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O verdadeiro risco do seu investimento no Brasil é a caneta do governo 

No Brasil, o maior risco não está nos gráficos — está na instabilidade de quem segura a caneta em Brasília 

Rodrigues, da Abvcap: Pós-pandemia foi marcado por cenário mais adverso para captações e saídas de investimentos (We Are/Getty Images)

Rodrigues, da Abvcap: Pós-pandemia foi marcado por cenário mais adverso para captações e saídas de investimentos (We Are/Getty Images)

Publicado em 23 de junho de 2025 às 20h00.

Quantas vezes você já ouviu que a bolsa de valores é um cassino? Ou que precisa ter estômago forte para aguentar as montanhas-russas do mercado? Nós fomos ensinados a temer a volatilidade, a ver o sobe e desce dos gráficos como o grande bicho-papão dos investimentos. Anos de atuação no mercado financeiro me deram clareza. E hoje posso afirmar, com a tranquilidade de quem já viu de tudo um pouco, que o maior perigo ao patrimônio vem de um lugar bem diferente. Ele vem da caneta de um burocrata em Brasília. 

Essa ameaça tem um nome que resume tudo. É o "risco-caneta". Aquele poder quase mágico que uma única assinatura tem de evaporar o valor do trabalho, da noite para o dia, sem qualquer aviso. A volatilidade do mercado segue alguma lógica, por mais caótica que pareça. O risco-caneta é puramente arbitrário. Ele rasga contratos, ignora a lógica econômica e destrói planejamentos de uma vida inteira. 

Um histórico de ataques ao patrimônio 

Se isso soa como exagero, vale a pena voltar até março de 1990. No Plano Collor, milhões de brasileiros foram dormir com seu dinheiro na poupança e acordaram com as contas bloqueadas. O governo simplesmente confiscou 80% dos ativos financeiros do país. A justificativa era combater a inflação. O resultado foi uma recessão brutal e, mais importante, uma ferida de desconfiança que nunca cicatrizou. Aquele ato mostrou que, para o Estado, seu patrimônio pode ser uma simples ferramenta para resolver os problemas que ele mesmo criou. 

Talvez você pense que o confisco foi um evento único, extremo. Acontece que a caneta estatal tem métodos mais sutis de expropriação. Pense na hiperinflação que vivemos nos anos 80 e 90. Aquilo não foi um desastre natural. Foi a consequência direta de governos que imprimiam dinheiro sem controle para financiar seus gastos. A inflação é o imposto mais covarde que existe. Ela corrói seu poder de compra silenciosamente, dia após dia, punindo principalmente quem guarda dinheiro e não tem como se proteger. 

A caneta também ataca de forma setorial, com consequências devastadoras. Em 2012, uma Medida Provisória mudou as regras do setor elétrico para forçar uma queda na conta de luz. A intenção pode ter parecido boa no papel. Na prática, a assinatura naquela MP fez o valor de mercado de gigantes como Eletrobras e Cemig derreter. Investidores que confiaram em regras estáveis e contratos de longo prazo viram seu patrimônio dizimar. A lição é amarga. A segurança jurídica no Brasil é um conto de fadas. 

A ameaça de ontem, o risco de hoje 

Alguém pode argumentar que isso tudo é passado. Eu gostaria de concordar, mas os fatos do presente me impedem. Olhemos para a trajetória da nossa dívida pública. Mesmo com arrecadação de impostos em níveis recordes, o governo Lula continua gastando mais do que arrecada, empurrando a conta para o futuro. Essa indisciplina fiscal crônica é o combustível que alimenta a desconfiança. Ela nos coloca sob a ameaça constante de mais impostos, mais inflação ou, em cenários extremos, de alguma "solução criativa" que a caneta de um governante desesperado possa produzir. 

Nesse cenário, até o porto seguro mais procurado pelo brasileiro se torna um paradoxo. Correr para o Tesouro Selic em momentos de crise parece a decisão mais lógica. Afinal, você está emprestando dinheiro para o próprio governo. O problema surge quando o próprio governo é a fonte da instabilidade. Se a crise for grave o suficiente, até o garantidor do seu título se torna o seu maior risco. 

A defesa lógica: um pé fora do barco 

Então, qual é a saída? Se a principal ameaça ao seu patrimônio está dentro de casa, a defesa mais lógica é construir parte da sua fortaleza do lado de fora. A diversificação internacional e a dolarização de uma parte dos seus investimentos deixaram de ser um luxo ou uma estratégia para buscar lucros exóticos. Elas se tornaram uma apólice de seguro básica contra o Risco-Brasil. É ter um pé fora do barco, para o caso de a tripulação resolver virá-lo de propósito. 

No fim das contas, a verdadeira educação financeira para o brasileiro vai muito além de entender juros compostos. Ela demanda uma compreensão dinâmica da nossa própria história e do comportamento do nosso Estado. Meu conselho é simples. Continue respeitando a volatilidade do mercado. Mas, por favor, nunca subestime o poder de destruição que uma simples caneta pode ter em mãos erradas. 

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