A água já era o maior problema econômico e social do RS
Agora será ainda mais: a falta e o excesso dela. É preciso mudar isso
Colunista - Instituto Millenium
Publicado em 3 de junho de 2024 às 13h22.
20 anos atrás...
Fundação de Economia e Estatística, Secretaria do Planejamento RS e Banco Mundial. A água. A falta dela.
Era final de 2002, eu estava terminando meu doutorado em economia e recebo um convite inesperado do futuro secretário do planejamento do Rio Grande do Sul, João Carlos Brum Torres, do recém eleito Governo Germano Rigotto: ser presidente da Fundação de Economia e Estatística (FEE) do RS. Ainda muito jovem e sem a experiência para lidar com a gestão de mais de 200 pesquisadores, aceitei, movido pelo impulso e pela admiração que tinha pelo professor universitário e futuro secretário -que já havia sido secretário do planejamento do Governo Antônio Britto.
Umas das primeiras missões me empolgou. Ajudar o governo a entender o que poderia ser feito para melhorar a trajetória de crescimento da economia do Estado, que vinha perdendo participação relativa no PIB nacional nos últimos anos. Naquela época eu era um macroeconomista por formação com interesse em novas técnicas econométricas que havia aprendido nos últimos anos. Com esse viés, logo imaginei que iria encontrar explicações de livro texto para a dinâmica mais lenta de crescimento do Rio Grande do Sul: endividamento maior, menor capacidade de investimento do setor público, infraestrutura deficiente, piora da qualidade da educação e emigração de capital humano.
Foi montada uma estrutura robusta de pesquisa, com técnicos experientes da secretaria do planejamento da época, pesquisadores da FEE, consultores nacionais, locais e técnicos do Banco Mundial, que foi o principal financiador externo do estudo. Seguiu o trabalho nos anos de 2003 e 2004, e o principal resultado das análises, para minha surpresa, era que havia um fator de muito maior relevância para explicar a perda de dinamismo econômico do Estado nas duas décadas anteriores: as frequentes secas no Estado.
Aquele resultado, mostrado de maneira incontestável pelos impactos diretos e indiretos de frequentes períodos com escassez de água para a agropecuária (e seus impactos derivadas para as cadeias do agronegócio e serviços), me surpreendeu. Já havia ouvido e lido sobre as secas em alguns anos esporádicos, mas não tinha a dimensão dos impactos que os estudos revelaram. Coincidentemente, ou não, já em 2005, outra grave seca empurrou o PIB do RS para uma queda de 2,8%, enquanto o PIB nacional cresceu 3,2% naquele ano.
Seria natural e esperado que resultado tão eloquente do estudo se desdobrasse em ações de mitigação daquela tendência, não? Era o que eu esperava também. Mas um conjunto de fatores, que hoje associo ao final de mandato de governo, passando pelo perfil desafiador das soluções de armazenamento de água até desalinhamentos posteriores entre as futuras gestões dos novos governos estadual e federal, levaram a perda de foco no enfrentamento do problema das secas.
20 anos depois...mas ainda não em maio...
Mackinsey, Governo RS. A água de novo. Ainda a falta dela, mas via “eventos extremos”. O tamanho das perdas.
Pula o leitor agora para 10 de abril de 2024. Vinte anos depois e menos de um mês antes da tragédia climática de maio desse ano. O Governo Eduardo Leite apresenta para convidados do setor privado no Palácio Piratini um amplo estudo contratado com a consultoria Mckinsey sobre novos rumos para o desenvolvimento do RS.
O estudo usou bases de dados de 2002 a 2022, então seria muito interessante ver o que havia mudado em relação as duas décadas anteriores. O estudo também abordou provocações interessantes sobre novas oportunidades de futuro, ligadas, por exemplo à economia digital e à biotecnologia. Mas eu não conseguia me fixar nessa parte, prestando atenção em constatações iniciais sobre o que havia ocorrido nas últimas duas décadas:
- Entre 2002 e 2021 o crescimento do PIB real no RS foi o segundo menor entre as 27 unidades da federação
- Industria relativamente estagnada e crescimento da agropecuária limitada por ganhos de produtividade menores do que o resto do País.
