Fraldas e fraudes
Cuidando do neto recém-nascido, Dilma Rousseff trocou fraldas. Mais precisamente, trocou fraldas por fraudes. A candidata do PT iniciara a entrevista coletiva dizendo que só ia tratar de assuntos de bebê. Mas quando um repórter, aceitando o jogo, foi lhe perguntar sobre fraldas, ela se irritou e negou-se a falar sobre fraudes. No fundo, dá no mesmo. As fraldas de Dilma são, em si, uma fraude. Sua campanha oferece ao eleitorado […] Leia mais
Publicado em 14 de setembro de 2010 às, 18h49.
Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às, 11h15.
Cuidando do neto recém-nascido, Dilma Rousseff trocou fraldas. Mais precisamente, trocou fraldas por fraudes.
A candidata do PT iniciara a entrevista coletiva dizendo que só ia tratar de assuntos de bebê. Mas quando um repórter, aceitando o jogo, foi lhe perguntar sobre fraldas, ela se irritou e negou-se a falar sobre fraudes. No fundo, dá no mesmo.
As fraldas de Dilma são, em si, uma fraude. Sua campanha oferece ao eleitorado infantilóide a maternidade como plataforma de governo. E sob essa fraude desfilam todas as outras, tranqüilamente, imunes às pesquisas de opinião.
O bom entendedor – essa espécie em extinção – já notou que Dilma representa a privatização partidária do Estado brasileiro. E o escândalo da Receita Federal em plena eleição veio ilustrar, como uma charge gritante e bizarra, esse projeto deletério de poder. E agora?
E agora, nada. A pesquisa Datafolha mostrava Dilma com 50% de intenções de voto antes do escândalo. E mostra Dilma com 50% das intenções de voto depois do escândalo.
É um escândalo.
E não vale nada a ressalva de que a candidata do PT caiu 5 pontos nas faixas de maior escolaridade. No Sudeste inteiro, São Paulo e Rio em particular, continua desenhada a vitória de Dilma. A população mais esclarecida, capaz de entender perfeitamente a gravidade desse atentado, com pegadas petistas e complacência governamental, não está nem aí.
O Brasil culto (sic) está alinhado aos grotões na aprovação ao jogo bruto da conspiração.
Pensando bem, não é novidade. O mensalão também foi aprovado pela opinião pública. Dilma e seus companheiros não têm o que temer. O cidadão violentado, como diria Marta Suplicy, relaxou e gozou.
São tantas as cartas marcadas, que ninguém mais presta atenção. A despachante de Dilma na Casa Civil, Erenice Guerra, apontada por testemunhas como operadora do dossiê Ruth Cardoso, não só saiu do episódio sem um arranhão. Virou ministra.
Agora é denunciada por tráfico de influência. Adivinhem envolvendo que estatal? Sim, uma das preferidas pelo apetite petista: os Correios.
Não se sabe ainda ao certo o que se passou desta vez. O que se tem, por enquanto, é uma nota da ministra acusada em que ela, em vez de refutar a denúncia, faz um editorial contra a imprensa burguesa.
O Brasil não está cansado desse filme velho. As pesquisas mostram que a troca de fraldas e fraudes está liberada.
Publicado no blog de Guilherme Fiuza no portal da revista “Época”