A disputa interna prejudicou muito a oposição: Reflexões de Bongiovanni sobre as eleições argentinas
Instituto Millenium entrevista Alejandro Bongiovanni
Instituto Millenium
Publicado em 17 de novembro de 2023 às 15h45.
Última atualização em 21 de novembro de 2023 às 07h09.
À medida que a Argentina se aproxima do segundo turno das eleições presidenciais, marcadas para 19 de novembro (domingo), o cenário político do país apresenta-se mais complexo e intrigante do que nunca. De um lado, Sergio Massa, o peronista representando a coalizão incumbente, busca manter o legado e a influência de seu grupo político. Do outro, o emergente libertário Javier Milei, que, apesar de ser uma novidade na política argentina, conseguiu capturar o apoio de uma significativa parcela da oposição de centro-direita, representada pela coalizão Juntos por el Cambio.
Neste cenário de mudanças e expectativas, o Instituto Millenium teve o privilégio de conversar com Alejandro Bongiovanni, uma figura emergente no quadro político argentino. Bongiovanni, recentemente eleito deputado pela coalizão Juntos por el Cambio, traz consigo uma perspectiva enriquecida por sua experiência como advogado, mestre em Direito, Economia e Ciência Política, e diretor da Fundación Libertad . Nesta entrevista exclusiva, ele compartilha suas visões sobre os desafios atuais da Argentina, o futuro político do país e o impacto potencial das eleições no panorama político da América Latina.
Instituto Millenium: Em um artigo recente, você mencionou que Javier Milei carece de capacidade, experiência política e estabilidade emocional para ser presidente. No entanto, indicou que ainda assim votaria nele. Poderia explicar melhor essa postura?
Alejandro Bongiovanni: Acredito que para ser presidente é necessário respeitar a formação em temas relacionados ao Estado, independentemente de quão liberal se seja. Embora eu mesmo seja bastante liberal e defenda a redução do Estado, entendo que para modificar algo, é preciso primeiro compreender como ele funciona. Isso inclui entender onde estão os 'botões' de controle, os mecanismos e os processos administrativos. No caso de Javier, não vejo nele essa capacidade em um grau suficiente.
IM: Alguns think tanks, organizações da sociedade civil e pesquisadores acusam Milei de ser um ataque à democracia argentina, enquanto seu partido tem poucas cadeiras no Congresso e o apoio de Juntos Por El Cambio está fragmentado. Além disso, parece faltar apoio de grande parte da sociedade civil e do poder judiciário para implementar sua agenda completa. Você acredita que, mesmo assim, Milei pode representar um risco para a democracia?
AB: Não acredito que Milei represente um risco para a democracia. A democracia na Argentina é sólida e existe um forte consenso democrático, que abrange desde a esquerda até a direita. Devemos parar de criar alardes e invocar fantasmas. Ninguém é uma ameaça à democracia. Passaram 40 anos desde a restauração democrática e não faz sentido que a cada eleição, o kirchnerismo nos diga, à oposição, que somos uma ameaça à democracia. Isso é um exagero que não deve ser mais tolerado.
IM: No esforço de escolher um sucessor, o governo argentino anunciou, pouco antes das eleições, a isenção do imposto de renda para 99% da população, aumentou o valor das pensões, concedeu bônus aos aposentados e deixará um delicado legado econômico. Neste contexto, você acredita que uma vitória de Milei seria boa ou má para a propagação e reputação das ideias de liberdade, especialmente na América Latina?
AB: Não é uma questão de vitória ou derrota, mas sim de como as coisas evoluem. Acredito que, se Milei liderar um governo razoável, seria natural que os espaços liberais o tomassem como exemplo. Por outro lado, se for um governo ruim, é lógico que isso prejudique, de certa forma, a reputação dos liberais.
IM: No segundo turno, Milei adotou um tom mais conciliador, tentando convencer uma parte do eleitorado mais centralizado e reconciliar-se com o grupo político de Macri. Você acredita que, uma vez eleito, ele manterá essa linha?
