As pessoas devem ser encaradas como empresas?
A questão do endividamento das famílias/indivíduos é um assunto polêmico quando se trata de análise econômica ou de finanças pessoais. Analistas (econômicos) costumam ficar de olho nos indicadores de endividamento e comprometimento de renda das famílias/indivíduos. É por meio deles que se procura determinar a perspectiva de crescimento/aumento do consumo de bens e serviços na economia e, por consequência, o seu impacto nas cotações das ações na bolsa de valores, […] Leia mais
Publicado em 12 de agosto de 2013 às, 22h24.
Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às, 08h54.
A questão do endividamento das famílias/indivíduos é um assunto polêmico quando se trata de análise econômica ou de finanças pessoais.
Analistas (econômicos) costumam ficar de olho nos indicadores de endividamento e comprometimento de renda das famílias/indivíduos. É por meio deles que se procura determinar a perspectiva de crescimento/aumento do consumo de bens e serviços na economia e, por consequência, o seu impacto nas cotações das ações na bolsa de valores, com destaque para o setor de consumo/varejo – pelo menos no que se refere à importância relativa desse fator na avaliação de ações. Vale lembrar que o setor possui contribuição expressiva na composição do PIB (Produto Interno Bruto) do país.
Por outro lado, esses indicadores são fundamentais para a determinação da saúde financeira de uma família/indivíduo dentro da perspectiva das finanças pessoais. Nesse aspecto, vale uma importante observação: famílias/indivíduos não podem ser encarados como se fossem empresas. Ou seja, não podem ser comparados com empresas quando o assunto é análise financeira. Isso decorre do fato de que sua capacidade de geração de receita e alavancagem financeira – entendida como grau de endividamento e/ou comprometimento de renda – possuem características totalmente diversas das encontradas nas empresas.
De maneira simplificada, quando uma empresa se endivida ao utilizar capital de terceiros, ela pretende, em princípio, produzir mais e multiplicar sua receita, aumentando seus lucros. Além disso, ela também procura otimizar sua estrutura de capital ao gerenciar as participações relativas do capital de terceiros e do capital próprio no patrimônio líquido da empresa.
Entretanto, ao se endividar, a empresa incorre em dois tipos de riscos importantes resultantes de (1) alavancagem financeira e (2) alavancagem operacional. O primeiro risco diz respeito ao grau de endividamento da empresa, o qual faz com que o risco de crédito assumido pelos credores da empresa seja diretamente proporcional ao tamanho desse risco: quanto maior, mais risco correm os credores de “ficar a ver navios”.
Já o risco de alavancagem operacional, pode ser entendido como a possibilidade de oscilação do lucro da empresa decorrente da variação de sua receita. Ou seja, se a estratégia de aumento de receita via tomada de empréstimos não surtir o efeito desejado, a empresa poderá vir a ter sérios problemas.De sorte que, quanto maior for esse risco, maior será o risco de oscilação do lucro da empresa em função da variação de seu faturamento. E um dos agravantes do risco operacional é a proporção que assume o seu custo fixo em relação ao seu custo total – composto também pelo custo variável, o qual depende do nível de produção/receita de venda.
Dessa forma, quanto maior for essa proporção, mais arriscado será para uma empresa (e para o seu credor) embarcar em uma estratégia de endividamento com vistas a aumentar o seu faturamento e lucro.
Ao se fazer um paralelo com a situação das finanças de uma família/indivíduo, logo se percebe que no caso da família/indivíduo:
– a sua capacidade de aumento de receita é muito limitada, principalmente para aqueles que são assalariados;
– os seus custos fixos são, em geral, elevados e consomem boa parte da receita (renda de salários) gerada;
Consequentemente, o grau de endividamento e comprometimento de renda estará condicionado pelo nível de receita/renda auferida via salários por esse agente. Portanto, caso uma família/indivíduo resolva tomar um empréstimo/financiamento, com alto comprometimento de sua renda, esse agente terá, dentro da perspectiva de análise financeira de empresa, altíssimos riscos de alavancagem financeira e operacional.
Percebe-se, assim, que fica comprometida qualquer comparação ou analogia – que vez por outra se vê fazer – entre as análises financeiras de empresa e de uma família/indivíduo, já que se tratam de coisas muito diferentes. É claro que existem pontos de contato entre essas duas “entidades”, fazendo com que a família/indivíduo também se utilize, como as empresas, de orçamentos com projeções de receitas e despesas – entre outros instrumentos – para realizar uma gestão financeira adequada.
O mais importante, no caso da família/indivíduo, é tomar muito cuidado com excessivo comprometimento de renda via aumento do grau de endividamento e, sobretudo, sempre procurar o alinhamento entre a sua situação financeira real – condicionada, geralmente, pelo recebimento de salários – e o seu objetivo de médio e longo prazo para fazer frente aos imprevistos a que estamos todos sujeitos ao longo da vida, e poder se beneficiar de uma aposentadoria tranquila ao final da vida profissional.
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