Congresso sacrifica o setor privado ao garantir reajuste a servidores
Mesmo após articulação do Ministro da Economia, parlamentares aprovam medida que reforça o corporativismo do funcionalismo no Brasil
Publicado em 7 de maio de 2020 às, 17h00.
Última atualização em 8 de maio de 2020 às, 09h56.
Nem durante um dos momentos mais críticos enfrentados pelo país, a sociedade brasileira se vê livre de privilégios. Nesta semana, o Congresso aprovou um socorro de R$ 120 bilhões a estados e municípios. A contrapartida do Ministério da Economia para a aprovação seria o impedimento de reajuste salarial dos servidores públicos pelo prazo de 18 meses. No entanto, algumas categorias foram excluídas deste congelamento, reduzindo a economia inicial em R$ 87 bilhões. O cenário é mais um exemplo do corporativismo do funcionalismo no Brasil.
Ficaram de fora do congelamento servidores das forças armadas; policiais federais, militares e corpos de bombeiros; técnicos peritos criminais; guardas municipais; agentes socioeducativos; profissionais de limpeza; assistentes sociais; profissionais de saúde; de serviços funerais; e professores. Importante lembrar que a proposta inicial não prevê cortes de salários, apenas impedia o reajuste nos próximos meses. Em entrevista ao Instituto Millenium, o cientista político Paulo Moura reforçou que a medida sacrifica o setor privado para garantir benefícios ao funcionalismo. Isso porque o salário dos servidores é pago com a arrecadação das empresas e dos trabalhadores brasileiros, que tanto estão sofrendo durante a crise do Coronavírus.
[soundcloud url="https://api.soundcloud.com/tracks/815585956?secret_token=s-gdUggwBQfAc" params="color=#ff5500&auto_play=false&hide_related=false&show_comments=true&show_user=true&show_reposts=false&show_teaser=true" width="100%" height="166" iframe="true" /]
“Se considerarmos que quem financia os governos é o setor privado, que produz a riqueza que gera os impostos para pagar os salários, e nós estamos entrando em um período de crise econômica profunda, que vai afetar países do mundo todo – incluindo o Brasil - é um contrassenso você exigir sacrifícios da iniciativa privada diante da quebradeira de empresas, com a consequente redução da arrecadação fiscal, e garantir ao setor público nenhum sacrifício. O correto é que todos se sacrificassem igualmente”.
Leia também
Écio Costa: “Essa cultura estatizante não se vê em outros países”
Possibilidade de aumento do gasto pós-pandemia preocupa
Pelo fim dos penduricalhos
O cientista político alerta que o resultado da votação mostra a dificuldade de acordos entre o Executivo e o Legislativo. Ele ressaltou que o governo fica vulnerável por não possuir uma bancada parlamentar organizada e coordenada, que possa atuar na defesa de seus projetos. “O ministro Paulo Guedes foi ao Senado, negociou o congelamento como compensação à decisão da Câmara de conceder dinheiro para estados e municípios sem contrapartida, mas na hora de votar, Guedes sofreu revés, e a quantidade de categorias com salários congelados foi reduzida”, explicou.
A pressão agora gira em torno do veto do presidente ao projeto.
Parece fake news...
Notícias de pagamentos absurdos pelo setor público surgem de diversos locais do Brasil. Nesta semana, o Ministério Público do Estado de Mato Grosso instituiu um “bônus covid” para procuradores, promotores e servidores usarem durante a crise. O penduricalho, de até R$ 1.000, pode beneficiar mais de 1.100 pessoas, onerando em R$ 680 mil os cofres públicos por mês.
[youtube https://www.youtube.com/watch?v=RzE9svoryU0%5D
+ Millenium Fiscaliza: Por que o Brasil investe menos que outros países no combate ao Coronavírus?