Sobre protecionismo e geração de empregos: custos x benefícios
Ônus da taxação de importados recai sobre os consumidores
institutomillenium
Publicado em 6 de maio de 2019 às 10h20.
Última atualização em 6 de maio de 2019 às 15h03.
Fortalecido pelos bons resultados econômicos do primeiro trimestre nos Estados Unidos, Donald Trump voltou a ameaçar os consumidores americanos com novos aumentos de tarifas de importação sobre produtos chineses. Em mensagem no Twitter presidencial, Trump foi categórico:
“Por dez meses, a China pagou tarifas de 25% para os Estados Unidos sobre US$ 50 bilhões em produtos de alta tecnologia e 10% sobre US$ 200 bilhões referentes a outros bens e produtos. Esses pagamentos são parcialmente responsáveis por nossos excelentes resultados econômicos. A tarifa de 10% será elevada para 25% na sexta-feira. US$ 325 bilhões de bens adicionais comprados pelos americanos dos chineses permanecem sem cobrança de tarifas, mas serão tarifados em breve em 25%. As tarifas pagas aos Estados Unidos tiveram pequeno impacto no custo dos produtos, em sua maior parte gerados pela China. As negociações comerciais continuam, mas muito lentamente, enquanto eles tentam renegociar.”
Como esperado, as bolsas europeias e asiáticas abriram em forte queda na segunda feira.
Há dois equívocos graves no raciocínio do presidente americano. O primeiro é imputar às tarifas criadas ou aumentadas por ele algum efeito positivo sobre os resultados econômicos. Definitivamente, não! Se Trump tem méritos pelo bom desempenho da economia dos últimos meses, estes méritos derivam essencialmente do pacote de desregulamentação e do corte de impostos sobre as empresas. Em relação às tarifas, o que dizem as pesquisas e a boa teoria econômica é que a economia vai bem apesar delas - não por causa delas.
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O segundo equívoco é sugerir que os impostos sobre os importados são pagos pelos chineses. Na verdade, são os importadores americanos que desembolsam essas taxas de importação.
Embora os exportadores chineses, em algumas ocasiões, possam reduzir seus preços e absorver parte das tarifas, vários estudos recentes concluíram que quase todo o ônus financeiro recaiu sobre os consumidores.
Vejamos, por exemplo, o caso das lavadoras de roupa. As tarifas foram implementadas em janeiro de 2018 em resposta a uma queixa da fabricante Whirlpool, de Michigan, que afirmou que os concorrentes estrangeiros estavam esmagando o mercado americano de máquinas de lavar com modelos mais baratos que ameaçavam os fabricantes nacionais. As tarifas começaram em 20% por lavadora importada e subiram para 50% no final do ano, depois que as importações totais excederam a cota estabelecida pela administração.
Pesquisas empíricas realizadas recentemente, entretanto, desmentem categoricamente as expectativas, tanto de Trump quanto dos fabricantes. Os fabricantes de secadoras e lavadoras baseados nos EUA contrataram cerca de 1.800 empregados depois da imposição das tarifas, descobriram os pesquisadores. Mas com um custo total para os consumidores de cerca de US $ 1,5 bilhão (as novas tarifas acabaram com um declínio de anos no preço das máquinas de lavar nos Estados Unidos, que subiram cerca de US $ 86 por unidade por causa delas). Isso equivale a aproximadamente US $ 815.000 pagos a mais pelos consumidores para cada novo emprego criado (Dilma deve ter ficado com inveja).
Tais descobertas são consistentes com pesquisas anteriores, incluindo um estudo de 2012 do Instituto Peterson, que estimou que as tarifas de 2009 sobre os pneus importados da China custaram aos consumidores US $ 926.500 para cada um dos 1.200 empregos criados ou mantidos.
Um estudo anterior e mais abrangente, feito por Hufbauer, que compilou 31 estudos de caso de proteção comercial nos EUA, revelou que o custo médio anual dos consumidores por emprego mantido era superior a US$ 500.000 (em dólares de 2016) e em alguns casos excedia US $ 1 milhão por ano por emprego.
Estes fatos não deveriam ser inesperados para alguém familiarizado com a análise de tarifas dos livros didáticos de economia. Quando bens domésticos e estrangeiros são substitutos próximos, aumentos nos preços dos importados, causados por tarifas, se refletem também no preço dos bens fabricados no país. O que é espantoso é que Trump até hoje ainda não tenha compreendido essa lição básica.
