Naércio Menezes: "Não estamos condenados a uma educação ruim"
Especialista analisa exemplos de sucesso e relaciona a educação à produtividade
institutomillenium
Publicado em 29 de abril de 2019 às 11h32.
Ph.D em Economia, professor, e coordenador do Centro de Políticas Públicas (CPP) do Insper, Naércio Menezes é enfático ao dizer que o avanço na área educacional do Brasil passa por um grande pacto pela educação envolvendo todo o país. Nesta terceira e última matéria da série especial produzida pelo Instituto Millenium, o especialista dá exemplos de sucesso e ressalta a importância do aprendizado para a expansão da economia e diminuição da pobreza dentro de uma sociedade. Segundo Naércio, “a educação e a saúde são as duas variáveis que conseguem, ao mesmo tempo, promover o crescimento econômico e reduzir a desigualdade”. Ouça a entrevista!
[soundcloud url="https://api.soundcloud.com/tracks/606302466" params="color=#ff5500&auto_play=false&hide_related=false&show_comments=true&show_user=true&show_reposts=false&show_teaser=true" width="100%" height="166" iframe="true" /]
Há menos de um mês à frente do Ministério da Educação, o ministro Abraham Weintraub tem uma lista com importantes providências a serem tomadas nos próximos meses. Dentre as prioridades apontadas por Naércio, está a questão central de como resolver o gargalo da aprendizagem dos jovens brasileiros, que ainda é ineficaz no país, sobretudo nos últimos anos da educação básica. “Precisamos pensar em políticas, baseadas em evidências, que melhorem o aprendizado dos alunos, especialmente no ensino médio”.
Para isso, focar em gestão é fundamental. No próprio país são muitos os exemplos de redes de ensino que quebraram paradigmas, mostrando que é possível vencer o círculo vicioso da má qualidade da educação. Sobral, município cearense, possui um Ideb, índice que avalia a educação básica, superior a nove, em uma escala que vai de zero a dez. Atualmente, de acordo com Naércio, 70 das 100 melhores escolas de ensino fundamental do Brasil estão no Ceará. Mas como essas regiões conseguiram avançar tanto em questão de aprendizagem? A resposta é gestão.
Ouça mais
Claudia Costin: Educação de qualidade para o Brasil chegar ao século XXI
João Batista Oliveira: Uma reforma liberal na educação
“Monitorar os resultados de todos os alunos, entender onde estão os problemas, conversar com professores e diretores para tentar melhorá-los, dar feedback constante aos docentes, foco na alfabetização, ou seja, não deixar os jovens atrasarem o seu aprendizado, estabelecer um currículo bem claro para cada série, valorização dos melhores professores e estudantes… O Ceará tem uma política, por exemplo, que as melhores escolas ajudam as piores, e ambas ganham com isso”, enumera Naércio, citando outros exemplos de redes que mostram que não estamos condenados a ter, para sempre, uma educação ruim no país. Pernambuco e Espírito Santo são regiões que também avançaram na área.
Falar em programas educacionais em um país da extensão do Brasil, com mais de 5.500 municípios, não é fácil. O economista lembra que, nem sempre, os gestores de cada cidade possuem estrutura gerencial para aplicar técnicas sofisticadas de gestão. “Um diretor de uma escola precisa ser um gestor muito competente, ele deve cuidar da infraestrutura da unidade, conversar com os pais, lidar com professores e com os alunos. Já o secretário de educação, que faz a gestão de todos os diretores, precisa ser ainda mais bem preparado. É difícil que você tenha 5.500 secretários com esse critério de gestão. Precisamos apoiar esses municípios, ter um entrosamento com o governo, possuir um Sistema Nacional de Educação, de avaliação de resultados, interagir com eles para melhorar a gestão e, assim, o aprendizado”.
A educação e a produtividade
Problemas econômicos, como o protecionismo e a falta de concorrência, não são os únicos causadores da baixa produtividade vista há 30 anos no Brasil. Naércio esclarece que a qualificação da mão de obra também influencia tais índices e, consequentemente, a eficiência da economia. “Historicamente, nos esquecemos de investir em educação. Ao longo do século XX, enquanto outros países estavam crescendo muito em termos educacionais de qualidade, nós ficamos para trás”. Segundo o economista, sem trabalhadores capacitados faltarão pessoas no mercado capazes de lidar com as inovações tecnológicas que só se fortalecem com o passar dos anos, além de haver no país uma insuficiência na promoção de ideias e revoluções que fazem diferença. “Sem isso, você não consegue competir com os países avançados. Vamos ficando cada vez mais atrás, sem crescimento de produtividade e com a renda estagnada no longo prazo. Os filhos vão ganhar a mesma coisa que os pais e assim sucessivamente”.
A educação e o combate à pobreza
É também a educação que exerce papel fundamental na construção de uma sociedade com oportunidades justas para todos. “Toda vez que aumenta o nível educacional, como os filhos de elite já são mais educados, esse avanço ocorre nas famílias mais pobres. Essas pessoas vão ganhar mais, vão ingressar no mercado de trabalho formal, e isso reduz a desigualdade de renda. Você pode ter políticas muito boas de transferência de renda, de focalização, seguro desemprego, mas são temporárias, para aliviar uma situação de pobreza extrema. Na verdade, para diminuir sustentadamente a desigualdade, o caminho mais obvio é melhorar a qualidade da educação”, reforça Naércio.
