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Quanto vale a Petrobras?

“… Portanto, a verdade é que o valor da ação ainda vai oscilar fortemente, até que se possa ter um pouco mais de certeza do que se apresenta para ela no futuro. Isso simplesmente quer dizer que, passada a tempestade, deveremos voltar à nossas calculadoras para estimar, em bases mais sólidas, quanto vale a Petrobras“. As primeiras entrevistas e comunicados do novo presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, geram algumas (para […] Leia mais

DR

Da Redação

Publicado em 12 de fevereiro de 2015 às 11h55.

Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às 08h08.

“…Portanto, a verdade é que o valor da ação ainda vai oscilar fortemente, até que se possa ter um pouco mais de certeza do que se apresenta para ela no futuro. Isso simplesmente quer dizer que, passada a tempestade, deveremos voltar à nossas calculadoras para estimar, em bases mais sólidas, quanto vale a Petrobras“.

As primeiras entrevistas e comunicados do novo presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, geram algumas (para não dizer muitas) dúvidas quanto ao futuro da empresa. Entre outros temas abordados por ele, selecionei alguns para os quais não obtive respostas coerentes.

Na opinião de Bendine, o fato de que 70% da dívida da Petrobras esteja indexada ao dólar não é problema…

Dúvidas sobre a Petrobras

A companhia tem uma dívida aproximada de US$ 330 bi. 70% dessa dívida equivale a US$ 231 bi; parcela que estaria indexada ao dólar. Com a recente alta do dólar, saindo de um patamar na faixa de R$ 2,75/US$ para R$ 2,85/US$, a dívida atrelada ao dólar aumentou em aproximadamente 4%. Ou seja, ela passa de US$ 231 bi para US$ 240,2 bi; resultando em um aumento de US$ 9,24 Bi.

Se projetarmos um dólar valendo R$ 3,00 em breve – apesar das estimativas variarem de R$ 3,20 a R$ 3,50/US$ -. a dívida total da Petrobras chegará a US$ 351 bi, com aumento de cerca de US$ 21 bi. Vale lembrar que o valor estimado do dólar utilizado no cálculo foi de apenas R$ 3,00.

A pergunta que fica é: nesse caso, a dívida ainda seria um problema administrável? O grau de alavancagem da empresa (dívida frente a sua geração de caixa) ainda lhe conferiria o status de grau de investimento junto às agências internacionais de rating?

Outra questão pertinente é referente à diminuição do valor investido pela Petrobras, necessário para adequação à geração de caixa da empresa. O plano de investimento para 2014-2018 montava a US$ 206,8 bi. Algo em torno de US$ 43,6 bi/ano. Para quanto ele será reduzido?

Vale lembrar que o próprio Bendine afirmou que o foco dos investimentos continuará na área de exploração de petróleo. Ou seja, a companhia continuará a privilegiar o Pré-sal em detrimento da área de refino. Entretanto, vale observar que o Pré-sal é um projeto de longo prazo e que não se pode prever qual será a cotação do petróleo extraído de lá ao final desse período…

Poderá ser totalmente inviável para a companhia manter a extração de petróleo do Pré-sal dependendo dos níveis do preço do petróleo. Isso significa que, conforme a teoria de finanças, deverá se abandonar o projeto – sem considerar seus custos afundados (sunk costs). Será que o governo teria coragem de encerrar o Pré-sal?!?

Fala-se que o ponto de equilíbrio seria algo na faixa dos US$ 30/barril. Nada impede, por exemplo, que ele venha a US$ 18, US$ 20/barril – ou até mais baixo como já esteve em várias ocasiões. Novas tecnologias, entre outros fatores irão impactar (como já impactam) o seu preço no futuro. E aí, como é que fica?

E mais, qual é a real possibilidade de reduzir os maciços investimentos (conforme disse o presidente da Petrobras) que já vêm sendo realizados há alguns anos, sem prejudicar ou mesmo inviabilizar o término daquilo que já havia começado? Seja na área da exploração (Pré-sal) ou do refino. Será que dá para parar uma locomotiva à toda a velocidade sem causar estragos?!?!

Existem uma infinidade de questões a serem respondidas para se concluir a respeito da situação financeira e/ou econômica da empresa. Uma delas diz respeito aos valores a serem baixados de seu balanço – vulgos esqueletos -, ou mesmo referentes a prejuízos ocultos decorrentes do esquema de corrupção existente na empresa nos últimos anos.

