“É preciso repensar a política econômica”
Convidada para discutir a conjuntura econômica do Brasil na 19ª edição do “Millenium nas redações”, projeto criado em 2012 pelo Instituto Millenium com o objetivo de promover o debate entre seus especialistas e jornalistas de todo país, a economista Zeina Latif conversou com o Imil sobre o tema da sua palestra, na revista “Exame”, no dia 6 de novembro. No encontro com os jornalistas da “Exame”, a economista-chefe da XP Investimentos pretende […] Leia mais
Da Redação
Publicado em 5 de novembro de 2014 às 15h08.
Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às 08h15.
Convidada para discutir a conjuntura econômica do Brasil na 19ª edição do “Millenium nas redações”, projeto criado em 2012 pelo Instituto Millenium com o objetivo de promover o debate entre seus especialistas e jornalistas de todo país, a economista Zeina Latif conversou com o Imil sobre o tema da sua palestra, na revista “Exame”, no dia 6 de novembro.
No encontro com os jornalistas da “Exame”, a economista-chefe da XP Investimentos pretende discutir a necessidade de mudanças na política econômica para escaparmos da armadilha do baixo crescimento. “Com uma reorientação da política econômica teríamos condições de crescer próximo ao que o resto do mundo cresce. Estamos crescendo muito menos”, critica ela.
Latif acredita que os problemas internos, como a deterioração da política fiscal, são os principais responsáveis pela desaceleração da economia brasileira. Apesar disso, o governo não dá sinais de mudanças profundas na condução da economia nacional. “O discurso governamental tem sido de fazer ajustes, mas não está clara a magnitude desse ajuste”, afirma. Leia a entrevista:
Instituto Millenium: A conjuntura econômica será o tema da sua palestra na 19ª edição do “Millenium nas redações”. A senhora poderia falar resumidamente sobre os pontos que pretende abordar nessa ocasião?
Zeina Latif: A economia brasileira está praticamente estagnada, com baixo crescimento e inflação resistente. A ideia é discutir como podemos nos livrar dessa armadilha para que o cenário complicado previsto para 2015 não se repita nos anos seguintes.
Imil: O que precisa ser feito para nos livrarmos da armadilha do baixo crescimento? O que precisa entrar na pauta?
Latif: É preciso repensar a política econômica. Além dos ajustes, será necessário buscar uma reorientação. Antes de discutir reformas é preciso eliminar as distorções que foram criadas.
Imil: Essas distorções têm a ver com o tripé macroeconômico (regimes de metas de inflação, fiscais e pelo câmbio flutuante)?
Latif: Em parte sim. Houve problemas na condução da política macroeconômica, com o Banco Central indo em uma direção e o Tesouro Nacional e os bancos públicos em outra. A inconsistência da política precisa ser alterada. Na política fiscal, foram criados vários programas que fracassaram e que precisam ser reavaliados.
Imil: Historicamente o Brasil exerceu o papel de exportador de commodities. Com a queda da produção industrial voltamos a exercer esse papel? Por quê?
Latif: Esse papel persiste. O Brasil perdeu competitividade na indústria. O cenário é bastante dramático. No ano que vem podemos enfrentar mais constrangimentos devido às incertezas do cenário de energia do país. Crescemos no mercado de commodities porque o resto vai mal.
Imil: O Brasil é classificado como um mercado emergente ao lado dos outros países dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Como influenciamos e como somos influenciados pelas economias globais?
Latif: Apesar de o Brasil ter um mercado fechado, o ciclo econômico mundial, principalmente a China, obviamente, tem impacto sobre o país. Não estamos blindados e dependemos da dinâmica externa.
Mas o nosso passado recente tem muito a ver com erros domésticos. Os países vizinhos, que também são sensíveis ao ciclo chinês, não sofreram tanto quanto o Brasil. Parece que tem outras variáveis explicando esse dinamismo. O Brasil influencia de forma local alguns preços de commodities, mas grosso modo nós é que sentimos a influência lá de fora.
Imil: A senhora falou em erros domésticos, que erros seriam esses?
Latif: A grande questão é a política fiscal, no seu desenho, na sua condução e nos objetivos que buscou e não conseguiu atingir. Vários estímulos foram dados para alguns setores da indústria e ela não cresceu. Mesmo com tantos estímulos, via crédito ou benefícios tributários, estamos com a produção industrial estagnada desde 2010.
Imil: Como a conjuntura econômica mundial impactará o Brasil nos próximos anos? Qual é a sua expectativa?
Latif: Apesar de ser um cenário desafiador, o momento atual não é de crise econômica. É um quadro de crescimento baixo em relação ao passado. Ficou muito claro que o vigor da década passada e o crescimento da China foram muito importantes para o Brasil. Claro que o quadro mais modesto limita o nosso potencial de crescimento, mas não acredito que essa seja a principal variável para entender a situação da economia brasileira.
Com uma reorientação da política econômica teríamos condições de crescer próximo ao que o resto do mundo cresce. Estamos crescendo muito menos. O mundo cresce 3%, em média, enquanto nosso crescimento ficou próximo de zero em 2014 e talvez algo não muito distante de 1% no ano que vem.