Ph.D em Economia, professor, e coordenador do Centro de Políticas Públicas (CPP) do Insper, Naércio Menezes é enfático ao dizer que o avanço na área educacional do Brasil passa por um grande pacto pela educação envolvendo todo o país. Nesta terceira e última matéria da série especial produzida pelo Instituto Millenium, o especialista dá exemplos de sucesso e ressalta a importância do aprendizado para a expansão da economia e diminuição da pobreza dentro de uma sociedade. Segundo Naércio, “a educação e a saúde são as duas variáveis que conseguem, ao mesmo tempo, promover o crescimento econômico e reduzir a desigualdade”. Ouça a entrevista!
[soundcloud url="https://api.soundcloud.com/tracks/606302466" params="color=#ff5500&auto_play=false&hide_related=false&show_comments=true&show_user=true&show_reposts=false&show_teaser=true" width="100%" height="166" iframe="true" /]
Há menos de um mês à frente do Ministério da Educação, o ministro Abraham Weintraub tem uma lista com importantes providências a serem tomadas nos próximos meses. Dentre as prioridades apontadas por Naércio, está a questão central de como resolver o gargalo da aprendizagem dos jovens brasileiros, que ainda é ineficaz no país, sobretudo nos últimos anos da educação básica. “Precisamos pensar em políticas, baseadas em evidências, que melhorem o aprendizado dos alunos, especialmente no ensino médio”.
Para isso, focar em gestão é fundamental. No próprio país são muitos os exemplos de redes de ensino que quebraram paradigmas, mostrando que é possível vencer o círculo vicioso da má qualidade da educação. Sobral, município cearense, possui um Ideb, índice que avalia a educação básica, superior a nove, em uma escala que vai de zero a dez. Atualmente, de acordo com Naércio, 70 das 100 melhores escolas de ensino fundamental do Brasil estão no Ceará. Mas como essas regiões conseguiram avançar tanto em questão de aprendizagem? A resposta é gestão.
Ouça mais
Claudia Costin: Educação de qualidade para o Brasil chegar ao século XXI
João Batista Oliveira: Uma reforma liberal na educação
“Monitorar os resultados de todos os alunos, entender onde estão os problemas, conversar com professores e diretores para tentar melhorá-los, dar feedback constante aos docentes, foco na alfabetização, ou seja, não deixar os jovens atrasarem o seu aprendizado, estabelecer um currículo bem claro para cada série, valorização dos melhores professores e estudantes… O Ceará tem uma política, por exemplo, que as melhores escolas ajudam as piores, e ambas ganham com isso”, enumera Naércio, citando outros exemplos de redes que mostram que não estamos condenados a ter, para sempre, uma educação ruim no país. Pernambuco e Espírito Santo são regiões que também avançaram na área.
Falar em programas educacionais em um país da extensão do Brasil, com mais de 5.500 municípios, não é fácil. O economista lembra que, nem sempre, os gestores de cada cidade possuem estrutura gerencial para aplicar técnicas sofisticadas de gestão. “Um diretor de uma escola precisa ser um gestor muito competente, ele deve cuidar da infraestrutura da unidade, conversar com os pais, lidar com professores e com os alunos. Já o secretário de educação, que faz a gestão de todos os diretores, precisa ser ainda mais bem preparado. É difícil que você tenha 5.500 secretários com esse critério de gestão. Precisamos apoiar esses municípios, ter um entrosamento com o governo, possuir um Sistema Nacional de Educação, de avaliação de resultados, interagir com eles para melhorar a gestão e, assim, o aprendizado”.
A educação e a produtividade
Problemas econômicos, como o protecionismo e a falta de concorrência, não são os únicos causadores da baixa produtividade vista há 30 anos no Brasil. Naércio esclarece que a qualificação da mão de obra também influencia tais índices e, consequentemente, a eficiência da economia. “Historicamente, nos esquecemos de investir em educação. Ao longo do século XX, enquanto outros países estavam crescendo muito em termos educacionais de qualidade, nós ficamos para trás”. Segundo o economista, sem trabalhadores capacitados faltarão pessoas no mercado capazes de lidar com as inovações tecnológicas que só se fortalecem com o passar dos anos, além de haver no país uma insuficiência na promoção de ideias e revoluções que fazem diferença. “Sem isso, você não consegue competir com os países avançados. Vamos ficando cada vez mais atrás, sem crescimento de produtividade e com a renda estagnada no longo prazo. Os filhos vão ganhar a mesma coisa que os pais e assim sucessivamente”.
A educação e o combate à pobreza
É também a educação que exerce papel fundamental na construção de uma sociedade com oportunidades justas para todos. “Toda vez que aumenta o nível educacional, como os filhos de elite já são mais educados, esse avanço ocorre nas famílias mais pobres. Essas pessoas vão ganhar mais, vão ingressar no mercado de trabalho formal, e isso reduz a desigualdade de renda. Você pode ter políticas muito boas de transferência de renda, de focalização, seguro desemprego, mas são temporárias, para aliviar uma situação de pobreza extrema. Na verdade, para diminuir sustentadamente a desigualdade, o caminho mais obvio é melhorar a qualidade da educação”, reforça Naércio.