Estratégia incerta, governabilidade vulnerável
"O uso recorrente de improvisações apenas revela a ausência de uma estratégia de poder definida"
institutomillenium
Publicado em 13 de março de 2019 às 15h48.
Por Sebastião Ventura*
Sistemas políticos complexos não se resolvem com táticas de improviso. O uso recorrente de improvisações apenas revela a ausência de uma estratégia de poder definida, forçando a adoção de inconsistentes paliativos sequenciais. Ao longo da curva, o custo dos improvisos políticos vai se tornando insustentável e, por sua desorganização interna, amplia exponencialmente as vulnerabilidades do governo, comprometendo seu funcionamento orgânico e depreciando sua legitimidade pública.
Em artigo seminal, publicado na "Foreign Affairs" (1957), a inteligência superior de Henry Kissinger bem pontuou que a doutrina estratégica permite um agir propositivo ao Poder quando diante de desafios desafios importantes; por sua vez, na ausência de estratégia definida, esse mesmo Poder será constantemente surpreendido por eventos aleatórios. Ou seja, a definição estratégica proporciona, além de maior previsibilidade institucional, um norte à intuição política em momentos decisivos. Todavia, no vazio das indeterminações, o ímpeto intuitivo gira ao calor das circunstâncias, tendendo para emotividades irracionais. E, quando a racionalidade se perde, o controle da situação está comprometido.
Frisa-se, por oportuno, que o regime presidencialista é magnético à figura do Presidente da República; seus atos consagram ou afundam governos. Se os acertos são tidos por deveres do cargo, os erros são fonte de instabilidade política. E, não raro, um pequeno desvio é capaz de danos gigantescos.
Leia mais de Sebastião Ventura
Um ministro suspeito?
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Um novo olhar sobre a punição estatal
A delicadeza das circunstâncias também é um fator de risco: vivemos tempos políticos conturbados, de grande polarização e alta insatisfação com a baixa responsividade das engrenagens democráticas. O fluxo informacional das redes sociais inflama ainda mais o tecido político em uma frenética guerra digital pelo controle da psicologia popular. A ruptura do monopólio da informação social tornou o jogo da massificação ideológica difuso, plural e movediço; no entanto, em um futuro próximo, os recursos de inteligência artificial conseguirão manipular as subjetividades de forma ainda mais poderosa, segmentada e persuasiva.
Por tudo, há uma nova lógica estrutural permeando as democracias contemporâneas. A exaustão de velhas e superadas estruturas de poder abre o flanco para o surgir de novos players e sistemas de dominação econômica, política e cultural. Algumas mudanças já são perceptíveis, outras estão em gestação, mas sempre haverá uma margem decisiva do poder invisível aos olhos comuns. Regra geral, faces expostas não passam de empregados da macroestrutura dominante. Excepcionalmente, surgem líderes autênticos que, dotados de uma personalidade singular, conseguem habilmente transpor as linhas do poder, formando virtuosos arranjos inovadores de grande repercussão histórica.
Qual, então, a doutrina estratégica em curso no Palácio do Planalto?
*Sebastião Ventura Pereira da Paixão Jr. é advogado especializado em direito do estado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Certificado pelo Programa de Negociação de Harvard para Senior Executives. Membro Diretor da Federasul/RS. Escreve sobre questões contemporâneas, envolvendo temas políticos, econômicos e constitucionais.
Por Sebastião Ventura*
Sistemas políticos complexos não se resolvem com táticas de improviso. O uso recorrente de improvisações apenas revela a ausência de uma estratégia de poder definida, forçando a adoção de inconsistentes paliativos sequenciais. Ao longo da curva, o custo dos improvisos políticos vai se tornando insustentável e, por sua desorganização interna, amplia exponencialmente as vulnerabilidades do governo, comprometendo seu funcionamento orgânico e depreciando sua legitimidade pública.
Em artigo seminal, publicado na "Foreign Affairs" (1957), a inteligência superior de Henry Kissinger bem pontuou que a doutrina estratégica permite um agir propositivo ao Poder quando diante de desafios desafios importantes; por sua vez, na ausência de estratégia definida, esse mesmo Poder será constantemente surpreendido por eventos aleatórios. Ou seja, a definição estratégica proporciona, além de maior previsibilidade institucional, um norte à intuição política em momentos decisivos. Todavia, no vazio das indeterminações, o ímpeto intuitivo gira ao calor das circunstâncias, tendendo para emotividades irracionais. E, quando a racionalidade se perde, o controle da situação está comprometido.
Frisa-se, por oportuno, que o regime presidencialista é magnético à figura do Presidente da República; seus atos consagram ou afundam governos. Se os acertos são tidos por deveres do cargo, os erros são fonte de instabilidade política. E, não raro, um pequeno desvio é capaz de danos gigantescos.
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Por tudo, há uma nova lógica estrutural permeando as democracias contemporâneas. A exaustão de velhas e superadas estruturas de poder abre o flanco para o surgir de novos players e sistemas de dominação econômica, política e cultural. Algumas mudanças já são perceptíveis, outras estão em gestação, mas sempre haverá uma margem decisiva do poder invisível aos olhos comuns. Regra geral, faces expostas não passam de empregados da macroestrutura dominante. Excepcionalmente, surgem líderes autênticos que, dotados de uma personalidade singular, conseguem habilmente transpor as linhas do poder, formando virtuosos arranjos inovadores de grande repercussão histórica.
Qual, então, a doutrina estratégica em curso no Palácio do Planalto?
*Sebastião Ventura Pereira da Paixão Jr. é advogado especializado em direito do estado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Certificado pelo Programa de Negociação de Harvard para Senior Executives. Membro Diretor da Federasul/RS. Escreve sobre questões contemporâneas, envolvendo temas políticos, econômicos e constitucionais.