Justiça vs Parlamento
Temos instalada uma guerra no seio do Estado brasileiro: Legislativo vs. Judiciário. Temas culturais e morais – vaquejada e aborto – são os palcos periféricos de um conflito centrado no combate à corrupção. É duro pintar as coisas nesses tons, mas em poucas palavras: Judiciários (e Ministério Público) é radicalmente contra a corrupção, e Congresso […]
Publicado em 1 de dezembro de 2016 às, 10h57.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às, 18h09.
Temos instalada uma guerra no seio do Estado brasileiro: Legislativo vs. Judiciário. Temas culturais e morais – vaquejada e aborto – são os palcos periféricos de um conflito centrado no combate à corrupção. É duro pintar as coisas nesses tons, mas em poucas palavras: Judiciários (e Ministério Público) é radicalmente contra a corrupção, e Congresso é a favor. Ou melhor, o Congresso quer ao menos não ser dizimado pelos atos de corrupção que, antes da Lava-Jato, eram a regra universal e inconteste da política brasileira.
O fiel dessa balança é a população, que por enquanto está inequivocamente do lado do Judiciário. Não sobrou um herói sequer em nossa política, um objeto de admiração e amor; e sobram os de ódio. Já no Poder que não é eleito, aí sim o povo se vê representado: primeiro foi Joaquim Barbosa, o justiceiro do Mensalão; agora Sergio Moro e o procurador Deltan Dallagnol, paladinos da ética e da probidade, tomam o pedestal.
Sem dúvida, a Justiça começa com larga vantagem, porque nossos parlamentares têm muito a esconder. Agora será que as mesas podem virar? Dallagnol deu um passo em falso ao pisar fora de sua área: foi fazer política. Declarou que, se o crime de abuso de autoridade passar, ele e sua equipe renunciarão coletivamente da Lava-Jato. Essa bravata só mostrou fraqueza e gerou perplexidade.
Seja como for, o fato é que submeter procuradores e juízes à acusação de abuso de autoridade será um duro golpe contra quaisquer investigações futuras. É uma verdadeira pauta pró-corrupção que precisará ser vencida se tivermos alguma esperança de limpar nossa política.
A opção que se coloca na nossa frente, contudo, não é tão simples quanto o discurso moralista fácil faz parecer. Sim, todos somos contrários à corrupção. Mas se formos seguir à risca, perseguindo sem trégua inclusive todas as instâncias passadas de caixa 2, provavelmente não sobra ninguém. Sem caixa 2 não se ganhava eleição; quem ocupa hoje o Legislativo e o Executivo venceu eleição. Logo…
Queremos fazer terra arrasada do cenário político nacional? A proposta é tentadora, mas não necessariamente sábia. No mínimo, temos que ter alguma ideia de quem queremos no lugar dos que aí estão. Imaginar de forma vaga que chegarão pessoas honestas e sensatas para nos representar em 2018 é de uma ingenuidade perversa. O campo estará aberto para militantes, malucos e, se a desordem institucional for longe demais, militares.
Estou partidário da Justiça, vou para a rua no dia 04, considero o crime de abuso de autoridade tal como querem passá-lo um verdadeiro crime contra a ética nacional. Mas vou de olhos abertos; uma república de juízes justiceiros também não interessa a uma nação livre.