Os jovens e a reforma política
Corrupção? Peleguismo? Artigo da Professora Suely Caldas no “Estado de S. Paulo” tenta explicar o desinteresse dos jovens pela política, divulgado pelo TSE em pesquisa recente. Como reverter esse quadro? “Há dias o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mediu o desencanto e a decepção dos jovens com a política e os políticos: o número de eleitores brasileiros de 16 e 17 anos – cujo voto é voluntário, não obrigatório – caiu […] Leia mais
Da Redação
Publicado em 2 de agosto de 2010 às 12h03.
Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às 11h31.
Corrupção? Peleguismo? Artigo da Professora Suely Caldas no “Estado de S. Paulo” tenta explicar o desinteresse dos jovens pela política, divulgado pelo TSE em pesquisa recente. Como reverter esse quadro?
“Há dias o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mediu o desencanto e a decepção dos jovens com a política e os políticos: o número de eleitores brasileiros de 16 e 17 anos – cujo voto é voluntário, não obrigatório – caiu de 2,55 milhões para 2,39 milhões entre 2006 e 2010. Espanto e tristeza para as gerações de pais e avós que passaram 21 anos de ditadura militar proibidos de votar e em 1989 correram com euforia às urnas para votar pela primeira vez para presidente. No trabalho, nas escolas e universidades, quando o assunto surge, os jovens expressam desilusão e um preocupante sentimento de aversão à política.
Afinal, o que há com nossos jovens?
A corrupção – que no governo Lula piorou, tornou-se corriqueira e banal – é o mal maior que abala a crença dos jovens, mas não o único. Neste item a sensação de indiferença e impotência ficou mais aliviada com a promulgação da Lei da Ficha Limpa, que arregimentou mais de 1 milhão de assinaturas de brasileiros indignados contra o cinismo e a impunidade de políticos. Eles têm recorrido à Justiça para garantir o registro da candidatura, e por vezes são bem-sucedidos, como no caso de José Sarney Filho, no Maranhão. Mas pelo menos agora há uma lei que afasta o mau político da vida pública e um portal para o eleitor fiscalizar o seu candidato.
E a União Nacional dos Estudantes, a histórica e combativa UNE do passado, liderou ou ao menos participou do movimento? Afinal, varrer do Congresso e de cargos públicos os corruptos é bandeira política histórica da UNE e tem enorme poder de sensibilizar os estudantes. Mas a UNE do presente abdicou dessa bandeira. Preocupada em arrancar cada vez mais verbas públicas do governo, não interessa à sua direção mexer num vespeiro que também a beneficia. Há dois meses a UNE recebeu de presente de Lula R$ 15 milhões para construir nova sede; levou dinheiro da Petrobrás; mais R$ 7,8 milhões do Ministério da Educação para pesquisar a história do movimento estudantil; e o dinheiro foi parar numa empresa de segurança em Salvador. Não presta contas a ninguém.
A subserviência financeira ao poder, a prática do peleguismo, a renúncia em liderar lutas políticas que desagradem ao governo, o silêncio omisso nas escolas e universidades fizeram da UNE uma entidade não respeitada nem reconhecida pelos estudantes. E é uma das razões que explicam a indiferença da juventude à política. Mas não a única. Ela faz parte do conjunto de ações de liderança que visam a despertar no jovem o interesse pela vida política, mas que não existem porque a UNE não cumpre sua função. Mas há outras razões até mais importantes, porque estruturais.
Na verdade, o que o País precisa é de uma Reforma Política maiúscula, que vai contrariar interesses da classe política, sim, mas é absolutamente essencial para fazer avançar a democracia, germinar a ética política em eleitos e eleitores, dar musculatura às instituições, proteger o cidadão de maus governantes e fazer progredir a educação e a consciência do voto. A reforma política deveria anteceder a todas as outras, porque estrutura, pavimenta, prepara terreno para as demais reformas de que o Brasil precisa. Apesar disso, vem sendo postergada há 25 anos. FHC reconhecia sua importância, mas empurrou-a para o Congresso; Lula simplesmente a ignorou.
Se quiser governar em paz, com seriedade e respeito aos brasileiros, o próximo presidente precisa enviar sua proposta ao Congresso no 1.º dia de mandato. E ela não pode se limitar à implantação do voto distrital. Isso é importante, mas o País precisa de regras que garantam uma relação mais limpa e ética entre governo e Congresso, sem o vergonhoso troca-troca com deputados, sem o loteamento partidário de cargos públicos que politiza e mediocriza a gestão pública. Regras que componham um cinturão protetor contra a corrupção, o desvio do dinheiro público, o financiamento sujo de campanha eleitoral.