*Administrador de empresas formado pela Escola Brasileira de Administração Pública da Fundação Getulio Vargas (EBAP/FGV-RJ), João Luiz Mauad é articulista dos jornais “O Globo” e “Diário do Comércio”. Escreve regularmente para o site do Instituto Liberal.
Fortalecido pelos bons resultados econômicos do primeiro trimestre nos Estados Unidos, Donald Trump voltou a ameaçar os consumidores americanos com novos aumentos de tarifas de importação sobre produtos chineses. Em mensagem no Twitter presidencial, Trump foi categórico:
“Por dez meses, a China pagou tarifas de 25% para os Estados Unidos sobre US$ 50 bilhões em produtos de alta tecnologia e 10% sobre US$ 200 bilhões referentes a outros bens e produtos. Esses pagamentos são parcialmente responsáveis por nossos excelentes resultados econômicos. A tarifa de 10% será elevada para 25% na sexta-feira. US$ 325 bilhões de bens adicionais comprados pelos americanos dos chineses permanecem sem cobrança de tarifas, mas serão tarifados em breve em 25%. As tarifas pagas aos Estados Unidos tiveram pequeno impacto no custo dos produtos, em sua maior parte gerados pela China. As negociações comerciais continuam, mas muito lentamente, enquanto eles tentam renegociar.”
Como esperado, as bolsas europeias e asiáticas abriram em forte queda na segunda feira.
Há dois equívocos graves no raciocínio do presidente americano. O primeiro é imputar às tarifas criadas ou aumentadas por ele algum efeito positivo sobre os resultados econômicos. Definitivamente, não! Se Trump tem méritos pelo bom desempenho da economia dos últimos meses, estes méritos derivam essencialmente do pacote de desregulamentação e do corte de impostos sobre as empresas. Em relação às tarifas, o que dizem as pesquisas e a boa teoria econômica é que a economia vai bem apesar delas - não por causa delas.
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O segundo equívoco é sugerir que os impostos sobre os importados são pagos pelos chineses. Na verdade, são os importadores americanos que desembolsam essas taxas de importação.
Embora os exportadores chineses, em algumas ocasiões, possam reduzir seus preços e absorver parte das tarifas, vários estudos recentes concluíram que quase todo o ônus financeiro recaiu sobre os consumidores.
Vejamos, por exemplo, o caso das lavadoras de roupa. As tarifas foram implementadas em janeiro de 2018 em resposta a uma queixa da fabricante Whirlpool, de Michigan, que afirmou que os concorrentes estrangeiros estavam esmagando o mercado americano de máquinas de lavar com modelos mais baratos que ameaçavam os fabricantes nacionais. As tarifas começaram em 20% por lavadora importada e subiram para 50% no final do ano, depois que as importações totais excederam a cota estabelecida pela administração.
Pesquisas empíricas realizadas recentemente, entretanto, desmentem categoricamente as expectativas, tanto de Trump quanto dos fabricantes. Os fabricantes de secadoras e lavadoras baseados nos EUA contrataram cerca de 1.800 empregados depois da imposição das tarifas, descobriram os pesquisadores. Mas com um custo total para os consumidores de cerca de US $ 1,5 bilhão (as novas tarifas acabaram com um declínio de anos no preço das máquinas de lavar nos Estados Unidos, que subiram cerca de US $ 86 por unidade por causa delas). Isso equivale a aproximadamente US $ 815.000 pagos a mais pelos consumidores para cada novo emprego criado (Dilma deve ter ficado com inveja).
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Estes fatos não deveriam ser inesperados para alguém familiarizado com a análise de tarifas dos livros didáticos de economia. Quando bens domésticos e estrangeiros são substitutos próximos, aumentos nos preços dos importados, causados por tarifas, se refletem também no preço dos bens fabricados no país. O que é espantoso é que Trump até hoje ainda não tenha compreendido essa lição básica.
*Administrador de empresas formado pela Escola Brasileira de Administração Pública da Fundação Getulio Vargas (EBAP/FGV-RJ), João Luiz Mauad é articulista dos jornais “O Globo” e “Diário do Comércio”. Escreve regularmente para o site do Instituto Liberal.