Mark Zuckerberg, CEO da Meta: executivo anunciou mudanças significativas nas políticas de moderação de conteúdo da empresa (Celal Gunes/Anadolu/Getty Images)
Colunista - Instituto Millenium
Publicado em 23 de janeiro de 2025 às 12h31.
Passado o momento inicial de certa histeria sobre as alterações na moderação de conteúdos da Meta, haverá um provável aprofundamento do debate sobre liberdade de expressão nas redes sociais.
Até agora, o que se viu foi sempre uma discussão simplista que coloca em oposição uma liberdade de se expressar sem freios e uma verdade idealizada, decorrente do trabalho de checadores. Não é possível existir uma só verdade, o conceito de verdade é sempre provisório e múltiplo e, quando permitimos que alguém escolha uma melhor versão dela por nós, nos submetemos. O império da verdade é sempre o governo daqueles que, pela força, impõem sua visão de mundo a ingênuos que acreditam em uma verdade única. Algo perigoso, sempre próspero em regimes totalitários.
Zuckerberg, sem perceber, nos oferece uma porta de saída. Ao mudar suas políticas internas da noite para o dia, alinhando-se ao presidente eleito Donald Trump, deixou claro que não guia seus negócios por convicção ou idealismo. E é bastante óbvio que tenha se amoldado também de igual modo ao presidente anterior. Dessa forma, se a nova moderação da Meta gera desconfiança, não menos temerária é a crença de que a moderação anterior era ideal, pois provavelmente estava sendo guiada por interesses, apenas com a chave política invertida.
Com as chamadas notas da comunidade ou com os checadores profissionais, a moderação da Meta oferece a verdade mais cômoda politicamente a quem está no poder. Se não intenciona a busca da verdade com a nova moderação proposta, tampouco o fez com as checagens anteriores e com seu propagado enfrentamento à desinformação, ao ódio e às fake news.
Se assumirmos que a busca da verdade não é o que move as redes e seus gestores, no lugar de arrancarmos os cabelos em desespero e pedirmos intervenção autoritária de governos e tribunais, podemos avançar em relação a um debate amadurecido sobre liberdade de expressão nas redes, abrindo mão da crença em uma verdade pura oferecida pelas plataformas e escolhendo que tipo de verdade esperamos e queremos para o debate público que nelas circula.
Se formos adultos o suficiente, talvez possamos, quem sabe, aceitar todas as verdades de uma só vez, algo que só é possível em uma democracia, em que a soma de visões nos capacita a construir versões melhores da verdade e de nós mesmos, sem a tutela paternalista do Estado, de empresas ou de checadores profissionais.