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Ranking diz que Brasil melhorou liberdade de imprensa. Será?

Se a liberdade varia conforme o governante, é sinal de que ela nunca foi real — liberdade verdadeira exige instituições sólidas e leis que a garantam.

Um mascarado exibe um cartaz pedindo liberdade de expressão diante da embaixada do Equador em Londres nesta quinta (©AFP / Will Oliver)

Um mascarado exibe um cartaz pedindo liberdade de expressão diante da embaixada do Equador em Londres nesta quinta (©AFP / Will Oliver)

André Marsiglia
André Marsiglia

Colunista - Instituto Millenium

Publicado em 7 de maio de 2025 às 19h00.

O Brasil subiu 19 posições no ranking mundial de liberdade de imprensa da Repórteres Sem Fronteiras (RSF), alcançando a 63ª colocação entre 180 países. Um feito que, à primeira vista, parece digno de celebração. No entanto, como não se pode celebrar a riqueza de um cortiço, nem lamentar a miséria de um palácio, sinto-me mais constrangido pelo resultado da pesquisa que qualquer outra coisa.

Quem for cego, veja de repente todo o azul da vida, mas, para quem tem olhos, e os usa, o Brasil não vai bem em termos de liberdades. É necessário que os critérios e metodologias de ranqueamentos, pesquisas e estatísticas não estejam desconectados por completo da realidade a ponto de não os levarmos mais a sério.

A pesquisa em questão chega a tal resultado por ser o extrato das percepções dos entrevistados de como andam nossas liberdades, porém, o que as pessoas enxergam do mundo, geralmente não é o que o mundo é. O Brasil da pesquisa tem a ver com as perguntas feitas, com os entrevistados ouvidos, muito mais do que com as estruturas democráticas concretas garantidoras de uma liberdade real.

A divulgação do ranking poderia deixar isso mais claro, porém, se atribuiu a melhora brasileira à normalização das relações entre os órgãos estatais e a imprensa, após a saída de Jair Bolsonaro da presidência. Essa análise ignora que se a liberdade depende da boa ou má vontade de governantes, seja qual for o governante, algo de errado não está certo. Liberdade real depende de instituições fortalecidas e leis que garantam esse direito fundamental. Se a liberdade melhora ou piora com a troca de líderes, então ela nunca foi verdadeiramente sólida.

Embora ouvir a experiência de entrevistados possa ser valioso, é necessário considerar dados objetivos, como, por óbvio, o número de casos de censura havidos no país, para obter uma visão mais precisa. Passou da hora de termos um consenso conceitual menos politizado sobre o que vem a ser censura, de modo a que tenhamos ranqueamentos objetivos e científicos sobre o estado das liberdades no nosso país. Do contrário, essas pesquisas não passarão de mais um instrumento do jogo de polarização política nacional.

É necessário mais do que um olhar subjetivo sobre o tema, vital uma análise baseada em dados concretos para entender verdadeiramente o estado das liberdades de expressão e de imprensa no país.

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