A implosão espetacular do governo Bolsonaro
Assistimos a um presidente que não consegue ter liderança nem mesmo no seu próprio partido, todo ele composto de pessoas que se elegeram graças a ele
Publicado em 18 de outubro de 2019 às, 18h02.
Última atualização em 18 de outubro de 2019 às, 18h40.
Cabe notar, em primeiro lugar, que as forças políticas de esquerda não têm formado uma oposição efetiva ao governo Bolsonaro. Seja no campo das propostas – para as quais não têm alternativas -, seja no campo do jogo político, a esquerda parece perdida. Muita discussão sobre o candidato de 2022, muito #LulaLivre, e nada mais.
A completa bagunça e a desmoralização na qual o governo caiu, portanto, é obra toda sua. Bolsonaro elegeu sozinho a segunda maior bancada partidária do Congresso, mas o amontoado de oportunistas desconhecidos que compõem o PSL (eleitos por tirarem foto com Bolsonaro, fazerem sinal de arminha, gritarem slogans de direita) lhe está dando mais dor de cabeça que o PT.
A origem do problema está no laranjal, evidências sérias de que o partido desviou fundos que deveriam ir para candidatas mulheres, usadas como laranjas. Até agora, nada indica que essa prática tenha partido do presidente, que estava distante da administração partidária. Faz parte, contudo, do risco de uma estratégia que envolve escolher uma legenda de aluguel para surfar uma onda de popularidade.
O que veio depois disso, aí sim, é responsabilidade mais direta do presidente. Em primeiro lugar, manter como ministro o principal suspeito de todo o esquema, Marcelo Álvaro Antônio. Em segundo, tentar, de maneira leal com seus correligionários, manter a boa relação com o partido ao mesmo tempo em que buscou descolar sua imagem pública – seu principal ativo – da imagem do partido.
Quando isso ficou claro – no famoso vídeo em que Bolsonaro pede para o um apoiador apagar a referência a Bivar e PSL, pois estariam queimados -, o presidente Luciano Bivar ameaçou retaliar. Com isso, Bolsonaro tentou tirar a liderança do partido da Câmara das mãos do Delegado Waldir, aliado de Bivar, e dá-la a seu filho.
Para Eduardo Bolsonaro, a liderança do PSL seria ótima por dois motivos: dar-lhe uma posição de destaque e dar-lhe um bom pretexto para que ele abra mão da embaraçosa nomeação para embaixador em Washington. Para azar dele, contudo, não era para ser. Na briga das listas – que contou com 4 deputados que assinaram ambas, embora jurem serem fieis seguidores de Bolsonaro fingindo fazer jogo duplo – Bolsonaro perdeu. Com a suspensão imediata de alguns parlamentares pró-Bolsonaro, fica ainda mais improvável que Eduardo consiga uma lista de votos para depor Waldir.
Assistimos a um presidente que não apenas não consegue emplacar seus (poucos) projetos no Congresso. Ele não consegue ter liderança nem mesmo no seu próprio partido, todo ele composto de pessoas que se elegeram graças ao presidente. E isso mesmo com a oferta de cargos e verbas que o presidente citou no áudio que foi gravado e vazado à imprensa.
O esquema sujo de militância virtual – comandado, ao que tudo indica, pelo assessor do presidente Filipe Martins – vem sendo desbaratado e desmoralizado. Ninguém se intimida mais com as tais “milícias virtuais”. Os aliados do presidente caem ou brigam, um a um. Quem diria que Joice Hasselman e Alexandre Frota, em menos de um ano, já seriam inimigos? O presidente se vê coagido a pular nos braços sempre abertos do MDB, que aceitou de bom grado a indicação de Eduardo Gomes como o novo líder do governo no Congresso.
Em meio a tudo isso, a economia continua dando sinais positivos. Reforça-se o diagnóstico de que vivemos uma recuperação paulatina. Emprego subindo (CAGED registrou o melhor setembro desde 2013), juros baixos. Neste ano andamos de lado, mas a perspectiva é de crescimento para o ano que vem. A equipe econômica do governo tem seu mérito aí, ainda que as mudanças bombásticas anunciadas lá atrás não estejam vindo com a velocidade prometida (vide a reforma da previdência, o tal R$1 tri de privatizações, o superávit no primeiro ano etc). O sucesso econômico, se acelerar e durar até 2022, é o que pode salvar o governo. Em praticamente todo o resto, é só bagunça e destruição. Não seria o momento de o governo colocar seu foco no que é bom e deixar de lado o que vai mal?