A metodologia aceita internacionalmente para se avaliar os ativos de uma empresa faz parte das normas do IFR (International Financial Group). A Petrobras tem que segui-las por determinação da CVM e do Conselho Federal de Contabilidade. Assim, quando a auditoria habilitada pela CVM confere se foram empregados corretamente os cálculos do chamado valor justo do ativo, e também se foi aplicada corretamente a metodologia de cálculo do Impairment (teste de imparidade) e não aceita publicar o balanço é porque não aceita esses valores… Em português claro: ela não “assina em baixo”. E foi exatamente isso o que fez… e que está gerando todo esse atraso na publicação do balanço.

O valor de US$ 88 bi de ativos sobrevalorizados ventilado no mercado pode até ser excessivo, mas não dá para se fazer nenhuma aposta em relação a esse valor. “Não basta que a mulher de Cesar seja honesta (ou séria), ela deve parecer honesta (ou séria)”… Será que outro valor a ser divulgado pela empresa seria confiável? Será que alguma outra auditoria aceitaria “assinar em baixo” de um balanço a respeito do qual tem dúvidas?

A correta avaliação dos ativos (e dos passivos) de uma empresa é fundamental para chegar ao valor contábil de seu patrimônio líquido. No verdade, sabemos que o valor da empresa não tem relação direta com isso, mas pode-se ter uma ideia mais precisa e, consequentemente, poderá se avaliar melhor a sua capacidade financeira, e seus indicadores financeiros analíticos para se chegar ao real valor da companhia no mercado.

Conclusão: sem uma estimativa correta do valor do ativo (e do passivo) da empresa, sua análise e determinação do valor de mercado fica comprometida.

Por fim, mas não menos importante, o aspecto que está relacionado à capacidade financeira da empresa para continuar “tocando” sua operação. Pelo visto, Bendine descarta uma nova capitalização (venda de novas ações) da Petrobras. Diz ele que irá analisar a abertura de capital de empresas nas quais a Petrobras tenha 100% do capital, como a BR Distribuidora…

O problema é grana. A Petrobras precisa, desesperadamente de caixa para suas operações. A rigor, para efeito de valor da ação, tanto faria lançar ações da Petrobras ou da BR Distribuidora, porque a BR já está dentro do valuation da Petrobras. Aqui valeria a máxima: a soma das partes é maior que o todo. Será mesmo? O Spin off pretendido por ele talvez até prejudique o valor da ação da Petrobras no mercado…

Portanto, a verdade é que o valor da ação ainda vai oscilar fortemente, até que se possa ter um pouco mais de certeza do que se apresenta para ela no futuro. Isso simplesmente quer dizer que, passada a tempestade, deveremos voltar à nossas calculadoras para estimar, em bases mais sólidas, quanto vale a Petrobras.

Acesse também:

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“…Portanto, a verdade é que o valor da ação ainda vai oscilar fortemente, até que se possa ter um pouco mais de certeza do que se apresenta para ela no futuro. Isso simplesmente quer dizer que, passada a tempestade, deveremos voltar à nossas calculadoras para estimar, em bases mais sólidas, quanto vale a Petrobras“.

As primeiras entrevistas e comunicados do novo presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, geram algumas (para não dizer muitas) dúvidas quanto ao futuro da empresa. Entre outros temas abordados por ele, selecionei alguns para os quais não obtive respostas coerentes.

Na opinião de Bendine, o fato de que 70% da dívida da Petrobras esteja indexada ao dólar não é problema…

Dúvidas sobre a Petrobras

A companhia tem uma dívida aproximada de US$ 330 bi. 70% dessa dívida equivale a US$ 231 bi; parcela que estaria indexada ao dólar. Com a recente alta do dólar, saindo de um patamar na faixa de R$ 2,75/US$ para R$ 2,85/US$, a dívida atrelada ao dólar aumentou em aproximadamente 4%. Ou seja, ela passa de US$ 231 bi para US$ 240,2 bi; resultando em um aumento de US$ 9,24 Bi.

Se projetarmos um dólar valendo R$ 3,00 em breve – apesar das estimativas variarem de R$ 3,20 a R$ 3,50/US$ -. a dívida total da Petrobras chegará a US$ 351 bi, com aumento de cerca de US$ 21 bi. Vale lembrar que o valor estimado do dólar utilizado no cálculo foi de apenas R$ 3,00.

A pergunta que fica é: nesse caso, a dívida ainda seria um problema administrável? O grau de alavancagem da empresa (dívida frente a sua geração de caixa) ainda lhe conferiria o status de grau de investimento junto às agências internacionais de rating?

Outra questão pertinente é referente à diminuição do valor investido pela Petrobras, necessário para adequação à geração de caixa da empresa. O plano de investimento para 2014-2018 montava a US$ 206,8 bi. Algo em torno de US$ 43,6 bi/ano. Para quanto ele será reduzido?

