Sim, o agro é pop, e isso pode ser algo bom
O setor agrícola representa uma potência econômica, política e cultural no país
Colunista - Instituto Millenium
Publicado em 13 de agosto de 2024 às 18h06.
Última atualização em 27 de agosto de 2024 às 12h13.
Na pesquisa Na Raiz do Brasil, realizada pela Morada Comum em 2023 em parceria com a Quaest, dos 4072 brasileiros entrevistados presencialmente, 60% afirmou ter uma percepção positiva do agronegócio, embora quando perguntados sobre a relação entre o setor e o meio ambiente, 56% afirme que o setor é atrasado e prejudicial ao meio ambiente (contra 44% que acredita que o agronegócio é moderno e respeita a legislação ambiental).
O setor agrícola representa uma potência econômica, política e cultural no país. E é um setor que desperta orgulho nos brasileiros. Negar isso é não só ingênuo, mas também ignorar o potencial que o setor pode ter na transição do Brasil para uma economia de baixo carbono, sobretudo considerando que, segundo o SEEG (2023), hoje, 75% das emissões do país estão associadas ao uso da terra e agricultura.
Em 2022, o setor de agronegócios representou quase 25% do PIB brasileiro, e atualmente, o Brasil é o maior exportador mundial de carne bovina e soja . No primeiro trimestre de 2023, a população empregada no setor atingiu 28,1 milhões de pessoas, o melhor resultado para o primeiro trimestre de um determinado ano e o segundo melhor desempenho da série histórica, iniciada em 2012. Esse número representa 27% do estoque total de empregos no país.
Não bastando sua relevância econômica, esse grupo também representa uma das mais antigas e poderosas bancadas políticas no Congresso Nacional, com 300 deputados (de 513) e 47 senadores (de 81).
Em um país que deve grande parte de sua prosperidade histórica à produção agrícola, o trabalho rural e, mais recentemente, o agronegócio têm forte influência cultural. A campanha publicitária "Agro é tech, agro é pop, agro é tudo" (lançada em junho de 2016 pela TV Globo), as novelas que retratam a vida no campo (como Rei do Gado, Pantanal, Renascer) e os ícones sertanejos lançados pela indústria cultural brasileira desde os anos 1990 são exemplos de como o imaginário sobre o setor se construiu e se tornou uma fonte de orgulho para a população.
O Brasil pode aumentar sua produção agrícola sem desmatamento ilegal, focando na recuperação de pastagens degradadas e na melhoria da produtividade das terras já cultivadas, apesar da pressão por flexibilização das leis ambientais. Um estudo da FGV revela que 18,94% do território brasileiro são pastagens, com 52% dessas áreas degradadas. A recuperação dessas áreas, embora custosa, prevê lucros que compensariam o investimento. Caso o Brasil cumpra as metas do Acordo de Paris, recuperando 15 milhões de hectares até 2030, o investimento necessário seria de R$ 21,17 bilhões, com retornos econômicos líquidos positivos de R$ 15,60 bilhões. Mesmo no cenário menos otimista, a receita gerada com a recuperação de pastagens degradadas garantiria um retorno positivo de R$ 581,25 milhões.
E este é um setor que está longe de ser homogêneo. Hoje, há uma parcela dele que se articula para flexibilizar mecanismos de proteção ambiental em detrimento da natureza, mas há também lideranças já comprometidas com uma agropecuária de baixo carbono e aqueles que querem fazer a transição.
Já existem exemplos de que conciliar agricultura e proteção da natureza não é apenas possível, mas também lucrativo. Um exemplo disso é a Liga do Araguaia, uma iniciativa na região do Vale do Araguaia (MT) criada para fortalecer a pecuária sustentável na região que hoje congrega 60 propriedades rurais e que em 2024 completa 10 anos de atuação.
Para isso, no entanto, serão necessários investimentos em pesquisa, aprimoramento de políticas públicas e mecanismos de financiamento à agropecuária de baixo carbono e a articulação e fortalecimento de uma sociedade civil agroambiental comprometida com a conciliação entre rentabilidade e proteção ambiental.
Iniciativas como plano ABC+ (linha de financiamento do governo para agricultura de baixo carbono), que projetou uma perspectiva de escala para os períodos 2023/24, são um exemplo do que pode ser feito para que o setor se torne um importante aliado na luta contra as mudanças climáticas.
Diante da COP 30 no Brasil, há uma oportunidade de articular uma agenda do setor e para o setor, uma em que agropecuaristas reforcem o papel que o Brasil pode ter de se tornar uma referência global de transição agroalimentar, partindo das particularidades de sua agropecuária tropical, única no mundo e de vocação conservacionista. Para isso, o país e o setor precisam mostrar que o agro que é pop é aquele que possui consciência de seu legado de inovação e de sua missão de protagonista agroambiental.