Avaliando o potencial de competitividade do Estado, notem novamente o que aparece como um dos principais gargalos da economia:
“ O Estado possui alta disponibilidade hídrica, mas sem a infraestrutura adequada para suportar a volatilidade ao longo do ano e os efeitos dos eventos climáticos extremos mais frequentes” (Nova Agenda de Desenvolvimento Econômico, Sessão de Trabalho, Palácio Piratini, Mckinsey, 10/04/2024)
Evidentemente que na frase acima no estudo da Mckinsey, vale frisar, apresentado um mês antes da tragédia climática de maio, não se referia especificamente ao excesso de agua, mas primordialmente aos efeitos da seca.
No estudo recente, a consultoria não chegou a apresentar um cálculo de quanto as secas haviam impactado a economia do RGS entre 2001 e 2022. Eu resolvi então fazer uma aproximação um tanto simples, mas acredito que bastante razoável. Simplesmente peguei os anos de PIB negativos no RS entre 2001 e 2022 associados com fortes secas (há também anos com secas menos intensas onde há impactos, mas quando o PIB do RS não entrou em terreno negativo não usei esses anos; por tanto provavelmente subestimando os impactos totais). Nesses anos com PIB negativo do RS, e com PIB positivo do Brasil, apenas zerei o PIB do Estado (zero crescimento), vendo o valor entre a variação negativa e um PIB com zero de crescimento (também conservador porque poderia ter igualado com o crescimento do Brasil em cada ano). Cheguei a um valor aproximado de R$ 160 bilhões de reais de perdas no PIB RS ao longo dos 20 anos entre 2001 e 2022 por conta das secas! (lembrando que o estudo com o Banco Mundial em 2004 analisava as duas décadas anteriores...)
O valor acima de perdas na geração de valores no PIB (lembrando que não é só o impacto na agropecuária, também temos a indústria de máquinas e implementos agrícolas e toda a cadeia de comércio e serviços), a título de comparação, representa 30 vezes o que o Estado do RS arrecadou com a privatização da Corsan (R$ 4 bi), concluída em 2023. Usando uma alíquota média efetiva do ICMS no período, o Estado deixou de arrecadar aproximadamente R$ 43 bi com tal perda de geração de renda no Estado ao longo de 20 anos.
Vinte anos depois, novo estudo, novos pesquisadores, e o mesmo grande problema econômico no Estado: água, e até aquele momento, a falta de água em períodos específicos.
20 anos depois....mas já depois de maio...
A tragédia climática. De novo a água. Agora o excesso dela. O que iremos fazer?
Novo corte no tempo, agora mais curto, um mês depois: maio de 2024. A tragédia climática, a maior da história do RS, não deixa dúvidas sobre os sinais que outros eventos recentes já demonstravam: o excesso de acúmulo de água passará a ser um novo grande problema econômico e social do Estado. De novo a água, antes a escassez, agora o excesso.
Parece que a natureza, cansada já de dar recados passados concentrados na falta de água, resolveu apelar para o outro extremo, o excesso. Em ambos os casos com enorme perda econômica e social, ainda que no último com um poder de devastação muito maior num intervalo muito menor de tempo. O fato é que todos os dados acumulados e estatisticamente tratados nas últimas décadas mostram que crescentemente os eventos climáticos extremos são o principal fator de destruição na geração de riqueza no RGS, para não falar de um mal ainda maior, a destruição de muitas vidas e de histórias de vida.
O evento climático extremo de maio foi um outlier ainda mais extremo do que outros eventos recentes de calda amostral (lembrando que dos 4 mais impactantes eventos extremos nos últimos 100 anos no RS, 3 aconteceram nos últimos 7 meses - o 4o é o de 1941). Dito isso, se já sabemos faz duas décadas ao menos que lidar mal com a natureza e a água traz tanta destruição econômica e social no RS, por que é mesmo que não conseguimos como sociedade e governos uma solução de longo prazo sustentável para lidar com eventos climáticos extremos?
Não me aventuro aqui a dar uma resposta única. Tenho algumas hipóteses, como economista de formação, e num tema onde outras áreas do conhecimento humano interagem.
