Há esperança para os moderados nos EUA?
O idealismo revolucionário de Sanders e o pragmatismo moderado de Biden lutam pela chance de concorrer com Trump nas eleições presidenciais
Da Redação
Publicado em 11 de março de 2020 às 15h29.
As primárias Democratas se afunilaram e, embora uma esperançosa Tulsi Gabbard continue formalmente na corrida, a escolha para os eleitores que querem derrotar Trump em novembro chegou a dois nomes: Bernie Sanders e Joe Biden. Idealismo revolucionário versus pragmatismo moderado (embora, no que diz respeito às propostas, ambos estejam à esquerda do que costumava ser o padrão Democrata).
Na eleição presidencial, representam estratégias opostas para vencer Trump: Biden apela para moderados e eleitores sem fortes convicções ideológicas. A estratégia de Sanders é mobilizar a base de esquerda Democrata a ir votar. O raciocínio é que, com a polarização do país, o eleitor moderado – que pode ir para um lado ou outro – perdeu importância. Como os jovens com ensino superior e trabalhadores brancos amam Sanders, é mais provável que se animem a votar em vez de ficar em casa no dia da eleição.
Por enquanto, as primárias têm sido um balde de água fria nessa expectativa, especialmente depois da super-terça. Onde se esperava que Biden ganhasse tranquilamente (Alabama, Virgínia, Carolina do Sul), ele triturou Sanders; aqui, o voto negro pesou muito. Conseguiu prevalecer num estado ambivalente, o Texas. E ainda levou estados que todo mundo achava que iriam para Sanders: Massachusetts, Maine e Minnesota, que votou em Hillary em 2016 por uma margem pequena e corre o risco de ir para Trump se o candidato Democrata não for forte. Mesmo em estados onde Bernie venceu, como Iowa, isso não se deveu a uma participação maior do eleitorado.
Biden é agora o favorito. Nas primárias de terça, seu voto veio em grande parte de eleitores que se decidiram apenas nos últimos dias; ou seja, pessoas sem alinhamento claro a um projeto, que provavelmente preferem um pragmático viável a embarcar num sonho utópico.
Sanders ainda tem o trunfo de ir melhor com o eleitorado branco proletário, que elegeu Trump em estados-chave. Mas o próprio radicalismo de suas propostas o atrapalha. Ele é a favor de proibir a extração de gás xisto. É uma atividade econômica importante em um estado como a Pennsylvania, que Trump levou em 2016 e que os Democratas precisam reconquistar.
Seus comentários relativizando a ditadura cubana, vendo méritos na política educacional de Fidel (compreensíveis na análise de um acadêmico, não na fala de um candidato à presidência americana em campanha) sem dúvida não o ajudarão na Flórida, onde Biden é franco favorito na primária em 17 de março.
Michigan, que é um estado em disputa na corrida presidencial, será um bom teste de ambos, e pelas pesquisas será uma disputa acirrada. Sua primária é na terça-feira dia 10. No entanto, salvo alguma enorme reviravolta, Biden tem caminho aberto.
O grande argumento contra Biden é que ele é basicamente um repeteco da estratégia perdedora de Hillary em 2016. As respostas plausíveis contra isso são: ele é homem (machismo pode ter um efeito nas votações), é mais carismático e menos antipático que Hillary, e os Democratas agora não estão tão certos de sua vitória, o que pode os levar às urnas em números maiores. Além disso, se Sanders for o candidato, sua rejeição pode ter o efeito contrário de aumentar a participação de eleitores de Trump, desesperados com a ideia de um “socialista” chegar ao poder.
É certo que o establishment Democrata se uniu para ajudar Biden, mas não fez absolutamente nada fora das regras. Apoiar candidatos é parte do jogo, e se Biden ganhou em tantos estados foi porque os eleitores preferiram ele. Há um argumento plausível de que, se Sanders tiver uma pluralidade sólida mas não uma maioria absoluta de delegados, e o Partido Democrata usar o voto dos superdelegados para indicar Biden, isso danificaria tanto a imagem do partido que reduziria suas chances de vencer Trump. Seria, no mínimo, muito feio.
Acontece que o Partido talvez não tenha que fazer isso: há muito jogo pela frente, mas está claro que o centro pragmático pode ser mais popular que a utopia revolucionária, mesmo entre as parcelas mais engajadas da população. Ele sem dúvida entrega mais resultados. Será que a razoabilidade ainda tem chances no século 21?
