A eleição será mais civilizada sem Lula
Ausência de ex-presidente amenizará debates e dará mais luz às propostas de candidatos
Publicado em 1 de fevereiro de 2018 às, 09h25.
Última atualização em 2 de fevereiro de 2018 às, 17h01.
A retirada do nome de Lula da campanha para presidente seria um benefício enorme para o Brasil. E não estou falando isso pensando na possibilidade de ele virar presidente. Bom ou mau presidente, o Lula candidato necessariamente polariza a discussão e nos afasta de tudo aquilo que importa discutir sobre o Brasil.
Com Lula, estamos na guerra do bem contra o mal, um lado acusando o outro e jurando para o eleitorado que o adversário tem intenções maléficas. Será um 2014 piorado, com ainda mais mentiras. Lula precisa desse discurso porque, sem ele, o óbvio fica incontornável: ele é mais um político corrupto, que chefiou um esquema de poder que se utilizou de diversos meios ilícitos. Não há uma conspiração nacional contra ele (a única que existiu, aliás, foi o acordo de políticos para barrar a Lava-Jato, e essa era a favor de Lula), há apenas o curso normal das instituições.
Sem Lula, quem quer que seja seu sucessor não terá o brilho do ex-presidente, e nem provocará tanto ódio em quem não gosta dele. Herdará seu discurso de cuidado dos pobres e demonização do outro lado, mas atrairia muito menos a atenção geral. O debate ficará menos quente, podendo, quem sabe, ter mais luz. O par de Lula no jogo da polarização, Bolsonaro, ficará também abalado, pois sua razão de ser deixa de existir. Não será uma guerra contra um malvado da esquerda, e sim um pleito com diversos nomes e diferentes posições, cenário em que Bolsonaro não tem tanto destaque. Será mais fácil discernir diferentes propostas para o Brasil.
Dentre as opções que restam, três merecem destaque. O primeiro é Ciro Gomes, que herdará parte dos votos que iriam para Lula. Ciro carrega a tocha da esquerda populista. Por populista eu quero dizer: propõe uma solução mágica (e desastrosa) para o problema fiscal brasileiro – o calote parcial da dívida pública (sob o nome de “auditoria”). O segundo é Geraldo Alckmin, que traz a capacidade de gestão como seu ponto forte – visível nos bons resultados do estado de São Paulo. E a terceira é Marina Silva (que também pega votos de Lula), única candidata que coloca valores no centro de debate, e une uma proposta econômica liberal a preocupação social e ambiental.
Confesso que, para mim, um segundo turno entre Alckmin e Marina seria um sonho – dado o atual cenário. Centro-direita e centro-esquerda responsáveis, bem assessorados, trazendo visões diferentes mas plausíveis para a mesa. De um lado, gestão, governabilidade, capacidade de obter resultados, capitalismo. Do outro, sustentabilidade, liderança baseada em valores e uma nova forma de fazer política.
Há muito mais em jogo do que apenas ideias e valores numa eleição. Mas eles importam em alguma medida. João Doria, por exemplo, soube captar uma aspiração de trabalho e sucesso em São Paulo, que catapultou uma campanha que nasceu desacreditada para a vitória em primeiro turno. O político é também um produto, e tem que engrenar com os desejos do povo. O que será que o Brasil deseja agora? Vamos botar a máquina para funcionar ou vamos mudar de tecnologia? Não há resposta certa, aqui. Há uma divergência de visões.
Dito isso, é claro que estou apenas sonhando. Lula não está, ainda, fora da campanha. E deve continuar fazendo campanha tanto quanto for possível para favorecer seu sucessor na candidatura. E, apesar da total falta de proposta para além do terrorismo eleitoral, tem boas chances de colocá-lo no segundo turno. Será feio, mas não tão feio quanto um candidato condenado e à espera da prisão. Aos poucos, as coisas funcionam. Pena que andem tão devagar.