É a falta dessas regras, a excessiva exposição do País a práticas políticas desonestas, a sensação de impotência para mudar o que está errado que estão na raiz do desinteresse e da aversão de jovens e adultos pela vida política.”
Corrupção? Peleguismo? Artigo da Professora Suely Caldas no “Estado de S. Paulo” tenta explicar o desinteresse dos jovens pela política, divulgado pelo TSE em pesquisa recente. Como reverter esse quadro?
“Há dias o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mediu o desencanto e a decepção dos jovens com a política e os políticos: o número de eleitores brasileiros de 16 e 17 anos – cujo voto é voluntário, não obrigatório – caiu de 2,55 milhões para 2,39 milhões entre 2006 e 2010. Espanto e tristeza para as gerações de pais e avós que passaram 21 anos de ditadura militar proibidos de votar e em 1989 correram com euforia às urnas para votar pela primeira vez para presidente. No trabalho, nas escolas e universidades, quando o assunto surge, os jovens expressam desilusão e um preocupante sentimento de aversão à política.
Afinal, o que há com nossos jovens?
A corrupção – que no governo Lula piorou, tornou-se corriqueira e banal – é o mal maior que abala a crença dos jovens, mas não o único. Neste item a sensação de indiferença e impotência ficou mais aliviada com a promulgação da Lei da Ficha Limpa, que arregimentou mais de 1 milhão de assinaturas de brasileiros indignados contra o cinismo e a impunidade de políticos. Eles têm recorrido à Justiça para garantir o registro da candidatura, e por vezes são bem-sucedidos, como no caso de José Sarney Filho, no Maranhão. Mas pelo menos agora há uma lei que afasta o mau político da vida pública e um portal para o eleitor fiscalizar o seu candidato.
E a União Nacional dos Estudantes, a histórica e combativa UNE do passado, liderou ou ao menos participou do movimento? Afinal, varrer do Congresso e de cargos públicos os corruptos é bandeira política histórica da UNE e tem enorme poder de sensibilizar os estudantes. Mas a UNE do presente abdicou dessa bandeira. Preocupada em arrancar cada vez mais verbas públicas do governo, não interessa à sua direção mexer num vespeiro que também a beneficia. Há dois meses a UNE recebeu de presente de Lula R$ 15 milhões para construir nova sede; levou dinheiro da Petrobrás; mais R$ 7,8 milhões do Ministério da Educação para pesquisar a história do movimento estudantil; e o dinheiro foi parar numa empresa de segurança em Salvador. Não presta contas a ninguém.
A subserviência financeira ao poder, a prática do peleguismo, a renúncia em liderar lutas políticas que desagradem ao governo, o silêncio omisso nas escolas e universidades fizeram da UNE uma entidade não respeitada nem reconhecida pelos estudantes. E é uma das razões que explicam a indiferença da juventude à política. Mas não a única. Ela faz parte do conjunto de ações de liderança que visam a despertar no jovem o interesse pela vida política, mas que não existem porque a UNE não cumpre sua função. Mas há outras razões até mais importantes, porque estruturais.
Na verdade, o que o País precisa é de uma Reforma Política maiúscula, que vai contrariar interesses da classe política, sim, mas é absolutamente essencial para fazer avançar a democracia, germinar a ética política em eleitos e eleitores, dar musculatura às instituições, proteger o cidadão de maus governantes e fazer progredir a educação e a consciência do voto. A reforma política deveria anteceder a todas as outras, porque estrutura, pavimenta, prepara terreno para as demais reformas de que o Brasil precisa. Apesar disso, vem sendo postergada há 25 anos. FHC reconhecia sua importância, mas empurrou-a para o Congresso; Lula simplesmente a ignorou.
Se quiser governar em paz, com seriedade e respeito aos brasileiros, o próximo presidente precisa enviar sua proposta ao Congresso no 1.º dia de mandato. E ela não pode se limitar à implantação do voto distrital. Isso é importante, mas o País precisa de regras que garantam uma relação mais limpa e ética entre governo e Congresso, sem o vergonhoso troca-troca com deputados, sem o loteamento partidário de cargos públicos que politiza e mediocriza a gestão pública. Regras que componham um cinturão protetor contra a corrupção, o desvio do dinheiro público, o financiamento sujo de campanha eleitoral.
É a falta dessas regras, a excessiva exposição do País a práticas políticas desonestas, a sensação de impotência para mudar o que está errado que estão na raiz do desinteresse e da aversão de jovens e adultos pela vida política.”