O cenário do crédito (mal) dirigido
Cultura de privilégios também está presente no mercado de crédito brasileiro
institutomillenium
Publicado em 11 de março de 2019 às 13h30.
Na última parte da entrevista especial sobre o mercado de crédito brasileiro, o economista e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Istvan Karoly Kasznar traça um panorama sobre o setor no país. Embora a quantidade de crédito dirigido no Brasil venha caindo ao longo dos anos, o mecanismo ainda gera desigualdades e desestimula a concorrência na economia, com impactos na sua capacidade de crescimento.
+ Entenda as duas modalidades de crédito: livre e dirigido
Segundo Istvan, o mercado de crédito no Brasil teve uma evolução razoável até 2015. A diminuição ocorrida nos anos subsequentes foi consequência da situação fiscal do Estado, que convive com um grande déficit público e menos verbas disponíveis. O crédito livre, portanto, aumentou a sua importância no setor. Ainda assim, as distorções no sistema perduram: “São, de grosso modo, 2.200 empresas de um total de mais de 2 milhões e 548 mil que estão registradas como ativas no Ministério da Fazenda e que recebem inacreditáveis 80% dos recursos dos créditos dirigidos”, explica, ressaltando que esta hiperconcentração estimula o surgimento de casos de corrupção como os assistidos recentemente envolvendo grandes empreiteiras e organizações brasileiras. Assista!
[youtube https://www.youtube.com/watch?v=KgnUO0HkzJI%5D
De acordo com o economista, entre 2003 e 2016, sobretudo a partir de 2011, boa parte dos recursos de crédito dirigido foi usada, através do BNDES, para financiar empresas que já levavam o título de líderes setoriais. “Esta é uma maneira de você concentrar renda em quem já possui poder, riqueza e capacidade de produção, sem ajudar exatamente todos quantos a rigor que poderiam produzir mais, mas não conseguem captar dinheiro barato porque não possuem esse poder de barganha, organização ou estrutura”.
Para Istvan, assim como no mercado de crédito, a economia brasileira tem um histórico de desestímulo à competição. Isso pode ser visto, por exemplo, no próprio sistema bancário. Segundo o especialista, os cinco maiores bancos do país oferecem juntos mais do que 63% do total dos créditos e 61% das captações de recursos.
O governo federal, através do Banco Central, já tem desenvolvido estudos técnicos para saber a real situação do mercado de crédito dirigido no país. Na opinião de Istvan, é preciso fazer muito mais: “O governo, ao atuar como Estado, há de ser um importante agente que ouve a sociedade, cria uma temperança correta e, através dos debates no Congresso Nacional, repercute em seu poder Executivo as boas práticas da governança. Essa temática é muito importante porque evita a continuidade da piora da má distribuição de renda no Brasil”.
Na última parte da entrevista especial sobre o mercado de crédito brasileiro, o economista e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Istvan Karoly Kasznar traça um panorama sobre o setor no país. Embora a quantidade de crédito dirigido no Brasil venha caindo ao longo dos anos, o mecanismo ainda gera desigualdades e desestimula a concorrência na economia, com impactos na sua capacidade de crescimento.
+ Entenda as duas modalidades de crédito: livre e dirigido
Segundo Istvan, o mercado de crédito no Brasil teve uma evolução razoável até 2015. A diminuição ocorrida nos anos subsequentes foi consequência da situação fiscal do Estado, que convive com um grande déficit público e menos verbas disponíveis. O crédito livre, portanto, aumentou a sua importância no setor. Ainda assim, as distorções no sistema perduram: “São, de grosso modo, 2.200 empresas de um total de mais de 2 milhões e 548 mil que estão registradas como ativas no Ministério da Fazenda e que recebem inacreditáveis 80% dos recursos dos créditos dirigidos”, explica, ressaltando que esta hiperconcentração estimula o surgimento de casos de corrupção como os assistidos recentemente envolvendo grandes empreiteiras e organizações brasileiras. Assista!
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De acordo com o economista, entre 2003 e 2016, sobretudo a partir de 2011, boa parte dos recursos de crédito dirigido foi usada, através do BNDES, para financiar empresas que já levavam o título de líderes setoriais. “Esta é uma maneira de você concentrar renda em quem já possui poder, riqueza e capacidade de produção, sem ajudar exatamente todos quantos a rigor que poderiam produzir mais, mas não conseguem captar dinheiro barato porque não possuem esse poder de barganha, organização ou estrutura”.
Para Istvan, assim como no mercado de crédito, a economia brasileira tem um histórico de desestímulo à competição. Isso pode ser visto, por exemplo, no próprio sistema bancário. Segundo o especialista, os cinco maiores bancos do país oferecem juntos mais do que 63% do total dos créditos e 61% das captações de recursos.
O governo federal, através do Banco Central, já tem desenvolvido estudos técnicos para saber a real situação do mercado de crédito dirigido no país. Na opinião de Istvan, é preciso fazer muito mais: “O governo, ao atuar como Estado, há de ser um importante agente que ouve a sociedade, cria uma temperança correta e, através dos debates no Congresso Nacional, repercute em seu poder Executivo as boas práticas da governança. Essa temática é muito importante porque evita a continuidade da piora da má distribuição de renda no Brasil”.