As primárias Democratas se afunilaram e, embora uma esperançosa Tulsi Gabbard continue formalmente na corrida, a escolha para os eleitores que querem derrotar Trump em novembro chegou a dois nomes: Bernie Sanders e Joe Biden. Idealismo revolucionário versus pragmatismo moderado (embora, no que diz respeito às propostas, ambos estejam à esquerda do que costumava ser o padrão Democrata).
Na eleição presidencial, representam estratégias opostas para vencer Trump: Biden apela para moderados e eleitores sem fortes convicções ideológicas. A estratégia de Sanders é mobilizar a base de esquerda Democrata a ir votar. O raciocínio é que, com a polarização do país, o eleitor moderado – que pode ir para um lado ou outro – perdeu importância. Como os jovens com ensino superior e trabalhadores brancos amam Sanders, é mais provável que se animem a votar em vez de ficar em casa no dia da eleição.
Por enquanto, as primárias têm sido um balde de água fria nessa expectativa, especialmente depois da super-terça. Onde se esperava que Biden ganhasse tranquilamente (Alabama, Virgínia, Carolina do Sul), ele triturou Sanders; aqui, o voto negro pesou muito. Conseguiu prevalecer num estado ambivalente, o Texas. E ainda levou estados que todo mundo achava que iriam para Sanders: Massachusetts, Maine e Minnesota, que votou em Hillary em 2016 por uma margem pequena e corre o risco de ir para Trump se o candidato Democrata não for forte. Mesmo em estados onde Bernie venceu, como Iowa, isso não se deveu a uma participação maior do eleitorado.
Biden é agora o favorito. Nas primárias de terça, seu voto veio em grande parte de eleitores que se decidiram apenas nos últimos dias; ou seja, pessoas sem alinhamento claro a um projeto, que provavelmente preferem um pragmático viável a embarcar num sonho utópico.
Sanders ainda tem o trunfo de ir melhor com o eleitorado branco proletário, que elegeu Trump em estados-chave. Mas o próprio radicalismo de suas propostas o atrapalha. Ele é a favor de proibir a extração de gás xisto. É uma atividade econômica importante em um estado como a Pennsylvania, que Trump levou em 2016 e que os Democratas precisam reconquistar.
Seus comentários relativizando a ditadura cubana, vendo méritos na política educacional de Fidel (compreensíveis na análise de um acadêmico, não na fala de um candidato à presidência americana em campanha) sem dúvida não o ajudarão na Flórida, onde Biden é franco favorito na primária em 17 de março.
Michigan, que é um estado em disputa na corrida presidencial, será um bom teste de ambos, e pelas pesquisas será uma disputa acirrada. Sua primária é na terça-feira dia 10. No entanto, salvo alguma enorme reviravolta, Biden tem caminho aberto.
O grande argumento contra Biden é que ele é basicamente um repeteco da estratégia perdedora de Hillary em 2016. As respostas plausíveis contra isso são: ele é homem (machismo pode ter um efeito nas votações), é mais carismático e menos antipático que Hillary, e os Democratas agora não estão tão certos de sua vitória, o que pode os levar às urnas em números maiores. Além disso, se Sanders for o candidato, sua rejeição pode ter o efeito contrário de aumentar a participação de eleitores de Trump, desesperados com a ideia de um “socialista” chegar ao poder.
É certo que o establishment Democrata se uniu para ajudar Biden, mas não fez absolutamente nada fora das regras. Apoiar candidatos é parte do jogo, e se Biden ganhou em tantos estados foi porque os eleitores preferiram ele. Há um argumento plausível de que, se Sanders tiver uma pluralidade sólida mas não uma maioria absoluta de delegados, e o Partido Democrata usar o voto dos superdelegados para indicar Biden, isso danificaria tanto a imagem do partido que reduziria suas chances de vencer Trump. Seria, no mínimo, muito feio.
Acontece que o Partido talvez não tenha que fazer isso: há muito jogo pela frente, mas está claro que o centro pragmático pode ser mais popular que a utopia revolucionária, mesmo entre as parcelas mais engajadas da população. Ele sem dúvida entrega mais resultados. Será que a razoabilidade ainda tem chances no século 21?