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O explosivo conceito de raça em xeque

Matéria na Zero Hora de hoje, sobre o lançamento de “Uma Gota de Sangue” na Feira do Livro de Porto Alegre: “DEMÉTRIO MAGNOLI AUTOGRAFA HOJE OBRA NA QUAL SUSTENTA QUE A IDEIA DE IDENTIDADE RACIAL É UM INSTRUMENTO DO JOGO POLÍTICO O sociólogo e escritor Demétrio Magnoli, 50 anos, diz estar em busca de uma discussão. Autor de Uma Gota de Sangue – História do Pensamento Racial, obra na qual […] Leia mais

DR

Da Redação

Publicado em 3 de novembro de 2009 às 11h43.

Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às 13h00.

Matéria na Zero Hora de hoje, sobre o lançamento de “Uma Gota de Sangue” na Feira do Livro de Porto Alegre:

“DEMÉTRIO MAGNOLI AUTOGRAFA HOJE OBRA NA QUAL SUSTENTA QUE A IDEIA DE IDENTIDADE RACIAL É UM INSTRUMENTO DO JOGO POLÍTICO

O sociólogo e escritor Demétrio Magnoli, 50 anos, diz estar em busca de uma discussão. Autor de Uma Gota de Sangue – História do Pensamento Racial, obra na qual faz uma crítica contundente às políticas de afirmação racial recentemente adotadas pelo governo brasileiro, Magnoli afirma ter esperado uma polêmica de verdade, mas reclama por ter sido deixado sozinho na arena.

– Até o momento, não chegou a mim nenhuma crítica por parte dos defensores das políticas de cotas que se detivesse sobre os argumentos do livro. Já me xingaram, xingaram o livro, mas o debate aprofundado, que eu estava esperando ainda não aconteceu – diz o autor, que estará em Porto Alegre hoje para um debate, às 18h30min, na Sala dos Jacarandás do Memorial do Rio Grande do Sul.

Às 20h30min, Magnoli autografa seu livro. Na obra, dedica-se a defender a tese polêmica de que os movimentos multiculturais que lutam por políticas afirmativas estão na verdade se valendo do argumento que legitimou a exploração colonial europeia no século 19, o do mito da raça:

– Esse conceito contemporâneo de raça que temos hoje é recente, tem menos de dois séculos e só se consolida a partir da Teoria do Evolucionismo. Do ponto de vista histórico, ele é deflagrado por uma necessidade de apresentar resposta à ideia iluminista de que todos são iguais. Se todos são iguais, que justificativa os europeus teriam para dominar?

Para Magnoli, a explicação surge no decantado conceito do “fardo do homem branco” de que fala Rudyard Kipling: o branco, que seria superior, teria o dever de civilizar outros povos.

– Quem dá a resposta a esse dilema é o “racismo científico”, que usa a teoria da evolução para provar que a chamada raça branca seria a mais evoluída.

Magnoli faz uma aproximação histórica e sociológica do problema. Não genética. Confrontado com a posição do professor Francisco Salzano, geneticista que defende que os humanos podem, sim, ser agrupados em raças, embora reconheça que o tema é delicado, Magnoli rebate que se trata de uma tese minoritária e depois diz que a discussão se dá entre geneticistas, área que não é a sua. Mas insiste no uso político do conceito de raça:

– O conceito de raça é um instrumento do jogo político de poder, como os de nação e de classe social, mas a raça é mais perigosa para a democracia. Você muda de classe, de partido, mas não de raça, é uma lealdade eterna a um grupo.”

Matéria na Zero Hora de hoje, sobre o lançamento de “Uma Gota de Sangue” na Feira do Livro de Porto Alegre:

“DEMÉTRIO MAGNOLI AUTOGRAFA HOJE OBRA NA QUAL SUSTENTA QUE A IDEIA DE IDENTIDADE RACIAL É UM INSTRUMENTO DO JOGO POLÍTICO

O sociólogo e escritor Demétrio Magnoli, 50 anos, diz estar em busca de uma discussão. Autor de Uma Gota de Sangue – História do Pensamento Racial, obra na qual faz uma crítica contundente às políticas de afirmação racial recentemente adotadas pelo governo brasileiro, Magnoli afirma ter esperado uma polêmica de verdade, mas reclama por ter sido deixado sozinho na arena.

– Até o momento, não chegou a mim nenhuma crítica por parte dos defensores das políticas de cotas que se detivesse sobre os argumentos do livro. Já me xingaram, xingaram o livro, mas o debate aprofundado, que eu estava esperando ainda não aconteceu – diz o autor, que estará em Porto Alegre hoje para um debate, às 18h30min, na Sala dos Jacarandás do Memorial do Rio Grande do Sul.

Às 20h30min, Magnoli autografa seu livro. Na obra, dedica-se a defender a tese polêmica de que os movimentos multiculturais que lutam por políticas afirmativas estão na verdade se valendo do argumento que legitimou a exploração colonial europeia no século 19, o do mito da raça:

– Esse conceito contemporâneo de raça que temos hoje é recente, tem menos de dois séculos e só se consolida a partir da Teoria do Evolucionismo. Do ponto de vista histórico, ele é deflagrado por uma necessidade de apresentar resposta à ideia iluminista de que todos são iguais. Se todos são iguais, que justificativa os europeus teriam para dominar?

Para Magnoli, a explicação surge no decantado conceito do “fardo do homem branco” de que fala Rudyard Kipling: o branco, que seria superior, teria o dever de civilizar outros povos.

– Quem dá a resposta a esse dilema é o “racismo científico”, que usa a teoria da evolução para provar que a chamada raça branca seria a mais evoluída.

Magnoli faz uma aproximação histórica e sociológica do problema. Não genética. Confrontado com a posição do professor Francisco Salzano, geneticista que defende que os humanos podem, sim, ser agrupados em raças, embora reconheça que o tema é delicado, Magnoli rebate que se trata de uma tese minoritária e depois diz que a discussão se dá entre geneticistas, área que não é a sua. Mas insiste no uso político do conceito de raça:

– O conceito de raça é um instrumento do jogo político de poder, como os de nação e de classe social, mas a raça é mais perigosa para a democracia. Você muda de classe, de partido, mas não de raça, é uma lealdade eterna a um grupo.”

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