SUQIAN, CHINA - DECEMBER 23: In this photo illustration, the logo of Grok is displayed on a smartphone screen on December 23, 2024 in Suqian, Jiangsu Province of China. (Photo by VCG/VCG via Getty Images)
Colunista - Instituto Millenium
Publicado em 24 de abril de 2025 às 08h00.
Última atualização em 24 de abril de 2025 às 22h45.
A nova febre das redes sociais é fazer perguntas ao Grok, a inteligência artificial instalada no X. Ele responde perguntas com tamanha confiança que muitos acreditam que se trate de uma Pitonisa de Delfos, com menos incenso e mais algoritmo. Em tempos de desconfiança de boa parte da população na imprensa tradicional— não sem alguma razão —, os desiludidos com as respostas dos jornais migraram, em massa, para o altar digital da inteligência artificial, como se a verdade, antes monopolizada pelo jornalismo profissional, tivesse agora encontrado sua redenção no robô. Perguntam ao Grok como se sua resposta fosse o extrato máximo da sabedoria, ou uma possibilidade de resposta alternativa à imprensa.
Nem um nem outro. O que poucos percebem é que esse oráculo se alimenta exatamente das informações da velha imprensa, depositadas por décadas nos arquivos da internet. Os grandes jornais, agências, portais e colunistas, tão questionados pelos usuários das redes sociais, por sua presumida falta de autonomia e isenção, são exatamente as referências de informação da inteligência artificial, repaginadas na boca metálica do Grok.
É um erro trocar a dúvida em relação à imprensa pela ilusão de uma neutralidade da inteligência artificial. Ela não tem neutralidade alguma, apenas reorganiza, segundo critérios matemáticos e estatísticos, os discursos já dominantes. Por essa razão, o Grok não é uma ferramenta para se usar de forma passiva, mas interativa. Ao tratarmos inteligências artificiais como oráculos, congelamos sua capacidade de aprender. Tornamo-las burras. Pior: burras e confiantes. Um tipo novo de ignorância autoritária.
A inteligência artificial precisa ser confrontada. O melhor uso que se faz dela não é perguntar e aceitar a resposta. Mas perguntar, receber a resposta, duvidar, corrigir, tensionar, contradizer. Só assim ela evolui. Só assim nós também evoluímos para além das verdades oficiais.
Fazer perguntas ao Grok, esperando encontrar verdades puras, é como escutar um eco e achar que se trata de uma nova voz. O Grok é um espelho digital que reflete o que já está aí, e aí continuará se não for questionado. O Grok só será, de fato, inteligência, se não formos burros.