Produtor rural que usa tecnologia no campo, do pivô de irrigação a softwares de gestão (CNA/Senar/Divulgação)
Instituto Millenium
Publicado em 8 de agosto de 2025 às 21h23.
*Nathália Ceolin Vieira
A revolução verde começou há tanto tempo no Brasil que é difícil acreditar como alguns intitulam o ramo como “retrógrado” e degradador. No país onde convivem a maior biodiversidade do mundo e um dos maiores celeiros agrícolas do planeta, a figura do agricultor é cada vez mais protagonista de uma revolução silenciosa: produzir mais, com menos impacto – ou, melhor ainda, regenerando o que já foi degradado.
Durante muito tempo, crescimento econômico e preservação ambiental foram colocados em lados opostos da balança. Hoje o campo brasileiro mostra que isso é uma falsa dicotomia. Em um cenário de instabilidades geopolíticas, alta nos custos de insumos e aumento da demanda global por alimentos, os produtores nacionais têm respondido com tecnologia, inovação e extrema eficiência.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o agronegócio foi responsável por aproximadamente 24% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2024, reafirmando sua importância para a geração de riqueza e empregos para o país. O campo não apenas alimenta a população nacional e mundial, mas também sustenta cadeias logísticas, industriais e de serviços, atuando como um dos pilares da estabilidade econômica brasileira.
Nos últimos anos, impulsionados pela alta do dólar, pela guerra entre Rússia e Ucrânia, e pela necessidade de aumentar a produção agropecuária dentro das áreas cultiváveis, os produtores têm promovido uma verdadeira revolução verde no manejo dos seus cultivos. A integração entre lavoura e pecuária, ou, nos casos aplicáveis, lavoura-pecuária-floresta, é uma realidade que otimiza o uso da terra, elevando a produtividade, diversificando a produção – de forma a tornar os produtores antifrágeis, ou seja, menos sujeitos a volatilidade –, tudo isso com uma baixa emissão de gases causadores do efeito estufa.
Outra tecnologia inovadora é a utilização de insumos biológicos como alternativa aos fertilizantes químicos tradicionais. Bactérias fixadoras de nitrogênio, fungos e outros bioinsumos têm sido amplamente empregados para melhorar a fertilidade do solo, reduzir custos e minimizar impactos ambientais. Essa biotecnologia não só aumenta a eficiência produtiva, mas também promove maior resiliência dos sistemas agropecuários diante das mudanças climáticas.
O Brasil não é reconhecido somente “da porteira para dentro” pela agricultura regenerativa. Neste ano, a cientista brasileira Mariangela Hungria1, pesquisadora da Embrapa Soja, foi anunciada como ganhadora do prêmio World Food Prize, reconhecido como o “Nobel da Agricultura”, justamente por ser uma pioneira no estudo sobre a utilização de bactérias, tais como a rhizobia, para auxiliar na fixação biológica de nitrogênio, um processo por meio do qual as plantações formam uma associação benéfica com as bactérias do solo que fornecem o mesmo elemento, um nutriente essencial para o crescimento da planta.2 Para se ter ideia da extensão da adoção das práticas pesquisadas por Mariangela pelo agro brasileiro, a inoculação da soja hoje é adotada em aproximadamente 85% da área total cultivada, representando a maior taxa de adoção do mundo, segundo a Embrapa.
Por outro lado, dentre os países agroexportadores, o nosso é reconhecido mundialmente por ter uma das legislações mais rígidas do mundo em relação à preservação. O produtor rural, via de regra, cumpre o Código Florestal e as normativas dos diversos órgãos regulamentadores, de forma que o Brasil já é considerado um líder mundial em termos de área protegida, com cerca de 66% do território preservado.
É por esses motivos que o Brasil tem nas mãos a oportunidade de mostrar ao mundo, especialmente no palco da COP Belém, que é possível conciliar progresso ambiental com crescimento econômico sustentado pela liberdade de empreender. O agronegócio brasileiro, constantemente pressionado por narrativas simplistas que o associam à degradação ambiental, é hoje um dos setores que mais investem em inovação verde, biotecnologia e manejo regenerativo da terra.
Não é com mais regulação, burocracia ou desconfiança estatal que protegeremos o meio ambiente, mas, sim, com a valorização do capital humano no campo, a liberdade para inovar e a confiança na capacidade do produtor rural de ser protagonista da transição ecológica.
A preservação não precisa ser inimiga da produção – e o agronegócio prova isso ao utilizar tecnologias como a integração lavoura-pecuária-floresta, o uso de bioinsumos e práticas de recuperação do solo, ao mesmo tempo em que alimenta milhões e movimenta um quarto do PIB nacional.
O futuro sustentável será construído por aqueles que conhecem a terra, vivem dela e por ela trabalham. Que a COP Belém reconheça isso e sirva como tribuna para o Brasil mostrar que o verdadeiro guardião do meio ambiente veste chapéu, pisa no barro e acredita no livre mercado como alavanca da sustentabilidade.
*Nathália Ceolin Vieira é advogada, possui LL.M. em Direito dos Negócios e é sócia da FFP Advocacia. Associada do Instituto de Estudos Empresariais (IEE)