O que o indivíduo precisa é apenas informação clara, transparente e direta ( Maskot/Getty Images)
Colunista
Publicado em 15 de setembro de 2025 às 21h19.
Última atualização em 17 de setembro de 2025 às 19h43.
Há muitos anos, quando o Facebook ainda se firmava como uma rede social de ampla disseminação, li uma crônica que advertia para o fato de que os homens de poder nuclear não haviam se rendido à tentação de criar seus perfis, e de divulgar, neles, suas rotinas. A discrição dos poderosos era justificada como uma atitude prudente de quem não quer ser alvo de especulações, sobretudo quando, na Europa, retomava-se a ideia de tributação de grandes fortunas.
O tempo passou, novas opções de redes virtuais surgiram, e, com elas, propostas variadas de modelos de exposição individual. A isso se seguiu uma ampliação de sua utilização, e mesmo pessoas de perfil mais contido descobriram a oportunidade de utilizá-las como vetores das informações pessoais que deseja tornar públicas, mantendo-se presente no mundo virtual, mas de forma controlada.
No entanto, curiosamente, uma rápida consulta nas principais mídias, ainda hoje, revela uma atitude de muita reserva dos poderosos de verdade em sua exposição. A se medir, por exemplo, pelos 5 brasileiros mais ricos do país atualmente, sua presença no Instagram, por exemplo, é praticamente inexistente, pelo menos de forma pública.
No campo das instituições, a seu turno, nota-se uma mudança consistente ao longo dos anos, no que concerne à sua adesão ao mundo das redes sociais. Sobretudo órgãos governamentais, em economias ocidentais, descobriram nessas mídias uma nova forma de comunicação de massa, muito útil para suas agendas. Em um contexto em que as pessoas se informam mais pelas redes que pelos meios tradicionais de comunicação, fazer-se presente nesses canais transformou-se em um instrumento poderoso para acessar o cidadão comum.
Nesse movimento, entidades públicas não apenas passaram a se fazer presentes nas principais redes sociais disponíveis, como buscam adotar uma linguagem (verbal e estética) alinhada à comercial. A escrita simples, graficamente adequada, permitiria a ampla compreensão por pessoas de níveis de formação variados. Essa opção faz todo o sentido para divulgar agendas do governo, em hipóteses de campanhas de vacinação, por exemplo, ou para difundir projetos de lei em andamento no parlamento.
Um outro movimento em que vem incorrendo algumas entidades públicas nas redes, entretanto, também pode ser identificado no Brasil nos últimos anos, esse já merecedor de uma reflexão mais aprofundada. Ele não necessariamente encontra precedentes em outros países. Trata-se da inserção de entidades do Judiciário no mundo virtual, ou de autarquias vocacionadas para análises técnicas em âmbito administrativo. Seu ingresso no universo das redes pode ser igualmente útil para a educação para a cidadania, no sentido de que, ao publicar notícias acerca de suas atribuições, a entidade se revele transparente e acessível à coletividade.
O ponto a se pensar está na forma em que se faz isso. Recentemente, causou debate nas próprias redes o fato de um Tribunal superior brasileiro ter publicado um “pack de figurinhas” de Whatsapp para quem é “democracilover”.
Muito já se debateu sobre o excesso de tecnicismo verbal e de isolamento institucional, responsável por afastar o cidadão de entidades estatais que existem, na verdade, para atendê-lo. A postura de autoridade intocável, de certo, não é apropriada para um contexto republicano e democrático. Mas a virada para uma forma muito despreocupada com o comedimento tampouco revela-se nobre. No fim das contas, ao assim proceder, a figura da entidade inatingível transmuda-se em uma outra expressão caricata de paternalismo: infantiliza-se o público, pressupondo sua imaturidade e capacidade de compreensão limitada.
O que o indivíduo precisa e merece é apenas e tão somente informação: clara, transparente, direta, sem dele exigir um nível de compreensão que a ele não foi permitido; mas também de forma sóbria, disciplinada, respeitosa. O ingresso de entidades públicas sérias no mundo virtual pode significar um percurso nobre, se bem utilizado. Ainda estamos no período de aprendizagem, de teste, de erros e acertos. O estranhamento causado pelos movimentos recentes talvez justifique uma retomada de rota. Confia-se mais em instituições low profile, pelo visto.