Exame Logo

Aumento nos gastos anti-covid exigirá maior austeridade em 2021

Em entrevista ao Millenium, Fábio Giambiagi e Wagner Vargas analisaram situação das contas públicas

i

institutomillenium

Publicado em 15 de junho de 2020 às 16h00.

Última atualização em 16 de junho de 2020 às 14h16.

A inesperada pandemia do novo Coronavírus trouxe uma série de transformações em todo o mundo. No Brasil, o isolamento social fez com que autônomos e trabalhadores informais tivessem que voltar para as suas casas. Sem a possibilidade de trabalhar normalmente, estes profissionais perderam, em muitos casos, toda a renda que tinham. O governo federal anunciou uma série de medidas para tentar minimizar os prejuízos e, entre as ações, estava o Auxílio Emergencial, uma renda extra de R$ 600 para estas pessoas. Necessária para a superação da crise no curto prazo, a medida, no entanto, impõe um desafio para o governo federal: o equilíbrio das contas públicas. Para se ter uma ideia, a estimativa média é que já foram gastos R$ 150 bilhões; e, com a extensão do benefício, a despesa deve alcançar a casa dos R$ 203 bilhões no total.

O país vinha adotando uma política de austeridade desde 2016, com medidas que alteraram a lógica das despesas públicas no Brasil, como a Lei do Teto de Gastos. Agora, como retomar essa linha de ação que precisou ser interrompida por conta da covid-19? Para responder esta pergunta e analisar o cenário, o Millenium entrevistou o economista Fábio Giambiagi, mestre em Ciências Econômicas e especialista em contas públicas; e o cientista de dados e comunicador Wagner Vargas. Ouça o podcast!

Déficit primário pode chegar a 15% do PIB

O efeito mais grave e imediato da pandemia do novo Coronavírus para as contas públicas é a grande elevação da dívida. Durante a entrevista ao Millenium, Giambiagi lembrou que o déficit primário pode chegar a 15% do PIB, por conta da queda da atividade econômica e a conseqüente redução de arrecadação.

+ Governo deve estourar teto de gastos em 2021

“A dívida bruta era um pouco mais de 51% do PIB em 2013. Em função da situação fiscal da época, ela se elevou muito e chegou a 76% antes da pandemia. Agora, a expectativa é aumentar a 93% e 95%. A preocupação dos economistas é a trajetória. Se for contínua, a história pode não acabar bem”, disse.

Wagner Vargas, por sua vez, lembrou que o tamanho do rombo nas contas públicas vai ser medido pelo comportamento da economia, mas destacou previsões da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) para uma queda de até 9% do PIB brasileiro, o que seria algo sem precedente. A isso se soma o fato de o Brasil ser um país em desenvolvimento, o que torna ainda mais dramática a situação.

“Os EUA têm dívida pública de 100% do PIB, e muitos se perguntam: se eles têm esses índices, porque o Brasil não pode ter? A questão é que nós somos um país em desenvolvimento, que não tem condição de manter a dívida pública muito alta com o patamar de juros baixos. O impacto é gigantesco e difícil de ser mensurado, pois a origem é uma crise sanitária, que não se encerrou e não se sabe ao certo quando isso vai acontecer”, disse.

Momento é de exceção; após crise, manter austeridade é fundamental

O cientista de dados Wagner Vargas alertou para uma questão importante no que se refere à superação da pandemia: praticamente não há questionamento à necessidade do auxílio emergencial neste momento, por conta da urgência e da excepcionalidade da questão. No entanto, tornar esta uma política permanente é algo que preocupa o mestre em Gestão e Políticas Públicas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).

“A gente não pode achar que, neste momento, o auxílio emergencial é um problema para as contas públicas. O problema será se, neste mesmo molde, o governo tornar esta uma política perene. Como a gente citou anteriormente, a estimativa média de gasto é de R$ 50 bilhões por mês, o que representa mais do que um ano do que é gasto no Bolsa Família. Apesar de ser importante neste momento, o Estado não tem condição de sustentar essa política pública sempre”, alertou, deixando claro que este é um momento de exceção.

Leia também
Prorrogação do auxílio emergencial custará R$ 51 bi, diz secretário
Banco Mundial diz que coronavírus deixará "cicatrizes duradouras" nos países em desenvolvimento

Giambiagi, por outro lado, destacou que é preciso manter a política de austeridade. “O governo vai ter que tentar cumprir a regra do teto, o que no curto prazo significa conservar a despesa associada ao combate à pandemia e evitar que despesas mensais vazem para o ano que vem, contaminando toda a despesa de 2021. Esses gastos relacionados à covid-19 terão que ser classificados como gastos excepcionais, tanto as transferências para os Estados quanto as vinculadas ao pagamento do auxílio emergencial”, disse.