Começo infelizmente pela constatação de que a nossa sociedade (gaúcha e brasileira) e governos priorizam o curto prazo. Principalmente governos que tem horizontes temporais de 4 anos, a julgar pelas décadas passadas, sempre acharam que um evento extremo - de escassez ou de excesso de água- não se repetiria. Ou ao menos não se repetiria num mesmo governo.
Vejo outro componente importante também. Apesar do problema ser evidente, as soluções, aparentemente óbvias (reservar e desaguar preservando a natureza), exigem muitos recursos financeiros e fricções de execução (a começar pela correta estruturação e cumprimento da legislação ambiental). Há muitos interesses em jogo, e nem todos, longe disso, olhando para uma visão sustentável de longo prazo.
Por último, mas não menos importante, a conscientização sobre os riscos associados às mudanças climáticas enfrentou duras batalhas de desinformação nos últimos anos. A clareza de visão que deveria emergir de um debate puramente científico foi muito afetada por discussões ideológicas que nada tinham de cientificas. Assim, parece que foi preciso que a natureza convença gerando mais dor humana do que deveria ser necessário.
Aceitando ou não as explicações acima para a lentidão de respostas frente às mudanças climáticas, me parece que não há mais dúvidas sobre a urgência de soluções. Comentei os estudos e eventos aqui feitos com mais de 20 anos de intervalo com a esperança de que a sociedade gaúcha (e pelo exemplo, quem sabe a sociedade brasileira) compreenda que antes de saltos mais sofisticados de desenvolvimento precisamos nos reconciliar com o básico da vida humana.
O que já fizemos ou deixamos de fazer no passado terá um custo alto em termos de eventos extremos da natureza. Em algumas regiões, como no RS, tudo indica que os efeitos serão ainda maiores. Nos cabe fazer urgentemente o que ainda não fizemos: não agravar o problema e acharmos soluções locais para a mitigação sustentável frente às mudanças climáticas já conhecidas. Há bons exemplos no mundo, como o Room for the River na Holanda. O que não é mais aceitável é reproduzir o mesmo comportamento e as mesmas soluções do passado.
20 anos atrás...
Fundação de Economia e Estatística, Secretaria do Planejamento RS e Banco Mundial. A água. A falta dela.
Era final de 2002, eu estava terminando meu doutorado em economia e recebo um convite inesperado do futuro secretário do planejamento do Rio Grande do Sul, João Carlos Brum Torres, do recém eleito Governo Germano Rigotto: ser presidente da Fundação de Economia e Estatística (FEE) do RS. Ainda muito jovem e sem a experiência para lidar com a gestão de mais de 200 pesquisadores, aceitei, movido pelo impulso e pela admiração que tinha pelo professor universitário e futuro secretário -que já havia sido secretário do planejamento do Governo Antônio Britto.
Umas das primeiras missões me empolgou. Ajudar o governo a entender o que poderia ser feito para melhorar a trajetória de crescimento da economia do Estado, que vinha perdendo participação relativa no PIB nacional nos últimos anos. Naquela época eu era um macroeconomista por formação com interesse em novas técnicas econométricas que havia aprendido nos últimos anos. Com esse viés, logo imaginei que iria encontrar explicações de livro texto para a dinâmica mais lenta de crescimento do Rio Grande do Sul: endividamento maior, menor capacidade de investimento do setor público, infraestrutura deficiente, piora da qualidade da educação e emigração de capital humano.
Foi montada uma estrutura robusta de pesquisa, com técnicos experientes da secretaria do planejamento da época, pesquisadores da FEE, consultores nacionais, locais e técnicos do Banco Mundial, que foi o principal financiador externo do estudo. Seguiu o trabalho nos anos de 2003 e 2004, e o principal resultado das análises, para minha surpresa, era que havia um fator de muito maior relevância para explicar a perda de dinamismo econômico do Estado nas duas décadas anteriores: as frequentes secas no Estado.