Vale lembrar que o próprio Bendine afirmou que o foco dos investimentos continuará na área de exploração de petróleo. Ou seja, a companhia continuará a privilegiar o Pré-sal em detrimento da área de refino. Entretanto, vale observar que o Pré-sal é um projeto de longo prazo e que não se pode prever qual será a cotação do petróleo extraído de lá ao final desse período…

Poderá ser totalmente inviável para a companhia manter a extração de petróleo do Pré-sal dependendo dos níveis do preço do petróleo. Isso significa que, conforme a teoria de finanças, deverá se abandonar o projeto – sem considerar seus custos afundados (sunk costs). Será que o governo teria coragem de encerrar o Pré-sal?!?

Fala-se que o ponto de equilíbrio seria algo na faixa dos US$ 30/barril. Nada impede, por exemplo, que ele venha a US$ 18, US$ 20/barril – ou até mais baixo como já esteve em várias ocasiões. Novas tecnologias, entre outros fatores irão impactar (como já impactam) o seu preço no futuro. E aí, como é que fica?

E mais, qual é a real possibilidade de reduzir os maciços investimentos (conforme disse o presidente da Petrobras) que já vêm sendo realizados há alguns anos, sem prejudicar ou mesmo inviabilizar o término daquilo que já havia começado? Seja na área da exploração (Pré-sal) ou do refino. Será que dá para parar uma locomotiva à toda a velocidade sem causar estragos?!?!

Existem uma infinidade de questões a serem respondidas para se concluir a respeito da situação financeira e/ou econômica da empresa. Uma delas diz respeito aos valores a serem baixados de seu balanço – vulgos esqueletos -, ou mesmo referentes a prejuízos ocultos decorrentes do esquema de corrupção existente na empresa nos últimos anos.

A metodologia aceita internacionalmente para se avaliar os ativos de uma empresa faz parte das normas do IFR (International Financial Group). A Petrobras tem que segui-las por determinação da CVM e do Conselho Federal de Contabilidade. Assim, quando a auditoria habilitada pela CVM confere se foram empregados corretamente os cálculos do chamado valor justo do ativo, e também se foi aplicada corretamente a metodologia de cálculo do Impairment (teste de imparidade) e não aceita publicar o balanço é porque não aceita esses valores… Em português claro: ela não “assina em baixo”. E foi exatamente isso o que fez… e que está gerando todo esse atraso na publicação do balanço.

O valor de US$ 88 bi de ativos sobrevalorizados ventilado no mercado pode até ser excessivo, mas não dá para se fazer nenhuma aposta em relação a esse valor. “Não basta que a mulher de Cesar seja honesta (ou séria), ela deve parecer honesta (ou séria)”… Será que outro valor a ser divulgado pela empresa seria confiável? Será que alguma outra auditoria aceitaria “assinar em baixo” de um balanço a respeito do qual tem dúvidas?

A correta avaliação dos ativos (e dos passivos) de uma empresa é fundamental para chegar ao valor contábil de seu patrimônio líquido. No verdade, sabemos que o valor da empresa não tem relação direta com isso, mas pode-se ter uma ideia mais precisa e, consequentemente, poderá se avaliar melhor a sua capacidade financeira, e seus indicadores financeiros analíticos para se chegar ao real valor da companhia no mercado.

Conclusão: sem uma estimativa correta do valor do ativo (e do passivo) da empresa, sua análise e determinação do valor de mercado fica comprometida.

Por fim, mas não menos importante, o aspecto que está relacionado à capacidade financeira da empresa para continuar “tocando” sua operação. Pelo visto, Bendine descarta uma nova capitalização (venda de novas ações) da Petrobras. Diz ele que irá analisar a abertura de capital de empresas nas quais a Petrobras tenha 100% do capital, como a BR Distribuidora…

O problema é grana. A Petrobras precisa, desesperadamente de caixa para suas operações. A rigor, para efeito de valor da ação, tanto faria lançar ações da Petrobras ou da BR Distribuidora, porque a BR já está dentro do valuation da Petrobras. Aqui valeria a máxima: a soma das partes é maior que o todo. Será mesmo? O Spin off pretendido por ele talvez até prejudique o valor da ação da Petrobras no mercado…

Portanto, a verdade é que o valor da ação ainda vai oscilar fortemente, até que se possa ter um pouco mais de certeza do que se apresenta para ela no futuro. Isso simplesmente quer dizer que, passada a tempestade, deveremos voltar à nossas calculadoras para estimar, em bases mais sólidas, quanto vale a Petrobras.

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