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Um caminho para financiar o futuro do campo

Enquanto o Estado gasta bilhões em programas falhos e vulneráveis a fraudes, o mercado privado oferece soluções modernas e sustentáveis

 (Cosan/Divulgação)

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Instituto Millenium
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Publicado em 13 de setembro de 2025 às 08h18.

Por Luiz Felipe Fortuna, associado do Instituto de Estudos Empresariais (IEE)

 

O agronegócio brasileiro segue como pilar da economia, representando cerca de 25% do PIB e boa parte das exportações. Seu crescimento, porém, depende cada vez mais de capital para que possam ser implementadas as melhores práticas e tecnologias de manejo agrícola, como também de modernização de maquinários e estruturas.  

Mas, afinal, quem financia esse setor vital para nossa nação? Hoje, grande parte ainda vem do Estado, por meio de subsídios e linhas especiais de crédito, enquanto o financiamento privado, sobretudo via securitização, cresce com força e eficiência. Em 2024, o crédito rural e agroindustrial totalizou cerca de R$ 219,7 bilhões. Por outro lado, o financiamento privado ganhou destaque: o estoque de títulos como CPR, LCA, CRA, CDCA e Fiagro chegou a R$ 1,1 trilhão em novembro de 2024, aumento de 31,5% em um ano. As CPRs, por sua vez, saltaram de R$ 106,8 bilhões para R$ 188,5 bilhões na comparação entre julho e novembro de 2024 com o mesmo período do ano anterior.

O Proagro, programa de garantia de crédito rural do Estado, é uma grande prova da ineficiência das iniciativas governamentais de subsídio ao produtor rural. Em 2024, o Proagro desembolsou R$ 9 bilhões em seguros, um aumento expressivo frente aos R$ 6 bilhões de 2023. E o mais grave foi que o Tribunal de Contas da União (TCU) identificou perícias fraudulentas, com casos de até 1,5 mil vistorias feitas por um único perito em um ano. Em muitos municípios do Sul, as indenizações pagas pelo Proagro superaram o que o município inteiro recebeu do Fundo de Participação dos Municípios. O TCU classificou o programa como oneroso e obsoleto, alertando que o governo não pode permanecer nessa lógica assistencialista.

O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) é outro exemplo de como o Estado insiste em gastar bilhões em crédito subsidiado sem resolver os problemas estruturais do campo. Criado para apoiar pequenos agricultores, o programa disponibilizou R$ 76 bilhões na safra 2024/25 com juros muito abaixo do mercado, bancados pelo Tesouro Nacional. Apesar do volume, o Pronaf convive com críticas recorrentes: excesso de burocracia, baixa eficiência e alertas do TCU sobre a falta de fiscalização da autenticidade das declarações de aptidão, o que torna o programa vulnerável a fraudes e concessões indevidas

O contraste é evidente. Enquanto o Estado gasta bilhões em programas falhos e vulneráveis a fraudes, o mercado privado oferece soluções modernas e sustentáveis. A securitização permite que produtores antecipem recebíveis, como CPRs e CRAs, com rapidez e custo competitivo. Investidores acessam o setor com segurança jurídica, diversificando portfólios e sem depender do Tesouro Nacional. O crédito flui para quem é eficiente e competitivo, sem a necessidade de atravessar camadas de burocracia estatal.

Essa mudança de lógica seria benéfica para todos. O produtor rural teria acesso a crédito abundante e previsível, o investidor teria novas oportunidades em um setor sólido e estratégico, e a sociedade deixaria de carregar o peso de subsídios bilionários financiados com impostos. A consequência natural de um Estado mais enxuto e responsável é um mercado mais pujante, capaz de alocar recursos de forma eficiente e sustentável.

O Brasil precisa reconhecer que subsídios não são sustentáveis a longo prazo. O mercado securitizado cresce sem depender do Tesouro, oferecendo liquidez e inovação. O país não precisa de mais Estado no campo, mas, sim, de menos burocracia e mais liberdade econômica. Se deixarmos o mercado fazer o que sabe fazer melhor, o agronegócio terá condições de financiar sua própria expansão, com eficiência e transparência, e sem impor custos ao contribuinte.