Mídia oficial chinesa censura até premiê
Nem o premiê chinês escapa da censura em seu país! Confira matéria publicada pela “Folha de S. Paulo” em 15 de outubro: “Não só devemos avançar na reforma do sistema econômico, mas também na do sistema político. Sem uma reforma política, a China pode perder o que já conseguiu por meio da reestruturação econômica.” A frase, censurada pelos meios de comunicação estatais chineses, poderia ser do preso político Liu Xiaobo, […] Leia mais
Publicado em 17 de outubro de 2010 às, 01h08.
Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às, 11h01.
Nem o premiê chinês escapa da censura em seu país! Confira matéria publicada pela “Folha de S. Paulo” em 15 de outubro:
“Não só devemos avançar na reforma do sistema econômico, mas também na do sistema político. Sem uma reforma política, a China pode perder o que já conseguiu por meio da reestruturação econômica.”
A frase, censurada pelos meios de comunicação estatais chineses, poderia ser do preso político Liu Xiaobo, nomeado Nobel da Paz na semana passada.
Mas é do premiê Wen Jiabao, durante discurso em agosto em Shenzen, no sul da China.
Desde abril, quando publicou um artigo elogiando Hu Yaobang, político reformista cuja morte desatou as manifestações estudantis de 1989, Wen vem surpreendendo com gestos e declarações em favor de mais abertura.
Na semana passada, em rara entrevista a um meio estrangeiro, Wen disse à CNN que “os desejos e necessidade da população por democracia e liberdade são irresistíveis”, declaração também vetada na imprensa estatal.
“O opaco sistema político chinês faz com que seja difícil dar uma interpretação definitiva dos comentários de Wen sobre democracia”, disse à Folha Richard McGregor, autor do recém-publicado “The Party: The Secret World of China’s Communist Rulers” (o partido: o mundo secreto dos dirigentes comunistas da China).
“Numa possível leitura, as declarações […] estão dizendo que a China é tão democrática como o Ocidente, mas à sua maneira. Cada vez mais, creio que os comentários de Wen são mais do que isso e refletem um debate de alto nível e possivelmente divisões genuínas dentro da liderança sobre a reforma política”, diz McGregor.
Sinceras ou não, o fato de as declarações de Wen serem alvo de censura são sinal de que o apoio à reforma política é a posição minoritária dentro da elite comunista.
“Aqueles que se beneficiam do sistema atual e aqueles que veem a sua preservação como a sua missão levam vantagem [sobre Wen]”, escreveu Jonathan Fenby, autor do livro “History of Modern China” (história da China moderna).
Embora não esteja na agenda, o tema da reforma política e da dura reação chinesa ao anúncio do Nobel devem estar presentes na reunião anual do Comitê Central do Partido Comunista chinês, que começa hoje em Pequim e dura quatro dias.
Oficialmente, o principal tema será o novo plano de cinco anos (2011-2015), que deve incluir políticas para incentivar o consumo e diminuir a crescente desigualdade de renda.
Mas o encontro também deve discutir a sucessão de Wen e do dirigente máximo, Hu Jintao, em 2012. O favorito para o lugar de Hu é o vice-presidente, Xi Jinping.