AB: Sim, eu acredito que esse tom conciliador ou mais moderado será mantido, pois, se eleito, não será um presidente com grande força política. Ele não terá muitos prefeitos, governadores, deputados ou senadores ao seu lado. Portanto, será necessário buscar consenso e diálogo, quer ele queira ou não. Acredito que essa tendência ao diálogo, mesmo que forçada, é algo positivo.
IM: Diante de resultados econômicos desastrosos, não seria irracional imaginar que a oposição teria um desafio fácil para derrotar o governo atual na Argentina. O que aconteceu? Que lição os liberais latino-americanos devem tirar deste momento na Argentina?
AB: Acredito que a disputa interna (entre Patricia Bullrich e Horacio Rodríguez Larreta) prejudicou muito a oposição, uma disputa que seria saudável em contextos normais, mas em uma crise tão abrupta como a que a Argentina enfrenta, acabou sendo vista como uma briga de políticos desconectados da população. Não estou dizendo que foi assim, mas foi essa a percepção. A entrada de Milei foi decisiva para que a coalizão Juntos por el Cambio não conseguisse vencer Sergio Massa, mesmo no primeiro turno. Se a oposição fosse unida, Sergio Massa não teria tido chances. Além disso, a utilização do aparato estatal e os recursos empregados por Massa na campanha também ajudam a explicar o seu resultado.
IM: Se Massa for eleito, você acredita que existe alguma possibilidade de uma mudança de direção na política econômica argentina?
AB: Se Massa for eleito, acredito que ele tentará remediar a situação, provavelmente buscando aumentar os impostos sobre os setores produtivos e tentando impor mais pressão fiscal sobre a Cidade de Buenos Aires. Ele provavelmente tentará postergar o pagamento da dívida e as reformas econômicas o máximo possível, para minimizar o impacto nas corporações. Massa é um homem ligado às corporações, ao capitalismo de compadrio, ao mal chamado capitalismo, que busca garantir negócios para todos os seus parceiros. Portanto, não vejo nele uma tendência a realizar reformas profundas, mas sim a aplicar medidas paliativas.
IM: Na sua opinião, quem é o favorito para este domingo?
AB: O favorito para este domingo, na minha opinião, é Javier Milei, com uma diferença de entre 4 e 5 pontos, de acordo com os números que tenho visto.
À medida que a Argentina se aproxima do segundo turno das eleições presidenciais, marcadas para 19 de novembro (domingo), o cenário político do país apresenta-se mais complexo e intrigante do que nunca. De um lado, Sergio Massa, o peronista representando a coalizão incumbente, busca manter o legado e a influência de seu grupo político. Do outro, o emergente libertário Javier Milei, que, apesar de ser uma novidade na política argentina, conseguiu capturar o apoio de uma significativa parcela da oposição de centro-direita, representada pela coalizão Juntos por el Cambio.
Neste cenário de mudanças e expectativas, o Instituto Millenium teve o privilégio de conversar com Alejandro Bongiovanni, uma figura emergente no quadro político argentino. Bongiovanni, recentemente eleito deputado pela coalizão Juntos por el Cambio, traz consigo uma perspectiva enriquecida por sua experiência como advogado, mestre em Direito, Economia e Ciência Política, e diretor da Fundación Libertad . Nesta entrevista exclusiva, ele compartilha suas visões sobre os desafios atuais da Argentina, o futuro político do país e o impacto potencial das eleições no panorama político da América Latina.
Instituto Millenium: Em um artigo recente, você mencionou que Javier Milei carece de capacidade, experiência política e estabilidade emocional para ser presidente. No entanto, indicou que ainda assim votaria nele. Poderia explicar melhor essa postura?
Alejandro Bongiovanni: Acredito que para ser presidente é necessário respeitar a formação em temas relacionados ao Estado, independentemente de quão liberal se seja. Embora eu mesmo seja bastante liberal e defenda a redução do Estado, entendo que para modificar algo, é preciso primeiro compreender como ele funciona. Isso inclui entender onde estão os 'botões' de controle, os mecanismos e os processos administrativos. No caso de Javier, não vejo nele essa capacidade em um grau suficiente.
