórica e ferramenta política.
Deu no que deu. Quem acreditou nisso: 1) auxiliou involuntariamente o maior esquema de corrupção da nossa história; 2) se acostumou a demonizar todo mundo que discordava dos métodos ou das propostas, jurando que ao fazê-lo agia por amor; 3) criou o delicioso clima em que vivemos agora.
Agora que a religião está em franca decadência, vai dobrar a aposta, hostilizando cada vez mais quem não repete as mentiras oficiais. Os fanáticos estão desesperados. Não vai funcionar. Mas ainda teremos muita baixaria pela frente.
E aqui cabe uma nota no outro sentido: a esquerda criou a divisão e se colocou na defesa daquele que seria o lado explorado, o lado mais fraco. A direita menos sofisticada intelectualmente fez a sua parte e entrou nesse jogo, mas para defender o lado mais forte. E assim é impossível não lembrar que Míriam Leitão já foi insultada antes, e pelo colunista de direita Rodrigo Constantino: ele exigia que ela, tendo divulgado a barbárie da tortura que sofrera pelo regime militar, viesse a público pedir perdão por ter defendido o comunismo. Não foi o melhor momento do articulista!
O que precisamos para acabar com o clima de guerra é uma mudança de atitude. Ninguém tem nada que se envergonhar das posições que defende. Não é crime ser comunista e nem ter sido contra os governos Lula e Dilma. Levar a sério os interlocutores e engajar-se de maneira respeitosa com seus discursos é o dever de qualquer pessoa que queira impactar positivamente a opinião pública. Nem todos os atores e comentaristas são dignos de respeito? Pode ser. Mas nesse caso, a escolha deve ser por não engajá-los.