Microcrédito com macro juros para empreender no Brasil
“Enquanto não houver crédito abundante e barato para empreender no Brasil, e instituições financeiras que procuram contabilizar bilhões e bilhões de lucros em seus balanços – nem que para isso, precisem esfolar seus clientes -, existirá um grande fator limitativo e impeditivo para o segmento de micro e pequenos empreendimentos prosperar.” Quem nunca teve a ideia de montar um negócio próprio? O processo começa com aquela ideia, que muitas vezes […] Leia mais
Publicado em 4 de agosto de 2015 às, 16h15.
Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às, 07h58.
“Enquanto não houver crédito abundante e barato para empreender no Brasil, e instituições financeiras que procuram contabilizar bilhões e bilhões de lucros em seus balanços – nem que para isso, precisem esfolar seus clientes -, existirá um grande fator limitativo e impeditivo para o segmento de micro e pequenos empreendimentos prosperar.”
Quem nunca teve a ideia de montar um negócio próprio? O processo começa com aquela ideia, que muitas vezes pensamos ser genial. Em seguida, após algumas consultas a parentes e amigos a respeito do negócio, caso o sinal dado por eles seja favorável, normalmente se parte para um estudo mais aprofundado do negócio, que pode levar a um business plan tradicional ou a um modelo Canvas de avaliação do negócio.
Entretanto, já a partir do estágio de ideia do negócio a busca pelo capital para realizá-lo será uma constante entre as preocupações do candidato a empreendedor. De fato, porque sem capital nada se pode fazer… por melhor que seja a ideia ou negócio – no ramo de tecnologia e, principalmente, nos ramos ou setores tradicionais, onde a sua necessidade é relativamente maior.
O governo brasileiro a reboque do que acontece no mundo, vem se preocupando com a questão e instituiu já há algum tempo, o chamado microcrédito para dar suporte e fomentar o empreendedorismo no segmento de micro e pequenos negócios. Linhas de crédito e fontes de financiamento foram alocadas para esse segmento e instituições financeiras públicas e privadas oferecem o produto para os microempreendedores.
Em recente palestra que assisti no SEBRAE a respeito desse tipo de linha de crédito, estavam presentes o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal – ambas instituições representadas por meio de suas divisões para o microcrédito -, o Santander e uma instituição independente.
Lá pude constatar que, apesar da existência do chamado Microcrédito, a sua aplicação se torna muito limitada em nosso país. Há uma série de importantes restrições que impedem o microcrédito de atingir o objetivo a que se propõe:
– necessidade de que o empreendedor já atue no setor/segmento de seu interesse há pelo menos seis meses ou um ano – dependendo da instituição;
Essa restrição impede aqueles que pretendem iniciar um novo negócio, antes inexistente.
– valor máximo do empréstimo de R$ 15 mil, por CNPJ/CPF.
O valor máximo limita o tamanho do negócio existente ou planejado, e vem a servir, muito mais, como um reforço de capital de giro ou para investimento em algum imobilizado (máquinas ou equipamentos) para o negócio;
– o custo gira na faixa de 2,5% ao mês (instituições financeiras públicas) a 3,5% ao mês (instituições privadas), sem contar com 3% de taxa de abertura de crédito (TAC) sobre o valor do empréstimo, cobrada antecipadamente por todas as instituições.
Vale observar que o custo anual de cada operação, considerando apenas essas características, será de 38,65% aa – no caso da menor taxa de juros. Já no caso da maior taxa, seria de cerca de 55,80% aa.
Além disso, o empreendedor ainda poderá incorrer em mais custos caso pretenda antecipar pagamentos recebidos de clientes ao utilizar as chamadas “maquininhas de pagamento” fornecidas e operadas por muitos desses bancos – as quais geram custos em torno de 3,5% para processamento de pagamentos em cartão de débito e de 5,5% para o caso dos cartões de crédito.
Um dos apresentadores – vou preservar o nome da instituição, apesar de fazer o alerta – teve a cara de pau de sugerir ao público ali presente que se o objetivo da linha de microcrédito fosse apenas para reforço de capital de giro, que os tomadores procurassem liquidar as suas operações o mais rapidamente possível – sugeriu prazos de 3 a 4 meses no máximo – para construir “um bom histórico de pagamentos junto à instituição financeira” e para liberar o empreendedor para novas tomadas de crédito utilizando o mesmo tipo de linha.
O sujeito esqueceu-se de mencionar para o público que cada renovação da linha iria implicar em um custo adicional de 3% de TAC para o infeliz tomador do crédito. O que levaria o custo anual de uma linha renovada por 4 vezes em 12 meses a ter um adicional de cerca de 13% ao ano, a ser capitalizado sobre a taxa de juros efetiva anual cobrada pelos bancos.
Enquanto não houver crédito abundante e barato para empreender no Brasil, e instituições financeiras que procuram contabilizar bilhões e bilhões de lucros em seus balanços – nem que para isso, precisem esfolar seus clientes -, existirá um grande fator limitativo e impeditivo para o segmento de micro e pequenos empreendimentos prosperar.
É claro que o problema não se resume apenas a esse ponto aqui levantado; mas o objetivo foi mostrar que mesmo no nível do microcrédito, o empreendedor tem dificuldades muitas vezes, intransponíveis, para obter capital a custos civilizados para realizar o seu negócio.
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