Aquele resultado, mostrado de maneira incontestável pelos impactos diretos e indiretos de frequentes períodos com escassez de água para a agropecuária (e seus impactos derivadas para as cadeias do agronegócio e serviços), me surpreendeu. Já havia ouvido e lido sobre as secas em alguns anos esporádicos, mas não tinha a dimensão dos impactos que os estudos revelaram. Coincidentemente, ou não, já em 2005, outra grave seca empurrou o PIB do RS para uma queda de 2,8%, enquanto o PIB nacional cresceu 3,2% naquele ano.
Seria natural e esperado que resultado tão eloquente do estudo se desdobrasse em ações de mitigação daquela tendência, não? Era o que eu esperava também. Mas um conjunto de fatores, que hoje associo ao final de mandato de governo, passando pelo perfil desafiador das soluções de armazenamento de água até desalinhamentos posteriores entre as futuras gestões dos novos governos estadual e federal, levaram a perda de foco no enfrentamento do problema das secas.
20 anos depois...mas ainda não em maio...
Mackinsey, Governo RS. A água de novo. Ainda a falta dela, mas via “eventos extremos”. O tamanho das perdas.
Pula o leitor agora para 10 de abril de 2024. Vinte anos depois e menos de um mês antes da tragédia climática de maio desse ano. O Governo Eduardo Leite apresenta para convidados do setor privado no Palácio Piratini um amplo estudo contratado com a consultoria Mckinsey sobre novos rumos para o desenvolvimento do RS.
O estudo usou bases de dados de 2002 a 2022, então seria muito interessante ver o que havia mudado em relação as duas décadas anteriores. O estudo também abordou provocações interessantes sobre novas oportunidades de futuro, ligadas, por exemplo à economia digital e à biotecnologia. Mas eu não conseguia me fixar nessa parte, prestando atenção em constatações iniciais sobre o que havia ocorrido nas últimas duas décadas:
- Entre 2002 e 2021 o crescimento do PIB real no RS foi o segundo menor entre as 27 unidades da federação
- Industria relativamente estagnada e crescimento da agropecuária limitada por ganhos de produtividade menores do que o resto do País.
Avaliando o potencial de competitividade do Estado, notem novamente o que aparece como um dos principais gargalos da economia:
“ O Estado possui alta disponibilidade hídrica, mas sem a infraestrutura adequada para suportar a volatilidade ao longo do ano e os efeitos dos eventos climáticos extremos mais frequentes” (Nova Agenda de Desenvolvimento Econômico, Sessão de Trabalho, Palácio Piratini, Mckinsey, 10/04/2024)
Evidentemente que na frase acima no estudo da Mckinsey, vale frisar, apresentado um mês antes da tragédia climática de maio, não se referia especificamente ao excesso de agua, mas primordialmente aos efeitos da seca.
No estudo recente, a consultoria não chegou a apresentar um cálculo de quanto as secas haviam impactado a economia do RGS entre 2001 e 2022. Eu resolvi então fazer uma aproximação um tanto simples, mas acredito que bastante razoável. Simplesmente peguei os anos de PIB negativos no RS entre 2001 e 2022 associados com fortes secas (há também anos com secas menos intensas onde há impactos, mas quando o PIB do RS não entrou em terreno negativo não usei esses anos; por tanto provavelmente subestimando os impactos totais). Nesses anos com PIB negativo do RS, e com PIB positivo do Brasil, apenas zerei o PIB do Estado (zero crescimento), vendo o valor entre a variação negativa e um PIB com zero de crescimento (também conservador porque poderia ter igualado com o crescimento do Brasil em cada ano). Cheguei a um valor aproximado de R$ 160 bilhões de reais de perdas no PIB RS ao longo dos 20 anos entre 2001 e 2022 por conta das secas! (lembrando que o estudo com o Banco Mundial em 2004 analisava as duas décadas anteriores...)
O valor acima de perdas na geração de valores no PIB (lembrando que não é só o impacto na agropecuária, também temos a indústria de máquinas e implementos agrícolas e toda a cadeia de comércio e serviços), a título de comparação, representa 30 vezes o que o Estado do RS arrecadou com a privatização da Corsan (R$ 4 bi), concluída em 2023. Usando uma alíquota média efetiva do ICMS no período, o Estado deixou de arrecadar aproximadamente R$ 43 bi com tal perda de geração de renda no Estado ao longo de 20 anos.
