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O preço da má escolha fiscal: o Brasil vai perder do mundo (de novo!)  

Enquanto o mundo deve crescer 2,9% em 2025, Brasil crescerá 2,2% e a Argentina, 5,2%

Congresso Nacional: controle de gastos públicos e aumento de produtividade dependem da aprovação de propostas no Legislativo (Leandro Fonseca/Exame)

Congresso Nacional: controle de gastos públicos e aumento de produtividade dependem da aprovação de propostas no Legislativo (Leandro Fonseca/Exame)

Publicado em 9 de junho de 2025 às 19h58.

A epidemia de gasto público segue firme, o crescimento segue em marcha forçada, mas as projeções para 2025 já trazem a dura realidade: o Brasil vai voltar a crescer menos do que o mundo e, de maneira ainda mais vexatória, também crescerá menos do que a Argentina. Sim, apesar da gastança, da retórica otimista e das apostas de que o Estado pode empurrar a atividade econômica via endividamento público, os números divulgados na última semana pelo FMI e pela OCDE confirmam aquilo que já vínhamos alertando há meses — o Brasil está ficando para trás. De novo. E, dessa vez, estamos ficando para trás até do vizinho que, até outro dia, era símbolo do colapso econômico e da irresponsabilidade fiscal. 

Na última semana, tanto o FMI quanto a OCDE divulgaram suas previsões para o crescimento global em 2025 e 2026. Segundo a OCDE, o mundo deve crescer 2,9% em 2025 e repetir o número em 2026. E o Brasil? Vai ficar para trás, com previsões de apenas 2,2% em 2025 e 2,1% em 2026. A gastança não gerou crescimento — ao contrário, nos isolou da tendência global de retomada. Ou seja, mesmo gastando mais, cresceremos menos. E antes que nos acusem de pessimistas ou ideológicos, vale lembrar: as previsões da OCDE estão em linha com o FMI, que também projeta um desempenho econômico inferior ao da média global para o Brasil nos próximos dois anos. 

Mas voltemos à Argentina. A OCDE prevê crescimento de 5,2% para 2025 e de 4,3% para 2026 no país vizinho — acima do Brasil, do G20 e até da média mundial. Há alguns anos, isso seria impensável. Inimaginável. Mas hoje, a realidade é que a Argentina se tornou um contraexemplo que deveria envergonhar o Brasil. O país tem colhido os primeiros frutos de uma guinada econômica radical: redução drástica da atuação do Estado, reformas estruturais, corte de subsídios e, o mais importante, superávits primários recorrentes ao longo de todo o ano de 2024, com expectativa de manutenção em 2025. 

É claro que a inflação argentina ainda está em níveis elevados e longe da estabilidade — um reflexo do passado recente. Mas, à luz da trajetória de reformas, isso pode ser só uma questão de tempo. E o contraste se acentua: o Brasil, que sempre se preocupou em “não virar a Argentina”, está conseguindo justamente isso. Já flertamos com controle de capitais, como se viu nas recentes medidas de aumento de IOF, um balão de ensaio que lembra (e muito) as intervenções cambiais e tributárias do populismo vizinho. Estamos perdendo em crescimento, em responsabilidade fiscal, e o próximo passo, se não corrigirmos o rumo, será perder também em inflação. Embora esperemos que não, estamos perigosamente no caminho. 

Essa inversão de papéis evidencia o tamanho do nosso fracasso na política econômica. A escolha feita com a PEC da Transição, reindexando gastos obrigatórios e abandonando qualquer compromisso real com a austeridade, lançou as bases para esse ciclo de baixo crescimento. O arcabouço fiscal em vigor é leniente, permissivo, inócuo e estruturalmente insustentável. Não impõe limites, não pune excessos, e ainda estimula a crença de que mais gasto público resolve qualquer problema. Resolve, sim — o problema eleitoral do curto prazo. Mas agrava todos os outros. A ideia de que é possível gastar mais sem consequência alguma virou regra, como se a contabilidade pública fosse um jogo de mágica. Mas não é. 

E não para por aí. O relatório da OCDE também mostra que o Brasil terá inflação mais alta e, consequentemente, juros reais mais elevados do que o G20, os EUA e a zona do euro. Isso, apesar de termos iniciado o ciclo de alta de juros antes de quase todas essas economias. Resultado? Teremos que manter os juros altos por mais tempo e vamos iniciar os cortes depois dos demais. Ou seja, além de crescer menos, carregamos a cruz de uma política monetária mais restritiva por mais tempo — um combo indigesto que não se justifica se o objetivo é um crescimento saudável e sustentável. 

Isso é reflexo direto das escolhas erradas que fazemos. Insistimos em ver o Estado como o grande motor do crescimento, sempre pelo viés do consumo, do gasto corrente, do endividamento e da contabilidade criativa. Crescemos menos, com mais distorções, e continuamos a adiar o essencial: reformas que aumentem produtividade, que atraiam o investimento privado, que corrijam as travas estruturais que há décadas sabotam nosso potencial. 

O recado da OCDE é claro: o Brasil está crescendo menos do que poderia — e está ficando para trás por opção. E isso é, sim, culpa de uma política fiscal desequilibrada, de um governo que opta pelo imediatismo e despreza a previsibilidade e o equilíbrio das contas. Crescer com base em consumo financiado por dívida pública pode até parecer conveniente no curto prazo — e rende palmas no noticiário. Mas esse tipo de crescimento não é sustentável. Gera inflação, amplia distorções, corrói a confiança e, cedo ou tarde, cobra a conta. 

Economia não é alquimia e não existem soluções fáceis para problemas difíceis. É preciso fazer escolhas — e, às vezes, é preciso escolher o caminho mais longo, mas assertivo. 

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