Armínio Fraga: "O quadro fiscal não dá margem para procrastinação"
Ex-presidente do Banco Central analisa a importância de um quadro fiscal que permita a queda natural dos juros no Brasil
institutomillenium
Publicado em 16 de agosto de 2018 às 12h01.
Entender a trajetória das taxas de juros no Brasil pode não ser tarefa fácil até mesmo para economistas. É importante, porém, ter uma noção básica de como a política monetária dos governos interfere na saúde fiscal de um país. Neste vídeo, o conselheiro do Instituto Millenium e ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga explica porque o governo utiliza a taxa Selic para conter a inflação e analisa a importância de um ambiente econômico que permita a queda natural e sustentável dos juros. Assista abaixo!
[youtube https://www.youtube.com/watch?v=kWBYAtY8HL4%5D
O economista diz que, se comparada às principais economias do mundo, a elevada taxa de juros brasileira pode ser considerada “ponto fora da curva” — difícil de ser explicada. No entanto, a irresponsabilidade fiscal representa fator de peso para este desequilíbrio.
“De um tempo para cá, o principal fator é o fator de risco, que são as finanças públicas fora de qualquer grau de controle. Desde 2012, o Brasil vive um colapso da disciplina fiscal, e isso tem impacto sobre os juros. No momento, como estamos vivendo uma imensa recessão, o juro de curto prazo não está pressionado, mas os juros de longo prazo continuam muito altos, sinal de que existe uma certa desconfiança com relação ao nosso futuro. O juro tem uma relação com a situação fiscal do país porque, em última instância, isso diz algo sobre a qualidade da nossa moeda”, explica Armínio.
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Questionado sobre os efeitos de uma interferência artificial na redução da Selic, como praticada pelo governo da ex-presidente Dilma Rousseff, o economista defende um ambiente econômico saudável para que haja queda de juros com manutenção de baixa inflação. Os problemas do Brasil, no entanto, vão além.
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“Um movimento voluntarista, sem reformas, provoca um descompasso entre a demanda e a oferta e a inflação sobe. Não existe mágica para esta área. O que existe é espaço para trabalhar no lado fiscal, no lado da produtividade, de modo que se tenha menos prêmio de risco na economia e também uma resposta mais forte da oferta. O Brasil precisa de uma resposta muito mais completa”, defende, destacando a importância do foco no Banco Central no controle da inflação.
Juros bancários x Selic
Dúvida frequente entre os cidadãos brasileiros diz respeito às altas taxas de juros bancárias que, mesmo em períodos como o atual, com mínima história da Selic, não caem na mesma velocidade. O ex-presidente do BC explica que a questão passa pelo elevado grau de concentração do sistema bancário brasileiro, mas não pode ser resumida a isso. A dificuldade histórica das pessoas e empresas na busca por empréstimos dando os próprios ativos como garantia prejudica o cenário, e muitas vezes a legislação, na intenção de proteger o devedor, acaba por dificultar ainda mais os processos:
“A pessoa vai comprar uma moradia. Ela pode dar em garantia o próprio apartamento, isso é uma hipoteca ou alienação fiduciária. Mas durante anos esse mecanismo não funcionou no Brasil porque essa garantia, na prática, não valia muito. Às vezes, as boas intenções atrapalham. Uma decisão judicial, por exemplo, de proteger um devedor, acabou fazendo com que o dinheiro desse setor secasse ou tivesse que sair de algum subsídio”, aponta. “As empresas também precisam ter capacidade de usar seus ativos para levantar dinheiro barato, mas aí entra a questão do sistema jurídico de recuperação das empresas, que ainda precisa melhorar”.
Entender a trajetória das taxas de juros no Brasil pode não ser tarefa fácil até mesmo para economistas. É importante, porém, ter uma noção básica de como a política monetária dos governos interfere na saúde fiscal de um país. Neste vídeo, o conselheiro do Instituto Millenium e ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga explica porque o governo utiliza a taxa Selic para conter a inflação e analisa a importância de um ambiente econômico que permita a queda natural e sustentável dos juros. Assista abaixo!
[youtube https://www.youtube.com/watch?v=kWBYAtY8HL4%5D
O economista diz que, se comparada às principais economias do mundo, a elevada taxa de juros brasileira pode ser considerada “ponto fora da curva” — difícil de ser explicada. No entanto, a irresponsabilidade fiscal representa fator de peso para este desequilíbrio.
“De um tempo para cá, o principal fator é o fator de risco, que são as finanças públicas fora de qualquer grau de controle. Desde 2012, o Brasil vive um colapso da disciplina fiscal, e isso tem impacto sobre os juros. No momento, como estamos vivendo uma imensa recessão, o juro de curto prazo não está pressionado, mas os juros de longo prazo continuam muito altos, sinal de que existe uma certa desconfiança com relação ao nosso futuro. O juro tem uma relação com a situação fiscal do país porque, em última instância, isso diz algo sobre a qualidade da nossa moeda”, explica Armínio.
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Questionado sobre os efeitos de uma interferência artificial na redução da Selic, como praticada pelo governo da ex-presidente Dilma Rousseff, o economista defende um ambiente econômico saudável para que haja queda de juros com manutenção de baixa inflação. Os problemas do Brasil, no entanto, vão além.
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“Um movimento voluntarista, sem reformas, provoca um descompasso entre a demanda e a oferta e a inflação sobe. Não existe mágica para esta área. O que existe é espaço para trabalhar no lado fiscal, no lado da produtividade, de modo que se tenha menos prêmio de risco na economia e também uma resposta mais forte da oferta. O Brasil precisa de uma resposta muito mais completa”, defende, destacando a importância do foco no Banco Central no controle da inflação.
Juros bancários x Selic
Dúvida frequente entre os cidadãos brasileiros diz respeito às altas taxas de juros bancárias que, mesmo em períodos como o atual, com mínima história da Selic, não caem na mesma velocidade. O ex-presidente do BC explica que a questão passa pelo elevado grau de concentração do sistema bancário brasileiro, mas não pode ser resumida a isso. A dificuldade histórica das pessoas e empresas na busca por empréstimos dando os próprios ativos como garantia prejudica o cenário, e muitas vezes a legislação, na intenção de proteger o devedor, acaba por dificultar ainda mais os processos:
“A pessoa vai comprar uma moradia. Ela pode dar em garantia o próprio apartamento, isso é uma hipoteca ou alienação fiduciária. Mas durante anos esse mecanismo não funcionou no Brasil porque essa garantia, na prática, não valia muito. Às vezes, as boas intenções atrapalham. Uma decisão judicial, por exemplo, de proteger um devedor, acabou fazendo com que o dinheiro desse setor secasse ou tivesse que sair de algum subsídio”, aponta. “As empresas também precisam ter capacidade de usar seus ativos para levantar dinheiro barato, mas aí entra a questão do sistema jurídico de recuperação das empresas, que ainda precisa melhorar”.