(Montagem IA)
Colunista
Publicado em 1 de agosto de 2025 às 13h45.
É quase um milagre que o Brasil ainda consiga produzir milionários. Em um ambiente desenhado para frustrar a iniciativa e punir o sucesso, gerar riqueza por aqui se torna um ato de pura teimosia e resiliência. Por isso, cada novo patrimônio relevante que surge no país não é fruto de um sistema eficiente, mas sim a exceção que sobrevive a uma gincana de obstáculos. O problema é que, depois de vencer essa maratona, o prêmio parece ser um convite para a porta de saída. Nosso país é o retrato do balde furado, onde a água que entra com esforço continua escorrendo pelos furos.
Os números da consultoria Henley & Partners para 2025 provam que o vazamento se tornou uma hemorragia. A previsão é a saída de 1.200 brasileiros com mais de um milhão de dólares. Somos o sexto país do mundo em fuga de milionários, uma posição vergonhosa que nos custará 8,4 bilhões de dólares. É um dinheiro que, gerado aqui a duras penas, vai agora gerar riqueza e oportunidades em outros lugares.
O alarme silencioso
É fácil cair na retórica de que não devemos nos preocupar com os ricos. Essa é uma visão míope. A migração de capital é um termômetro preciso da confiança em um país. Pessoas com mobilidade financeira são como canários na mina de carvão. São os primeiros a sentir a falta de oxigênio e a buscar ar puro. O êxodo deles é um alarme de que o ambiente se tornou tóxico para o investimento e para o planejamento de longo prazo.
As razões são as velhas conhecidas de todos nós. A insegurança pública, a instabilidade política crônica e um sistema tributário caótico formam o pano de fundo. Mas o prego no caixão da confiança é, muitas vezes, a imprevisibilidade das nossas instituições. O dinheiro, meu caro leitor, é um covarde por natureza. Ele não tolera a incerteza, e o Brasil se especializou em fabricá-la em escala industrial.
Sabe o que torna essa história ainda mais amarga? O fato de que, paradoxalmente, temos o maior número de milionários da América Latina. Mas esse dado não deveria nos enganar, pensando que aqui é fácil enriquecer. Longe disso. Ele se explica em parte pelo tamanho da nossa população, mas revela, acima de tudo, a teimosia impressionante de quem consegue prosperar no meio do caos, vencendo uma gincana diária contra a burocracia, os impostos e a insegurança. E o que fazemos com esses sobreviventes? Nós os empurramos para o aeroporto.
Eles partem em busca de portos seguros como Estados Unidos, Portugal ou Suíça. Lugares onde as regras do jogo são claras e, principalmente, respeitadas. Onde um contrato assinado é honrado e onde o futuro é minimamente previsível, permitindo que possam proteger o patrimônio que tanto custou para construir e dar um futuro mais estável para suas famílias.
Um rombo além dos bilhões
O problema é que essa fuga não leva apenas o dinheiro. Leva junto as pessoas que realmente movem a economia, os cérebros e os investidores capazes de criar os empregos de amanhã. Essa sangria provoca um efeito dominó na economia. Menos impostos são arrecadados (o que termina sobrando para você!), o mercado de alto padrão encolhe e nossa imagem na competição por investimentos fica arranhada. É a pior vitrine possível, que manda um recado direto ao investidor estrangeiro: Se nem os de casa confiam no futuro, por que um estranho confiaria?
A anatomia do fracasso
Já conhecemos o diagnóstico, então chega de lamentos. O ambiente no Brasil se tornou repulsivo ao investimento por três motivos que se somam. Temos um Judiciário que transforma o direito em loteria, onde um contrato pode não valer nada amanhã. Essa incerteza jurídica alimenta uma classe política que vive para a próxima crise, incapaz de pensar um país para a próxima geração. Para amarrar tudo isso, um emaranhado de impostos e regras tão absurdo que desanima quem quer produzir. Quando se juntam esses três venenos, o resultado é este. Um país que, na prática, expulsa seu próprio capital.
No fim das contas, a questão não é como o Brasil ainda consegue fabricar tantos sobreviventes, mas sim o que faremos para que eles queiram ficar e investir aqui. Por isso, chega de festejar a teimosia de quem vence apesar do sistema. Está na hora de ter a decência de consertar o balde furado, simplesmente para que ninguém mais precise ser herói.