A inesperada pandemia do novo Coronavírus trouxe uma série de transformações em todo o mundo. No Brasil, o isolamento social fez com que autônomos e trabalhadores informais tivessem que voltar para as suas casas. Sem a possibilidade de trabalhar normalmente, estes profissionais perderam, em muitos casos, toda a renda que tinham. O governo federal anunciou uma série de medidas para tentar minimizar os prejuízos e, entre as ações, estava o Auxílio Emergencial, uma renda extra de R$ 600 para estas pessoas. Necessária para a superação da crise no curto prazo, a medida, no entanto, impõe um desafio para o governo federal: o equilíbrio das contas públicas. Para se ter uma ideia, a estimativa média é que já foram gastos R$ 150 bilhões; e, com a extensão do benefício, a despesa deve alcançar a casa dos R$ 203 bilhões no total.

O país vinha adotando uma política de austeridade desde 2016, com medidas que alteraram a lógica das despesas públicas no Brasil, como a Lei do Teto de Gastos. Agora, como retomar essa linha de ação que precisou ser interrompida por conta da covid-19? Para responder esta pergunta e analisar o cenário, o Millenium entrevistou o economista Fábio Giambiagi, mestre em Ciências Econômicas e especialista em contas públicas; e o cientista de dados e comunicador Wagner Vargas. Ouça o podcast!

Déficit primário pode chegar a 15% do PIB

O efeito mais grave e imediato da pandemia do novo Coronavírus para as contas públicas é a grande elevação da dívida. Durante a entrevista ao Millenium, Giambiagi lembrou que o déficit primário pode chegar a 15% do PIB, por conta da queda da atividade econômica e a conseqüente redução de arrecadação.

+ Governo deve estourar teto de gastos em 2021

“A dívida bruta era um pouco mais de 51% do PIB em 2013. Em função da situação fiscal da época, ela se elevou muito e chegou a 76% antes da pandemia. Agora, a expectativa é aumentar a 93% e 95%. A preocupação dos economistas é a trajetória. Se for contínua, a história pode não acabar bem”, disse.

Wagner Vargas, por sua vez, lembrou que o tamanho do rombo nas contas públicas vai ser medido pelo comportamento da economia, mas destacou previsões da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) para uma queda de até 9% do PIB brasileiro, o que seria algo sem precedente. A isso se soma o fato de o Brasil ser um país em desenvolvimento, o que torna ainda mais dramática a situação.

“Os EUA têm dívida pública de 100% do PIB, e muitos se perguntam: se eles têm esses índices, porque o Brasil não pode ter? A questão é que nós somos um país em desenvolvimento, que não tem condição de manter a dívida pública muito alta com o patamar de juros baixos. O impacto é gigantesco e difícil de ser mensurado, pois a origem é uma crise sanitária, que não se encerrou e não se sabe ao certo quando isso vai acontecer”, disse.

Momento é de exceção; após crise, manter austeridade é fundamental

O cientista de dados Wagner Vargas alertou para uma questão importante no que se refere à superação da pandemia: praticamente não há questionamento à necessidade do auxílio emergencial neste momento, por conta da urgência e da excepcionalidade da questão. No entanto, tornar esta uma política permanente é algo que preocupa o mestre em Gestão e Políticas Públicas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).

“A gente não pode achar que, neste momento, o auxílio emergencial é um problema para as contas públicas. O problema será se, neste mesmo molde, o governo tornar esta uma política perene. Como a gente citou anteriormente, a estimativa média de gasto é de R$ 50 bilhões por mês, o que representa mais do que um ano do que é gasto no Bolsa Família. Apesar de ser importante neste momento, o Estado não tem condição de sustentar essa política pública sempre”, alertou, deixando claro que este é um momento de exceção.

Leia também
Prorrogação do auxílio emergencial custará R$ 51 bi, diz secretário
Banco Mundial diz que coronavírus deixará "cicatrizes duradouras" nos países em desenvolvimento

Giambiagi, por outro lado, destacou que é preciso manter a política de austeridade. “O governo vai ter que tentar cumprir a regra do teto, o que no curto prazo significa conservar a despesa associada ao combate à pandemia e evitar que despesas mensais vazem para o ano que vem, contaminando toda a despesa de 2021. Esses gastos relacionados à covid-19 terão que ser classificados como gastos excepcionais, tanto as transferências para os Estados quanto as vinculadas ao pagamento do auxílio emergencial”, disse.

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se