A importância das propostas para a política externa brasileira
“Procura-se liderança em política externa” é o título do artigo do analista político Marco Vicenzino, diretor do Global Strategy Project, em Washington, publicado na “Folha de S. Paulo” em 29 de outubro, destacando a importância de propostas para a política externa brasileiroa pelos dois candidatos à presidência, um tema que ficou esquecido durante a campanha. Para Vicenzino, “A desculpa de que os brasileiros comuns não se preocupam com o mundo […] Leia mais
Publicado em 31 de outubro de 2010 às, 10h19.
Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às, 10h55.
“Procura-se liderança em política externa” é o título do artigo do analista político Marco Vicenzino, diretor do Global Strategy Project, em Washington, publicado na “Folha de S. Paulo” em 29 de outubro, destacando a importância de propostas para a política externa brasileiroa pelos dois candidatos à presidência, um tema que ficou esquecido durante a campanha. Para Vicenzino, “A desculpa de que os brasileiros comuns não se preocupam com o mundo exterior não é mais aceitável. Usá-la como pretexto para evitar uma discussão de questões internacionais críticas equivale à desconsideração irresponsável pelo interesse nacional brasileiro”. Leia o artigo na íntegra abaixo:
“As questões mais importantes para o futuro de uma nação raramente estão entre as discutidas durante uma campanha eleitoral.
Com a chegada da etapa final da eleição presidencial brasileira, a política externa é uma questão crítica que não recebeu a devida prioridade. Infelizmente, retórica populista e ataques pessoais vêm prevalecendo cada vez mais, à medida que o dia da eleição se aproxima.
O sucessor de Lula herdará os desafios do Brasil, mas não o charme pessoal do atual presidente. A diplomacia pessoal de Lula não pode oferecer ao Brasil uma estratégia sustentável de longo prazo nas relações internacionais.
Isso destaca a necessidade fundamental de que os candidatos à Presidência conduzam debate real sobre a política externa. Não devem ser enigmáticos. Têm a responsabilidade, perante os cidadãos comuns e as futuras gerações, de incluir a política externa como parte integrante do debate interno.
Têm não só a obrigação de declarar qual sua posição sobre questões internacionais críticas como precisam explicá-la. Uma explicação interessa não apenas aos brasileiros comuns mas também aos parceiros soberanos e investidores estrangeiros que desempenham papel crítico no rápido desenvolvimento interno e externo do Brasil.
Para que possam se envolver de maneira efetiva com o Brasil, os estrangeiros precisam de mais clareza e certeza.
Jogar a carta do nacionalismo, especialmente quanto aos recursos naturais, a fim de angariar votos complicará ainda mais as coisas com os estrangeiros, que ainda enfrentam dificuldades para compreender o Brasil.
O risco de danos irreversíveis a uma imagem e reputação que ainda estão evoluindo continua real.
A política externa não é uma oportunidade de posar para as câmeras. Não perdurará com base apenas no ego. Não envolve simplesmente abraçar líderes estrangeiros ou roubar a cena diante das potências tradicionais.
Política externa requer capacidade pessoal, recursos institucionais e visão estratégica de longo prazo.
Envolve o interesse público, a segurança nacional de um Estado e uma ampla estabilidade internacional. Como potência em rápida ascensão, o Brasil precisa encontrar seu lugar de maneira efetiva em um mundo cada vez mais complexo.
Fazê-lo não só beneficiará o país como garantirá a estabilidade na região e no cenário internacional.
Ainda que o Brasil possa ter escapado às piores consequências da crise mundial, seu futuro está diretamente ligado ao mundo exterior, do qual depende. O Brasil pode prosperar em meio aos problemas dos Estados Unidos, mas sofreria caso a China tropeçasse.
A desculpa de que os brasileiros comuns não se preocupam com o mundo exterior não é mais aceitável. Usá-la como pretexto para evitar uma discussão de questões internacionais críticas equivale à desconsideração irresponsável pelo interesse nacional brasileiro.
Quanto a essa questão, os candidatos até o momento deixaram a desejar, diante de si mesmos e dos brasileiros comuns.
Em retrospecto, Lula fez um excelente trabalho ao permitir que os brasileiros comuns se sentissem parte do sistema. Ajudou a elevar muita gente a uma vida melhor.
Seu sucesso obviamente precisa usar essa base para realizações ainda maiores.
No entanto, o próximo presidente do Brasil também tem a responsabilidade de fazer com que os cidadãos percebam que têm interesse direto não só no crescimento interno do Brasil, mas também internacional. Em última análise, isso envolverá inúmeros benefícios, mas com um ônus considerável.”