Na pesquisa Na Raiz do Brasil, realizada pela Morada Comum em 2023 em parceria com a Quaest, dos 4072 brasileiros entrevistados presencialmente, 60% afirmou ter uma percepção positiva do agronegócio, embora quando perguntados sobre a relação entre o setor e o meio ambiente, 56% afirme que o setor é atrasado e prejudicial ao meio ambiente (contra 44% que acredita que o agronegócio é moderno e respeita a legislação ambiental).
O setor agrícola representa uma potência econômica, política e cultural no país. E é um setor que desperta orgulho nos brasileiros. Negar isso é não só ingênuo, mas também ignorar o potencial que o setor pode ter na transição do Brasil para uma economia de baixo carbono, sobretudo considerando que, segundo o SEEG (2023), hoje, 75% das emissões do país estão associadas ao uso da terra e agricultura.
Em 2022, o setor de agronegócios representou quase 25% do PIB brasileiro, e atualmente, o Brasil é o maior exportador mundial de carne bovina e soja . No primeiro trimestre de 2023, a população empregada no setor atingiu 28,1 milhões de pessoas, o melhor resultado para o primeiro trimestre de um determinado ano e o segundo melhor desempenho da série histórica, iniciada em 2012. Esse número representa 27% do estoque total de empregos no país.
Não bastando sua relevância econômica, esse grupo também representa uma das mais antigas e poderosas bancadas políticas no Congresso Nacional, com 300 deputados (de 513) e 47 senadores (de 81).
Em um país que deve grande parte de sua prosperidade histórica à produção agrícola, o trabalho rural e, mais recentemente, o agronegócio têm forte influência cultural. A campanha publicitária "Agro é tech, agro é pop, agro é tudo" (lançada em junho de 2016 pela TV Globo), as novelas que retratam a vida no campo (como Rei do Gado, Pantanal, Renascer) e os ícones sertanejos lançados pela indústria cultural brasileira desde os anos 1990 são exemplos de como o imaginário sobre o setor se construiu e se tornou uma fonte de orgulho para a população.
O Brasil pode aumentar sua produção agrícola sem desmatamento ilegal, focando na recuperação de pastagens degradadas e na melhoria da produtividade das terras já cultivadas, apesar da pressão por flexibilização das leis ambientais. Um estudo da FGV revela que 18,94% do território brasileiro são pastagens, com 52% dessas áreas degradadas. A recuperação dessas áreas, embora custosa, prevê lucros que compensariam o investimento. Caso o Brasil cumpra as metas do Acordo de Paris, recuperando 15 milhões de hectares até 2030, o investimento necessário seria de R$ 21,17 bilhões, com retornos econômicos líquidos positivos de R$ 15,60 bilhões. Mesmo no cenário menos otimista, a receita gerada com a recuperação de pastagens degradadas garantiria um retorno positivo de R$ 581,25 milhões.
E este é um setor que está longe de ser homogêneo. Hoje, há uma parcela dele que se articula para flexibilizar mecanismos de proteção ambiental em detrimento da natureza, mas há também lideranças já comprometidas com uma agropecuária de baixo carbono e aqueles que querem fazer a transição.
Já existem exemplos de que conciliar agricultura e proteção da natureza não é apenas possível, mas também lucrativo. Um exemplo disso é a Liga do Araguaia, uma iniciativa na região do Vale do Araguaia (MT) criada para fortalecer a pecuária sustentável na região que hoje congrega 60 propriedades rurais e que em 2024 completa 10 anos de atuação.
Para isso, no entanto, serão necessários investimentos em pesquisa, aprimoramento de políticas públicas e mecanismos de financiamento à agropecuária de baixo carbono e a articulação e fortalecimento de uma sociedade civil agroambiental comprometida com a conciliação entre rentabilidade e proteção ambiental.
Iniciativas como plano ABC+ (linha de financiamento do governo para agricultura de baixo carbono), que projetou uma perspectiva de escala para os períodos 2023/24, são um exemplo do que pode ser feito para que o setor se torne um importante aliado na luta contra as mudanças climáticas.
Diante da COP 30 no Brasil, há uma oportunidade de articular uma agenda do setor e para o setor, uma em que agropecuaristas reforcem o papel que o Brasil pode ter de se tornar uma referência global de transição agroalimentar, partindo das particularidades de sua agropecuária tropical, única no mundo e de vocação conservacionista. Para isso, o país e o setor precisam mostrar que o agro que é pop é aquele que possui consciência de seu legado de inovação e de sua missão de protagonista agroambiental.