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Liderança sem ruído: como o Espírito Santo virou modelo nacional

Com apenas 1,9% da população brasileira, o estado lidera, há mais de uma década, o ranking da Secretaria do Tesouro Nacional em capacidade de pagamentO

Vitoria capital of the state of Espírito Santo seen from Vilha Velha - Convent of Penha (Rodrigo Monteiro/Getty Images)

Vitoria capital of the state of Espírito Santo seen from Vilha Velha - Convent of Penha (Rodrigo Monteiro/Getty Images)

Instituto Millenium
Instituto Millenium

Instituto Millenium

Publicado em 17 de julho de 2025 às 20h15.

*Por Rayane Borges, associada do Líderes do Amanhã

 

Há estados que constroem sua reputação por meio de discursos. Outros, por meio de dados. O Espírito Santo pertence ao segundo grupo. Ao longo da última década, desenvolveu uma musculatura institucional rara no cenário federativo: equilíbrio fiscal, ambiente de negócios liberal, investimentos consistentes e estabilidade administrativa. Não houve espetáculo, houve método. Mas seu diferencial vai além das métricas econômicas. O Espírito Santo representa uma síntese incomum entre os princípios clássicos da liberdade e os achados mais recentes da neurociência comportamental: mostra, na prática, que ambientes previsíveis e autônomos favorecem decisões mais racionais, lideranças mais conscientes e progresso sustentável.

Pesquisas lideradas pelo neurocientista Richard Davidson demonstram que ambientes estáveis, previsíveis e organizados estimulam o córtex pré-frontal dorsolateral, região cerebral responsável por planejamento, controle inibitório e racionalidade. Esse circuito é o alicerce neurológico de decisões conscientes e de longo prazo. Aplicado ao campo institucional, esse dado ajuda a compreender por que estados com governança previsível tendem a atrair investidores mais qualificados, lideranças mais preparadas e resultados mais consistentes. É exatamente esse tipo de ambiente que o Espírito Santo vem cultivando.

Com apenas 1,9% da população brasileira, o estado lidera, há mais de uma década, o ranking da Secretaria do Tesouro Nacional em capacidade de pagamento. Detém um dos menores níveis de endividamento do país e, em 2023, destinou cerca de 20% de sua Receita Corrente Líquida a investimentos, patamar superior ao de muitos países da OCDE. Sua musculatura institucional é resultado de um ciclo virtuoso entre responsabilidade fiscal, ambiente de negócios desburocratizado e cultura de colaboração entre poder público e setor produtivo.

Esse modelo está alinhado a referências internacionais de alta performance institucional. Segundo o Economic Freedom of the World Report, publicado anualmente pelo Fraser Institute, países com maior grau de liberdade econômica como Cingapura, Nova Zelândia e Suíça apresentam, em média, maiores níveis de inovação, renda per capita e bem-estar subjetivo. O Espírito Santo, ao adotar políticas coerentes com esses princípios, consolida-se como um microcosmo dessa lógica liberal, dentro de uma federação ainda excessivamente centralizada.

O caso capixaba também encontra respaldo na Teoria da Autodeterminação, desenvolvida por Edward Deci e Richard Ryan. Segundo os autores, o desenvolvimento sustentável de indivíduos e sociedades depende da presença de dois elementos fundamentais: autonomia e responsabilidade. Ou seja, quando as pessoas sentem que têm liberdade para agir e sabem que serão responsáveis pelas consequências de suas escolhas, tendem a se engajar com mais consistência, propósito e resiliência. No Espírito Santo, esse princípio ganha forma concreta: ao priorizar a liberdade econômica, estabelecer regras estáveis e evitar intervenções excessivas, o estado promove um ambiente onde a iniciativa individual floresce. Com isso, não apenas melhora indicadores sociais, mas também consolida uma cultura institucional mais sólida e menos dependente de mecanismos assistencialistas.

Ao incorporar esses princípios à gestão pública, o Espírito Santo prova que liberdade econômica não é uma abstração moral; é uma tecnologia social de alta performance. Como diria Hayek, a descentralização eficaz não exige ruído, exige estrutura. E o Espírito Santo, ao fazer da disciplina sua linguagem e da responsabilidade seu valor, ensina que o progresso não precisa de espetáculo: basta que ele seja confiável, replicável e, sobretudo, mensurável

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