Consumidor passa por itens a venda no shopping center Sawgrass Mills em Sunrise, Flórida (Joe Raedle/Getty Images)
Instituto Millenium
Publicado em 14 de janeiro de 2025 às 12h13.
Recentemente estive em Orlando, Flórida, lar dos famosos parques da Disney. Já moro nos Estados Unidos há algum tempo, mas isolado, no deserto do Texas, o contato com brasileiros que vêm a turismo é definitivamente raro.
A Flórida é completamente diferente. Não é um exagero dizer que a Flórida é a América Latina do Norte. Se graças à tremenda imigração, especialmente de cubanos, em Miami se fala mais espanhol que inglês, em Orlando se fala português mais do que qualquer outra língua.
Da farmácia ao restaurante, do comércio ao aeroporto: não havia um lugar onde não se escutasse português. Não havia qualquer indicação de que um dólar valendo salgados seis reais pudesse deter as compras dos brasileiros.
Em minha primeira coluna aqui, já falei porque o protecionismo é ruim para o crescimento da economia brasileira. Mas o protecionismo também contribui para a desigualdade no Brasil.
Ao taxar produtos que entram no Brasil, o governo brasileiro taxa os mais pobres, que ficam refém da tarifa, mas subsidia as viagens dos ricos à Flórida. Isso porque o preço relativo dos bens fica ainda mais barato na Flórida. O dinheiro da classe alta brasileira vale mais no exterior, o que, na prática, implica que o custo relativo de ir à Flórida é menor.
Vale um exemplo. Considere que um MacBook Pro custa a partir de R$ 20.000 no Brasil – cerca de 3.300 dólares. O mesmo computador sai a partir de 1.599 dólares na AppleStore dos Estados Unidos, com a diferença de 1.700 sendo mais que suficiente para comprar uma passagem aos Estados Unidos.
Graças ao massivo imposto, a viagem à Flórida “se paga”, porque ao chegar lá os brasileiros têm acesso a produtos mais baratos. Os pobres pagam o imposto comprando produtos brasileiros. Os ricos “pagam” o imposto com uma viagem à Flórida. Efetivamente, a passagem aos Estados Unidos é como uma mensalidade de um clube de compras como o Sam’s Club, onde a após virar membro por uma taxa, você tem acesso a produtos mais baratos.
Infelizmente, os efeitos não para por aí. Um recente estudo mostra que tarifas de importação sobre insumos tornam os produtos finais de empresas nacionais mais caros e acabam reduzindo as exportações. Os pesquisadores argumentam que as tarifas de importação, na prática, funcionam como um imposto de cerca de 2% sobre as exportações.
Um segundo estudo de pesquisadores do Federal Reserve, o banco central americano, mostra que tarifas de importação nos Estados Unidos levaram a maiores custos e perda de empregos para as empresas americanas dependentes de insumos chineses, aliado a maiores preços em diversas indústrias que diretamente afetam os consumidores americanos.
Outros estudos também mostram que importações são importantes para oferecer maior variedade de produtos e competição de preços no mercado nacional. Entre 1992 e 2015, quando as importações dos Estados Unidos cresceram, o bem-estar dos consumidores cresceu junto, porque maiores importações diminuíram os preços dos produtos nacionais e ofereceu maior variedade aos consumidores americanos.
De maneira oposta, quando Trump impôs tarifas em 2018, isso resultou em maiores preços e menor variedade, causando uma perda real de 1,4 bilhões de dólares por mês aos consumidores americanos. Em ambos os casos, os ganhos em indústrias protegidas é negligenciável.
Ao invés de copiar os Estados Unidos na sua recente escalada protecionista, devemos copiá-los no que eles fazem melhor: permitir que seus cidadãos comuns tenham acesso à qualidade de vida que decorre uma moeda com elevado poder de compra.