Imil: A senhora acredita que a tendência é a mudança da atual politica econômica?
Latif: Isso não está claro ainda. O discurso governamental tem sido de fazer ajustes, mas não está clara a magnitude desse ajuste. Não vejo uma mudança significativa na orientação da política econômica.
Convidada para discutir a conjuntura econômica do Brasil na 19ª edição do “Millenium nas redações”, projeto criado em 2012 pelo Instituto Millenium com o objetivo de promover o debate entre seus especialistas e jornalistas de todo país, a economista Zeina Latif conversou com o Imil sobre o tema da sua palestra, na revista “Exame”, no dia 6 de novembro.
No encontro com os jornalistas da “Exame”, a economista-chefe da XP Investimentos pretende discutir a necessidade de mudanças na política econômica para escaparmos da armadilha do baixo crescimento. “Com uma reorientação da política econômica teríamos condições de crescer próximo ao que o resto do mundo cresce. Estamos crescendo muito menos”, critica ela.
Latif acredita que os problemas internos, como a deterioração da política fiscal, são os principais responsáveis pela desaceleração da economia brasileira. Apesar disso, o governo não dá sinais de mudanças profundas na condução da economia nacional. “O discurso governamental tem sido de fazer ajustes, mas não está clara a magnitude desse ajuste”, afirma. Leia a entrevista:
Instituto Millenium: A conjuntura econômica será o tema da sua palestra na 19ª edição do “Millenium nas redações”. A senhora poderia falar resumidamente sobre os pontos que pretende abordar nessa ocasião?
Zeina Latif: A economia brasileira está praticamente estagnada, com baixo crescimento e inflação resistente. A ideia é discutir como podemos nos livrar dessa armadilha para que o cenário complicado previsto para 2015 não se repita nos anos seguintes.
Imil: O que precisa ser feito para nos livrarmos da armadilha do baixo crescimento? O que precisa entrar na pauta?
Latif: É preciso repensar a política econômica. Além dos ajustes, será necessário buscar uma reorientação. Antes de discutir reformas é preciso eliminar as distorções que foram criadas.
Imil: Essas distorções têm a ver com o tripé macroeconômico (regimes de metas de inflação, fiscais e pelo câmbio flutuante)?
Latif: Em parte sim. Houve problemas na condução da política macroeconômica, com o Banco Central indo em uma direção e o Tesouro Nacional e os bancos públicos em outra. A inconsistência da política precisa ser alterada. Na política fiscal, foram criados vários programas que fracassaram e que precisam ser reavaliados.
Imil: Historicamente o Brasil exerceu o papel de exportador de commodities. Com a queda da produção industrial voltamos a exercer esse papel? Por quê?
Latif: Esse papel persiste. O Brasil perdeu competitividade na indústria. O cenário é bastante dramático. No ano que vem podemos enfrentar mais constrangimentos devido às incertezas do cenário de energia do país. Crescemos no mercado de commodities porque o resto vai mal.
Imil: O Brasil é classificado como um mercado emergente ao lado dos outros países dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Como influenciamos e como somos influenciados pelas economias globais?
Latif: Apesar de o Brasil ter um mercado fechado, o ciclo econômico mundial, principalmente a China, obviamente, tem impacto sobre o país. Não estamos blindados e dependemos da dinâmica externa.
Mas o nosso passado recente tem muito a ver com erros domésticos. Os países vizinhos, que também são sensíveis ao ciclo chinês, não sofreram tanto quanto o Brasil. Parece que tem outras variáveis explicando esse dinamismo. O Brasil influencia de forma local alguns preços de commodities, mas grosso modo nós é que sentimos a influência lá de fora.
Imil: A senhora falou em erros domésticos, que erros seriam esses?
Latif: A grande questão é a política fiscal, no seu desenho, na sua condução e nos objetivos que buscou e não conseguiu atingir. Vários estímulos foram dados para alguns setores da indústria e ela não cresceu. Mesmo com tantos estímulos, via crédito ou benefícios tributários, estamos com a produção industrial estagnada desde 2010.
Imil: Como a conjuntura econômica mundial impactará o Brasil nos próximos anos? Qual é a sua expectativa?
Latif: Apesar de ser um cenário desafiador, o momento atual não é de crise econômica. É um quadro de crescimento baixo em relação ao passado. Ficou muito claro que o vigor da década passada e o crescimento da China foram muito importantes para o Brasil. Claro que o quadro mais modesto limita o nosso potencial de crescimento, mas não acredito que essa seja a principal variável para entender a situação da economia brasileira.
Com uma reorientação da política econômica teríamos condições de crescer próximo ao que o resto do mundo cresce. Estamos crescendo muito menos. O mundo cresce 3%, em média, enquanto nosso crescimento ficou próximo de zero em 2014 e talvez algo não muito distante de 1% no ano que vem.
Imil: A senhora acredita que a tendência é a mudança da atual politica econômica?
Latif: Isso não está claro ainda. O discurso governamental tem sido de fazer ajustes, mas não está clara a magnitude desse ajuste. Não vejo uma mudança significativa na orientação da política econômica.