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Obrigado Jack O’neill

Jack Oneill foi um dos maiores empreendedores e inovadores da indústria do surf.

FO

Felipe Ost Scherer

Publicado em 11 de junho de 2017 às 10h21.

Há poucos dias li com pesar a morte do americano Jack O’neill, um dos pioneiros no desenvolvimento de wetsuits. Estima-se que 75% das pessoas que hoje surfam no mundo todo utilizam em algum momento do ano roupas especiais para proteção ao frio. Além de um visionário, O’neill também converteu sua paixão pelo surf em um negócio de sucesso, transformando o esporte e estilo e vida de muitas pessoas.

Como surfista e gaúcho (por sorte minha geração sempre contou com os wetsuits para encarar o frio das águas durante as sessões de inverno), tenho especial admiração pela trajetória desse empreendedor. Coloco ele na lista daquelas grandes personalidades que conseguiram deixar sua marca com seu trabalho.

Algum tempo atrás escrevi sobre as 5 principais inovações utilizadas por Gabriel Medina no seu título mundial. Obviamente o wetsuit é uma delas e transcrevo aqui a parte referente ao produto:

A invenção dos wetsuits atuais está intimamente ligada com a indústria militar. Durante a segunda guerra mundial os aliados realizavam operações de mergulho para reconhecimento nas praias e remoção de minas visando preparar o desembarque de tropas com segurança. Em locais em que as águas eram frias os chamados homens-rã utilizam roupas de lã sobrepostos com trajes de borracha impermeáveis. O conceito era manter os mergulhadores secos, não permitindo que a água entrasse em contato com o corpo. O grande problemas dos drysuits era justamente o desconforto e a pouca mobilidade que oferecia.

Depois da guerra as forças armadas americanas perceberam a importância estratégica de desenvolver as competências para operações no oceano e passou a investir no desenvolvimento de tecnologias para suas unidades (além do wetsuit outras tecnologias decorreram desses esforços como a previsão de ondas). Hugh Bradner, um físico que durante a guerra trabalhou no projeto da bomba atômica, passou a buscar alternativas para os drysuits. A grande ideia de Bradner foi perceber que você não precisaria ficar seco para ficar quente. Com essa sacada, em 1952 ele mudou o paradigma dos trajes de mergulho.

Para colocar em prática essa ideia de permitir que uma fina camada de água ficasse em contato com a pele ele buscou uma borracha sintética que havia sido desenvolvida pela Dupont em 1930 chamada neoprene. O próprio neoprene foi desenvolvido para suprir a demanda por borracha natural imposta pelas restrições de acesso à matéria-prima vinda da Malásia. Como Bradner não conseguiu patentear sua invenção abriu-se espaço para o surgimento de empresas que visualizaram a nova tecnologia como uma grande oportunidade.

Surgiam então a O’neill e a Body Glove que trouxeram para o surf os wetsuits. O desenvolvimento dos wetsuits é uma das inovações mais importantes da história do surf pois ele permitiu que os surfistas pudessem praticar o esporte em locais até então não explorados (e não somente em locais tropicais), além de permitir que se pudesse ficar mais tempo na água e durante o ano todo. Além disso, o insight que Bradner trouxe, de que o corpo ficasse em contato com a água também foi fundamental para manter a ligação entre o surfista e o oceano.

De lá para cá muitas novidades foram incorporadas aos wetsuits como o nylon (que também havia sido inventado em 1934 pela Dupont) para evitar que as roupas se rasgassem o vestir, mudanças na modelagem, cores, maleabilidade do material, velocidade de secagem, formas de selamento das emendas e outros elementos mas ainda se mantém o conceito original criado por Bradner: quente não seco!

Avaliando sob a ótica dos negócios e inovação, algumas reflexões são interessantes:

Pode soar estranha essa afirmação mas na prática é assim que funciona. Bradner criou a tecnologia porém foi O’neill quem traduziu a mesma em uma aplicação valiosa para um grupo de consumidores. A tecnologia é o meio e não o fim. Há diversas histórias semelhantes em outros setores, talvez a mais famosa delas o uso da interface gráfica desenvolvida pela Xerox por Steve Jobs no Machintosh. Já escrevi sobre isso aqui.

Jack O’neill era um apaixonado pela mar e pelo surf. Antes dos wetsuits, os surfistas aguentavam no máximo 20 minutos nas águas geladas do norte da Califórnia. O’neill queria surfar durante mais tempo. Ele enxergou a oportunidade com olhos de surfistas, levando em conta suas necessidades e características de mobilidade e durabilidade.

No início as pessoas afirmavam que O’neill venderia sua criação para alguns poucos amigos e nada mais. Foi assim como os computadores, telefones celulares e diversos outros produtos. Ele seguiu acreditando no produto e rapidamente o mesmo se popularizou no mundo todo.

Para potencializar as vendas de sua nova criação, O’neill foi também o pioneiro no conceito de surf shops. Ele precisava de um canal próprio para vender seus produtos, reforçando o conceito único da marca. Ele chegou a registrar o termo surf shop mas posteriormente deixou que várias lojas semelhantes o utilizassem. O esporte crescendo também cresceria a venda dos seus produtos. Essa visão ajudou na adoção da inovação criada.

Assim, na próxima vez que você for surfar e estiver usando um wetsuit, lembre-se do legado de Jack O’neill. Um grande homem que transformou sua paixão pelo surf em negócio e impactou positivamente todos nós. Obrigado Jack O’neill!

