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O governo deveria comprar ações da Petrobras?

“… No final das contas, gostaria de saber o que uma pessoa com ideias de tal magnitude e soluções tão inovadoras faz no conselho de administração da Petrobras; penso que ele deveria se candidatar a presidente da república… porque, afinal, o Brasil é o país do carnaval e ele não seria o primeiro representante dos trabalhadores a assumir a presidência do país…“. Viva a Petrobras!!! Ela tem se mostrado uma […] Leia mais

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Investidor em Ação

Publicado em 26 de fevereiro de 2015 às, 17h50.

Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às, 08h08.

… No final das contas, gostaria de saber o que uma pessoa com ideias de tal magnitude e soluções tão inovadoras faz no conselho de administração da Petrobras; penso que ele deveria se candidatar a presidente da república… porque, afinal, o Brasil é o país do carnaval e ele não seria o primeiro representante dos trabalhadores a assumir a presidência do país…“.

Viva a Petrobras!!! Ela tem se mostrado uma fonte inesgotável de posts para mim. O última notícia que circulou no mercado diz respeito à possibilidade da estatal ter parte de suas ações compradas pelo governo na bolsa, com recursos oriundos das reservas internacionais do Brasil.

Petrobras e as reservas externas

É isso mesmo! Você não leu errado e nem eu estou inventando isso. Pode-se atribuir essa ideia genial ao Sr. Sílvio Sinedino, membro do conselho de administração da companhia, onde representa os funcionários da Petrobras – vide notícia do jornal Valor Econômico no link

http://www.valor.com.br/empresas/3926426/conselheiro-diz-que-governo-deveria-comprar-acoes-da-petrobras

É difícil imaginar o que se passa na cabeça desse indivíduo para sugerir tal coisa. Parece que ele não tem noção do porquê da constituição de reservas externas para um país. A impressão que dá é que ao ver o volume das gordas reservas externas brasileiras, na casa dos US$ 380 bilhões, tenha pensado: “se gastarmos uns poucos bilhões dessas reservas para comprar ações da Petrobras na bolsa de valores, não iremos comprometê-las e, ao mesmo tempo, faríamos com que as ações se valorizassem, beneficiando a todos…”

Pergunto: não irá comprometer as reservas internacionais? vai beneficiar a todos?

Quanto às reservas internacionais, primeiro seria necessário ele saber para o que elas servem e o porquê de sua formação. Uma ideia bem básica em contabilidade nacional é que elas servem para “fechar” o balanço de pagamentos do país. Se a quantidade de dólares pagos e/ou enviados ao exterior é superior ao recebido em determinado período (normalmente anual) será necessário que o país saque de suas reservas externas para cumprir com seus compromissos – em moeda estrangeira – com o resto do mundo. Por outro lado, se acontece o inverso, então serão acumuladas mais reservas externas pelo país.

Além disso, em países de moeda fraca (que não é uma divisa internacional) como o Brasil, o montante de suas reservas internacionais mostra se ele tem capacidade de absorver eventuais choques externos sem literalmente “quebrar”. Em muitos casos, a simples percepção pelo mercado de que há uma posição frágil dos fundamentos da economia do país, ou mesmo das reservas externas internacionais, faz com que o câmbio daquele país sofra uma maxidesvalorização. Isso não nos faz lembrar de algo?

Portanto, dá para perceber que o seu montante significa uma medida da credibilidade (ou não) do país junto ao resto do mundo. De qualquer forma, o uso e abuso dessas reservas seria um tanto quanto irresponsável por parte do governo. O que mostra que o ilustre conselheiro não entende nada a respeito da dinâmica de mercado. Desconfio, inclusive, que não entenda sequer o significado das palavras confiança e credibilidade.

Já no caso da questão de beneficiar a todos, não há o que argumentar. Vai beneficiar exclusivamente aos acionistas da Petrobras, que carregam tremendo prejuízo em suas carteiras em decorrência da forte queda – justificável – das ações da companhia.

Assim, o que o ilustre conselheiro está propondo é que se beneficie alguns (acionistas da Petrobras), em detrimento de outros (população brasileira em geral). Novamente, seja em economia ou em qualquer outro campo de estudo (Direito, Sociologia etc.) há que se falar em justiça, igualdade e isonomia. A proposta de nosso amigo fere mortalmente todos esses aspectos: justiça, igualdade, isonomia.

No final das contas, gostaria de saber o que uma pessoa com ideias de tal magnitude e soluções tão inovadoras faz no conselho de administração da Petrobras; penso que ele deveria se candidatar a presidente da república… porque, afinal, o Brasil é o país do carnaval e ele não seria o primeiro representante dos trabalhadores a assumir a presidência do país…

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