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O tal do sigilo

Luiz Inácio da Silva, quem diria, resolveu chamar o povo de ignorante. Ou, mais precisamente, de burro. Num comício em Guarulhos, onde encarnou mais uma vez o apresentador de auditório – só faltou gritar: “A Dilma vai para o trono ou não vai?” –, o presidente decidiu apelar. Recorrendo aos seus superpoderes de tutor da massa, disparou do palanque as palavras hipnóticas, caprichando na voz de ogro que seus súditos […] Leia mais

DR

Da Redação

Publicado em 11 de setembro de 2010 às 01h36.

Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às 11h16.

Luiz Inácio da Silva, quem diria, resolveu chamar o povo de ignorante. Ou, mais precisamente, de burro.

Num comício em Guarulhos, onde encarnou mais uma vez o apresentador de auditório – só faltou gritar: “A Dilma vai para o trono ou não vai?” –, o presidente decidiu apelar.

Recorrendo aos seus superpoderes de tutor da massa, disparou do palanque as palavras hipnóticas, caprichando na voz de ogro que seus súditos amam ouvir. A hipnose consistia basicamente em dizer, sobre o escândalo na Receita Federal:

Vocês não estão vendo nada disso.
Vocês não estão ouvindo nada disso.
Vocês não estão sabendo de nada disso.

Textualmente, Lula disse o seguinte, aos berros: “Cadê esse tal de sigilo que não apareceu até agora?! Cadê o vazamento das informações?!”

A premissa do grande líder ao questionar “esse tal de sigilo” é óbvia: o povo é idiota e não sabe o que é sigilo fiscal. Porque o que aconteceu com o tal do sigilo de Verônica Serra todo mundo sabe: foi destruído, pulverizado pela espionagem dentro da Receita Federal.

De fato, o sigilo desapareceu – e o que não apareceu até agora foi o mandante do crime. Só se sabe que o autor da falsa procuração foi filiado ao PT.

Com sua tentativa de hipnose, Lula quis confundir “sigilo” com “dossiê” ou algo similar, forçando uma inversão dos fatos. Quis insinuar que é preciso aparecer um documento pirata qualquer, como um daqueles com a grife dos aloprados, para se confirmar o escândalo.

Lula sabe da quebra do sigilo de Verônica. No seu canal direto e particular com o povo, resolveu negá-la. Apostou na mistificação. Mentiu.

É cada vez mais fácil entender por que o Plano Dilma arquiteta o controle da imprensa. Numa hora dessas, desabaria sobre os editores de jornais e telejornais o crivo dos conselheiros do povo. Eles apontariam motivação ideológica na cobertura do escândalo da Receita – que as autoridades tentaram esconder.

Lula e o PT não querem intermediários na sua conversa com o povo. Querem ser sua própria imprensa marrom.

Publicado no blog de Guilherme Fiuza no portal da revista “Época”

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Luiz Inácio da Silva, quem diria, resolveu chamar o povo de ignorante. Ou, mais precisamente, de burro.

Num comício em Guarulhos, onde encarnou mais uma vez o apresentador de auditório – só faltou gritar: “A Dilma vai para o trono ou não vai?” –, o presidente decidiu apelar.

Recorrendo aos seus superpoderes de tutor da massa, disparou do palanque as palavras hipnóticas, caprichando na voz de ogro que seus súditos amam ouvir. A hipnose consistia basicamente em dizer, sobre o escândalo na Receita Federal:

Vocês não estão vendo nada disso.
Vocês não estão ouvindo nada disso.
Vocês não estão sabendo de nada disso.

Textualmente, Lula disse o seguinte, aos berros: “Cadê esse tal de sigilo que não apareceu até agora?! Cadê o vazamento das informações?!”

A premissa do grande líder ao questionar “esse tal de sigilo” é óbvia: o povo é idiota e não sabe o que é sigilo fiscal. Porque o que aconteceu com o tal do sigilo de Verônica Serra todo mundo sabe: foi destruído, pulverizado pela espionagem dentro da Receita Federal.

De fato, o sigilo desapareceu – e o que não apareceu até agora foi o mandante do crime. Só se sabe que o autor da falsa procuração foi filiado ao PT.

Com sua tentativa de hipnose, Lula quis confundir “sigilo” com “dossiê” ou algo similar, forçando uma inversão dos fatos. Quis insinuar que é preciso aparecer um documento pirata qualquer, como um daqueles com a grife dos aloprados, para se confirmar o escândalo.

Lula sabe da quebra do sigilo de Verônica. No seu canal direto e particular com o povo, resolveu negá-la. Apostou na mistificação. Mentiu.

É cada vez mais fácil entender por que o Plano Dilma arquiteta o controle da imprensa. Numa hora dessas, desabaria sobre os editores de jornais e telejornais o crivo dos conselheiros do povo. Eles apontariam motivação ideológica na cobertura do escândalo da Receita – que as autoridades tentaram esconder.

Lula e o PT não querem intermediários na sua conversa com o povo. Querem ser sua própria imprensa marrom.

Publicado no blog de Guilherme Fiuza no portal da revista “Época”

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