Felipe Ost Scherer

Há poucos dias li com pesar a morte do americano Jack O’neill, um dos pioneiros no desenvolvimento de wetsuits. Estima-se que 75% das pessoas que hoje surfam no mundo todo utilizam em algum momento do ano roupas especiais para proteção ao frio. Além de um visionário, O’neill também converteu sua paixão pelo surf em um negócio de sucesso, transformando o esporte e estilo e vida de muitas pessoas.

Como surfista e gaúcho (por sorte minha geração sempre contou com os wetsuits para encarar o frio das águas durante as sessões de inverno), tenho especial admiração pela trajetória desse empreendedor. Coloco ele na lista daquelas grandes personalidades que conseguiram deixar sua marca com seu trabalho.

Algum tempo atrás escrevi sobre as 5 principais inovações utilizadas por Gabriel Medina no seu título mundial. Obviamente o wetsuit é uma delas e transcrevo aqui a parte referente ao produto:

A invenção dos wetsuits atuais está intimamente ligada com a indústria militar. Durante a segunda guerra mundial os aliados realizavam operações de mergulho para reconhecimento nas praias e remoção de minas visando preparar o desembarque de tropas com segurança. Em locais em que as águas eram frias os chamados homens-rã utilizam roupas de lã sobrepostos com trajes de borracha impermeáveis. O conceito era manter os mergulhadores secos, não permitindo que a água entrasse em contato com o corpo. O grande problemas dos drysuits era justamente o desconforto e a pouca mobilidade que oferecia.

Depois da guerra as forças armadas americanas perceberam a importância estratégica de desenvolver as competências para operações no oceano e passou a investir no desenvolvimento de tecnologias para suas unidades (além do wetsuit outras tecnologias decorreram desses esforços como a previsão de ondas). Hugh Bradner, um físico que durante a guerra trabalhou no projeto da bomba atômica, passou a buscar alternativas para os drysuits. A grande ideia de Bradner foi perceber que você não precisaria ficar seco para ficar quente. Com essa sacada, em 1952 ele mudou o paradigma dos trajes de mergulho.

Para colocar em prática essa ideia de permitir que uma fina camada de água ficasse em contato com a pele ele buscou uma borracha sintética que havia sido desenvolvida pela Dupont em 1930 chamada neoprene. O próprio neoprene foi desenvolvido para suprir a demanda por borracha natural imposta pelas restrições de acesso à matéria-prima vinda da Malásia. Como Bradner não conseguiu patentear sua invenção abriu-se espaço para o surgimento de empresas que visualizaram a nova tecnologia como uma grande oportunidade.

Surgiam então a O’neill e a Body Glove que trouxeram para o surf os wetsuits. O desenvolvimento dos wetsuits é uma das inovações mais importantes da história do surf pois ele permitiu que os surfistas pudessem praticar o esporte em locais até então não explorados (e não somente em locais tropicais), além de permitir que se pudesse ficar mais tempo na água e durante o ano todo. Além disso, o insight que Bradner trouxe, de que o corpo ficasse em contato com a água também foi fundamental para manter a ligação entre o surfista e o oceano.

De lá para cá muitas novidades foram incorporadas aos wetsuits como o nylon (que também havia sido inventado em 1934 pela Dupont) para evitar que as roupas se rasgassem o vestir, mudanças na modelagem, cores, maleabilidade do material, velocidade de secagem, formas de selamento das emendas e outros elementos mas ainda se mantém o conceito original criado por Bradner: quente não seco!

Avaliando sob a ótica dos negócios e inovação, algumas reflexões são interessantes:

Pode soar estranha essa afirmação mas na prática é assim que funciona. Bradner criou a tecnologia porém foi O’neill quem traduziu a mesma em uma aplicação valiosa para um grupo de consumidores. A tecnologia é o meio e não o fim. Há diversas histórias semelhantes em outros setores, talvez a mais famosa delas o uso da interface gráfica desenvolvida pela Xerox por Steve Jobs no Machintosh. Já escrevi sobre isso aqui.

Jack O’neill era um apaixonado pela mar e pelo surf. Antes dos wetsuits, os surfistas aguentavam no máximo 20 minutos nas águas geladas do norte da Califórnia. O’neill queria surfar durante mais tempo. Ele enxergou a oportunidade com olhos de surfistas, levando em conta suas necessidades e características de mobilidade e durabilidade.

No início as pessoas afirmavam que O’neill venderia sua criação para alguns poucos amigos e nada mais. Foi assim como os computadores, telefones celulares e diversos outros produtos. Ele seguiu acreditando no produto e rapidamente o mesmo se popularizou no mundo todo.

Para potencializar as vendas de sua nova criação, O’neill foi também o pioneiro no conceito de surf shops. Ele precisava de um canal próprio para vender seus produtos, reforçando o conceito único da marca. Ele chegou a registrar o termo surf shop mas posteriormente deixou que várias lojas semelhantes o utilizassem. O esporte crescendo também cresceria a venda dos seus produtos. Essa visão ajudou na adoção da inovação criada.

Assim, na próxima vez que você for surfar e estiver usando um wetsuit, lembre-se do legado de Jack O’neill. Um grande homem que transformou sua paixão pelo surf em negócio e impactou positivamente todos nós. Obrigado Jack O’neill!

Felipe Ost Scherer

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