“O Brasil não tem uma política de migração que favoreça os gargalos da economia brasileira”
A entrada de ganenses no Brasil durante a Copa do Mundo e de haitianos nos últimos meses desperta a atenção para a forma como o país lida com a questão da imigração. Rubens Barbosa, ex-embaixador do Brasil em Londres (1994-1999) e em Washington (1999-2004), alerta para a ausência de uma política migratória direcionada para as necessidades econômicas do país. “O Brasil não tem uma política de migração organizada e orientada […] Leia mais
Publicado em 15 de julho de 2014 às, 18h30.
Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às, 08h24.
A entrada de ganenses no Brasil durante a Copa do Mundo e de haitianos nos últimos meses desperta a atenção para a forma como o país lida com a questão da imigração. Rubens Barbosa, ex-embaixador do Brasil em Londres (1994-1999) e em Washington (1999-2004), alerta para a ausência de uma política migratória direcionada para as necessidades econômicas do país. “O Brasil não tem uma política de migração organizada e orientada para favorecer os gargalos da economia brasileira”, conclui.
Assim como os haitianos e senegaleses, os ganenses vieram à procura de trabalho. De acordo com o ex-embaixador esse é o perfil de estrangeiros que o país mais atrai. “São imigrantes ocasionais que buscam empregos”, diz, lembrando que o Brasil os recebe em respeito a questões humanitárias. Barbosa acredita que o governo deveria desenvolver ações para incentivar a entrada de outro tipo de imigrantes. “Se nós contássemos com uma política de migração, estaria sendo estimulada a vinda de pessoas com um perfil importante para a economia brasileira”, afirma, acrescentando que o assunto merece a atenção do próximo governo: “O Ministério da Justiça e a sociedade brasileira precisam se mobilizar para enfrentar esse problema que deve crescer ao longo dos anos”.
Leia:
Instituto Millenium: Como o senhor avalia a atual política de migração do Brasil? Como é feito o controle de entrada no país?
Rubens Barbosa: O Brasil não tem uma política de migração organizada e orientada para favorecer os gargalos da economia brasileira. Se nós contássemos com uma política de migração, estaria sendo estimulada a vinda de pessoas com um perfil importante para a economia brasileira, como os indianos que atuam na área de informática. Assim, haveria uma política industrial que favoreceria a economia brasileira. Não temos nada disso. Se existe no papel, não vemos na prática. Podíamos atrair espanhóis e franceses desempregados na Europa para determinados setores da economia através de estímulos.
O Brasil fica exposto a um tipo de imigração de ocasião. Os haitianos vêm para cá buscando oportunidades de trabalho. A mesma coisa acontece com os ganenses, que vieram para a Copa e resolveram ficar aqui. O Brasil precisa desenvolver uma política porque à medida que o país crescer, a imigração vai aumentar, inclusive de pessoas provenientes de países da região. Nós não estamos preparados para isso. Já está começando. Há os bolivianos em São Paulo. Não temos uma política para atrair e cuidar dos imigrantes que se instalam ilegalmente no Brasil.