Vinte anos depois, novo estudo, novos pesquisadores, e o mesmo grande problema econômico no Estado: água, e até aquele momento, a falta de água em períodos específicos.
20 anos depois....mas já depois de maio...
A tragédia climática. De novo a água. Agora o excesso dela. O que iremos fazer?
Novo corte no tempo, agora mais curto, um mês depois: maio de 2024. A tragédia climática, a maior da história do RS, não deixa dúvidas sobre os sinais que outros eventos recentes já demonstravam: o excesso de acúmulo de água passará a ser um novo grande problema econômico e social do Estado. De novo a água, antes a escassez, agora o excesso.
Parece que a natureza, cansada já de dar recados passados concentrados na falta de água, resolveu apelar para o outro extremo, o excesso. Em ambos os casos com enorme perda econômica e social, ainda que no último com um poder de devastação muito maior num intervalo muito menor de tempo. O fato é que todos os dados acumulados e estatisticamente tratados nas últimas décadas mostram que crescentemente os eventos climáticos extremos são o principal fator de destruição na geração de riqueza no RGS, para não falar de um mal ainda maior, a destruição de muitas vidas e de histórias de vida.
O evento climático extremo de maio foi um outlier ainda mais extremo do que outros eventos recentes de calda amostral (lembrando que dos 4 mais impactantes eventos extremos nos últimos 100 anos no RS, 3 aconteceram nos últimos 7 meses - o 4o é o de 1941). Dito isso, se já sabemos faz duas décadas ao menos que lidar mal com a natureza e a água traz tanta destruição econômica e social no RS, por que é mesmo que não conseguimos como sociedade e governos uma solução de longo prazo sustentável para lidar com eventos climáticos extremos?
Não me aventuro aqui a dar uma resposta única. Tenho algumas hipóteses, como economista de formação, e num tema onde outras áreas do conhecimento humano interagem.
Começo infelizmente pela constatação de que a nossa sociedade (gaúcha e brasileira) e governos priorizam o curto prazo. Principalmente governos que tem horizontes temporais de 4 anos, a julgar pelas décadas passadas, sempre acharam que um evento extremo - de escassez ou de excesso de água- não se repetiria. Ou ao menos não se repetiria num mesmo governo.
Vejo outro componente importante também. Apesar do problema ser evidente, as soluções, aparentemente óbvias (reservar e desaguar preservando a natureza), exigem muitos recursos financeiros e fricções de execução (a começar pela correta estruturação e cumprimento da legislação ambiental). Há muitos interesses em jogo, e nem todos, longe disso, olhando para uma visão sustentável de longo prazo.
Por último, mas não menos importante, a conscientização sobre os riscos associados às mudanças climáticas enfrentou duras batalhas de desinformação nos últimos anos. A clareza de visão que deveria emergir de um debate puramente científico foi muito afetada por discussões ideológicas que nada tinham de cientificas. Assim, parece que foi preciso que a natureza convença gerando mais dor humana do que deveria ser necessário.
Aceitando ou não as explicações acima para a lentidão de respostas frente às mudanças climáticas, me parece que não há mais dúvidas sobre a urgência de soluções. Comentei os estudos e eventos aqui feitos com mais de 20 anos de intervalo com a esperança de que a sociedade gaúcha (e pelo exemplo, quem sabe a sociedade brasileira) compreenda que antes de saltos mais sofisticados de desenvolvimento precisamos nos reconciliar com o básico da vida humana.
O que já fizemos ou deixamos de fazer no passado terá um custo alto em termos de eventos extremos da natureza. Em algumas regiões, como no RS, tudo indica que os efeitos serão ainda maiores. Nos cabe fazer urgentemente o que ainda não fizemos: não agravar o problema e acharmos soluções locais para a mitigação sustentável frente às mudanças climáticas já conhecidas. Há bons exemplos no mundo, como o Room for the River na Holanda. O que não é mais aceitável é reproduzir o mesmo comportamento e as mesmas soluções do passado.