Accioly: “mercado não precisa de intervenção do Estado para ser regulado”
Para o mestre em Economia e fundador do Instituto Millenium, alta dos preços nos mercados reforçou a tese; confira a entrevista!
Publicado em 16 de setembro de 2020 às, 11h05.
Mestre em Economia e membro fundador do Instituto Millenium, João Accioly lançou, recentemente, um artigo técnico para debater o fenômeno mais recente sentido pelos consumidores: o súbito aumento dos preços em diversos produtos. Na visão do economista, esse fenômeno mostra, de forma clara, que o mercado consegue se regular sem a intervenção do Estado. Em entrevista exclusiva , Accioly explicou seu ponto de vista. Ouça o podcast!
Em sua teoria, Accioly destaca que não faz sentido, em uma transação comercial, determinar quanto determinado produto vale, já que os dois lados fazem uma espécie de “cabo de guerra”. Ou seja: quem vende quer obter o maior lucro possível; e quem compra, satisfazer seu objeto de desejo ou necessidade. Segundo o economista, a pandemia do novo Coronavírus é um exemplo quase caricato da atuação do sistema de preços, já que produtos quase nunca lembrados pela população passaram a ser considerados itens essenciais.
“Tivemos uma grande alta que reflete a disposição das pessoas de comprarem. Antes, se estivessem dando de graça uma máscara na farmácia, dificilmente você pegaria uma, e, certamente, você não pegaria muitas para levar para casa e estocar máscaras, ou álcool em gel, tirando alguém com TOC de limpeza. De repente, todo mundo passa a querer aquilo e vale mais, é circunstancial. Meu reino por um cavalo ou a água no deserto, vale mais que um diamante. O valor é subjetivo e variável”, afirmou.
Sobre a recente alta do arroz, ocasionada pela subida do dólar, o crescimento das exportações e o aumento da demanda de consumo interno, Accioly acredita que a única medida saudável que o Estado pode e deve tomar é a redução do imposto de importação, deixando o restante a cargo do mercado.
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“A concorrência leva o preço a ficar razoável, porque se as pessoas estão dispostas a pagar R$ 40 em um saco de arroz, para você convencer as pessoas a não comprar do seu concorrente, você precisa oferecer a R$ 39. Depois outro vai oferecer a R$ 38 e esse processo ao longo de todo mercado é que leva o preço a patamares que reflitam um equilíbrio entre a quantidade disponível e quanto o produto está avaliado na preferência das pessoas. E aí se dão as substituições e ajustes graduais, que são dolorosos, mas ainda são as melhores alternativas”, reforçou.
O especialista define em seu artigo a alta nos preços como um remédio amargo para uma doença grave, que pode ser entendida, entre outras definições, como uma saída para evitar prateleiras vazias. De acordo com Accioly, o maior desafio para esse processo no Brasil ainda é a legislação falha, que permite brechas para que o Estado intervenha além do necessário.
“O consumidor vai comprar algo em um estabelecimento e o comerciante vai vender aquilo de uma forma que vá gerar um resultado muito bom para ele. E, se houver algum receio da pessoa que está vendendo, que vender aquilo a um preço que gere um resultado positivo possa gerar uma multa, ela pode escolher não vender. Por exemplo, o arroz eu só posso vender a R$ 30, mas ele tem o custo de R$ 32 e se eu vender a R$ 35 vou receber uma notificação do fiscal do Procon, então isso é um desincentivo. É uma distorção no sistema de preços”, explicou.
Ainda que não seja passível de idealizações, para Accioly, o sistema de preços como mecanismo de transmissão de informações econômicas é a forma menos traumática possível de regular o mercado e atender a necessidade das pessoas quando os recursos estão escassos. “É uma harmonia, uma ordem espontânea, porque não tem processo centralizado, milhões de pessoas atuando na sua esfera pequena de alcance e direcionando a produção para atender as necessidades de pessoas literalmente espalhadas ao redor mundo”, destacou.
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Ao aplicar sua teoria ao exemplo de alta atual, o especialista afirma que quando, se fala de efeitos positivos na alta dos preços, se refere à intuição e geração de oportunidades que surgem naturalmente, sem necessidade de intervenção. “Os efeitos positivos que eu me referi no artigo são essa inteligência descentralizada, a chamada mão invisível, porque as pessoas passam a decidir coletivamente de forma mais sábia. Então as pessoas vão ter que consumir menos arroz, não vão comprar além do necessário, não vão estocar. É o mecanismo de mercado operando, se o arroz está muito caro, o processo de competição, produção econômica e concorrência, leva a criação de oportunidade. O processo de descoberta, faz com que aos poucos e de forma espontânea se busque saídas, exemplo, vou pegar esse pedaço de terra e plantar arroz”, disse.