Se bem estruturadas, PPPs podem ajudar a enfrentar os desafios do ensino no Brasil
Elas são a evidência mais clara da atual tendência de retomada das PPPs de educação que, na última década, apresentaram um desenvolvimento tímido
Publicado em 24 de outubro de 2024 às, 12h49.
As licitações de duas parcerias público privadas (PPPs) para a reforma e construção de escolas do governo do estado de São Paulo, agendadas para os dias 29 de outubro e 4 de novembro, representam mais do que uma oportunidade de aprimorar a infraestrutura educacional. Elas são a evidência mais clara da atual tendência de retomada das PPPs de educação, que, na última década, apresentaram um desenvolvimento tímido, apesar dos resultados positivos dos empreendimentos pioneiros nesse setor.
A primeira parceria público-privada para a construção, gestão e manutenção de escolas no Brasil ocorreu em 2012, com a concessão de 32 novas unidades de ensino infantil (UMEIS) e 5 escolas de ensino fundamental (EMEFs) em Belo Horizonte, entregues pela concessionária entre 2013 e 2015. O sucesso da iniciativa levou à expansão gradativa do seu escopo para 57 UMEIs e 6 EMEFs. No entanto, de lá para cá, apenas três programas semelhantes foram registrados no país, nos municípios de Contagem e Nova Lima, ambos em Minas Gerais, além da Prefeitura de São Paulo. Um número modesto se considerados os mais de 5.500 municípios brasileiros e os enormes desafios enfrentados por eles e seus respectivos estados para aprimorar a qualidade do ensino oferecido à população.
Nos últimos dois anos, no entanto, um novo panorama começou a emergir, com vários programas de PPPs educacionais lançados em diferentes regiões do país. Em setembro, foi assinado o quinto contrato de PPP na área, pela prefeitura de São Paulo, sendo que outras iniciativas estão em andamento em cidades como Porto Alegre, Caxias do Sul, Manaus e Rio de Janeiro. Além disso, a Caixa Econômica Federal (CEF) está mobilizando recursos do Fundo de Estruturação de Projetos (FEP) e do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE/MEC), já tendo habilitado 53 municípios com mais de 100 mil habitantes, além de 25 consórcios e arranjos intermunicipais (abrangendo outros 349 municípios), para a estruturação de PPPs de educação infantil. O BNDES, que já apoia o desenvolvimento de projetos educacionais, anunciou que pretende ampliar sua carteira nesse setor no novo ciclo de administrações municipais que se inicia em 2025.
Fato é que, apesar dos elevados recursos públicos mobilizados ao longo dos anos para democratizar o acesso às escolas, ainda estamos longe de atingir as metas do Plano Nacional de Educação (Lei nº 13.005/2014). O programa estabeleceu a obrigatoriedade de acesso pleno de crianças e jovens de 4 a 17 anos à pré-escola, ensino fundamental e médio, assim como a ampliação da oferta de educação profissional e integral, além do número de creches. Objetivos ousados, considerando as dimensões e diferentes realidades dos municípios brasileiros, que precisam arrumar formas de expandir o número de vagas em suas escolas públicas.
É nesse contexto que os novos projetos de parceria parecem caminhar na direção correta, uma vez que viabilizam a reforma dos equipamentos existentes e a construções de novas unidades educacionais, além da manutenção das estruturas e a prestação de serviços não pedagógicos nesses espaços, como limpeza e segurança. Essa divisão de responsabilidades é crucial: a gestão pedagógica, como a grade curricular, contratação e a alocação de professores, permanece sob responsabilidade pública. Essa abordagem permite que as equipes educacionais se concentrem no ensino, enquanto as questões administrativas ficam a cargo do parceiro privado, o que pode ser um alívio em um contexto onde a burocracia muitas vezes dificulta a gestão eficiente e inibe a inovação.
Entretanto, é importante esclarecer que essas PPPs não são a solução mágica para todos os desafios da educação. Longe disso. Estes são multifacetados e abrangem desde políticas de inclusão, redução de desigualdades, formação e valorização dos professores, até questões de saúde pública e infraestrutura logística, que impactam diretamente o acesso e as condições de aprendizado dos alunos. Contudo, é inegável que a construção de escolas bem planejadas e equipadas pode proporcionar um ambiente favorável ao aprendizado, além de favorecer o maior acesso à cultura, o lazer e os esportes, proporcionando aos alunos a oportunidade de se engajar em atividades extracurriculares cruciais para seu desenvolvimento pessoal e social.
A perspectiva, portanto, é promissora. Afinal, com o envolvimento da iniciativa privada, é possível não apenas vislumbrar a ampliação da capacidade de investimento nas escolas, como também trazer inovações e práticas bem-sucedidas de gestão operacional que podem ser replicadas em diferentes cenários. Sempre, evidentemente, a partir de uma análise cuidadosa dos contextos locais e da construção de relações colaborativas entre os setores público, privado e a comunidade atendida. E também, como não poderia deixar de ser, alinhado com as demais políticas para enfrentamento dos desafios educacionais do país, preparando nossas crianças e adolescentes para lidar com os embates de um mundo cada vez mais complexo e em constante transformação.
* Artigo escrito em parceria com Frederico Estrella, economista, fundador da Attra Consultoria e membro do Comitê de Infraestrutura da ABVCAP.