IM: Alguns think tanks, organizações da sociedade civil e pesquisadores acusam Milei de ser um ataque à democracia argentina, enquanto seu partido tem poucas cadeiras no Congresso e o apoio de Juntos Por El Cambio está fragmentado. Além disso, parece faltar apoio de grande parte da sociedade civil e do poder judiciário para implementar sua agenda completa. Você acredita que, mesmo assim, Milei pode representar um risco para a democracia?
AB: Não acredito que Milei represente um risco para a democracia. A democracia na Argentina é sólida e existe um forte consenso democrático, que abrange desde a esquerda até a direita. Devemos parar de criar alardes e invocar fantasmas. Ninguém é uma ameaça à democracia. Passaram 40 anos desde a restauração democrática e não faz sentido que a cada eleição, o kirchnerismo nos diga, à oposição, que somos uma ameaça à democracia. Isso é um exagero que não deve ser mais tolerado.
IM: No esforço de escolher um sucessor, o governo argentino anunciou, pouco antes das eleições, a isenção do imposto de renda para 99% da população, aumentou o valor das pensões, concedeu bônus aos aposentados e deixará um delicado legado econômico. Neste contexto, você acredita que uma vitória de Milei seria boa ou má para a propagação e reputação das ideias de liberdade, especialmente na América Latina?
AB: Não é uma questão de vitória ou derrota, mas sim de como as coisas evoluem. Acredito que, se Milei liderar um governo razoável, seria natural que os espaços liberais o tomassem como exemplo. Por outro lado, se for um governo ruim, é lógico que isso prejudique, de certa forma, a reputação dos liberais.
IM: No segundo turno, Milei adotou um tom mais conciliador, tentando convencer uma parte do eleitorado mais centralizado e reconciliar-se com o grupo político de Macri. Você acredita que, uma vez eleito, ele manterá essa linha?
AB: Sim, eu acredito que esse tom conciliador ou mais moderado será mantido, pois, se eleito, não será um presidente com grande força política. Ele não terá muitos prefeitos, governadores, deputados ou senadores ao seu lado. Portanto, será necessário buscar consenso e diálogo, quer ele queira ou não. Acredito que essa tendência ao diálogo, mesmo que forçada, é algo positivo.
IM: Diante de resultados econômicos desastrosos, não seria irracional imaginar que a oposição teria um desafio fácil para derrotar o governo atual na Argentina. O que aconteceu? Que lição os liberais latino-americanos devem tirar deste momento na Argentina?
AB: Acredito que a disputa interna (entre Patricia Bullrich e Horacio Rodríguez Larreta) prejudicou muito a oposição, uma disputa que seria saudável em contextos normais, mas em uma crise tão abrupta como a que a Argentina enfrenta, acabou sendo vista como uma briga de políticos desconectados da população. Não estou dizendo que foi assim, mas foi essa a percepção. A entrada de Milei foi decisiva para que a coalizão Juntos por el Cambio não conseguisse vencer Sergio Massa, mesmo no primeiro turno. Se a oposição fosse unida, Sergio Massa não teria tido chances. Além disso, a utilização do aparato estatal e os recursos empregados por Massa na campanha também ajudam a explicar o seu resultado.
IM: Se Massa for eleito, você acredita que existe alguma possibilidade de uma mudança de direção na política econômica argentina?
AB: Se Massa for eleito, acredito que ele tentará remediar a situação, provavelmente buscando aumentar os impostos sobre os setores produtivos e tentando impor mais pressão fiscal sobre a Cidade de Buenos Aires. Ele provavelmente tentará postergar o pagamento da dívida e as reformas econômicas o máximo possível, para minimizar o impacto nas corporações. Massa é um homem ligado às corporações, ao capitalismo de compadrio, ao mal chamado capitalismo, que busca garantir negócios para todos os seus parceiros. Portanto, não vejo nele uma tendência a realizar reformas profundas, mas sim a aplicar medidas paliativas.
IM: Na sua opinião, quem é o favorito para este domingo?
AB: O favorito para este domingo, na minha opinião, é Javier Milei, com uma diferença de entre 4 e 5 pontos, de acordo com os números que tenho visto.