Exame.com
Continua após a publicidade

Como grandes empresas podem inovar mais rápido, barato e acertando mais?

Essa é a pergunta que faço diariamente nos últimos 10 anos desde que co-fundei a Innoscience, empresa de consultoria especializada em gestão da inovação para grandes empresas. Ao longo desse tempo passamos por períodos turbulentos e de crescimento econômico que atingiram de forma heterogênea dependendo do setor que analisamos, mas é fato que a evolução da mudanças do mercado, concorrência, tecnologias e outras demandas criaram uma obsessão nas grandes empresas […] Leia mais

I
Inovação na prática

Publicado em 19 de julho de 2016 às, 20h46.

Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às, 07h34.

Essa é a pergunta que faço diariamente nos últimos 10 anos desde que co-fundei a Innoscience, empresa de consultoria especializada em gestão da inovação para grandes empresas.

Ao longo desse tempo passamos por períodos turbulentos e de crescimento econômico que atingiram de forma heterogênea dependendo do setor que analisamos, mas é fato que a evolução da mudanças do mercado, concorrência, tecnologias e outras demandas criaram uma obsessão nas grandes empresas estabelecidas por inovação.

Vejo que há três elementos importantes que desafiam as grandes empresas a inovar: incerteza dos projetos, tempo das pessoas e falta de comprometimento das áreas com os novos projetos.

Projetos com alto grau de incerteza e complexidade são o inimigo número 1 da inovação nas grandes empresas. Primeiro porque são difíceis de ser aprovados pois o modelo de tomada de decisão vigente é baseado em provar que o cálculo do retorno do investimento será positivo. Se colocamos projetos realmente inovadores (e normalmente com altos índices de incerteza e as vezes complexidade também) ao lado de projetos de expansão e continuidade ao que a empresa já faz, os riscos do primeiro fazem com que eles sejam rejeitados. Em muitas empresas a síndrome do ver para crer (ou evitar o desconhecido) é o modelo vigente.

Em segundo lugar vem a questão do tempo. Inovar requer dedicar tempo para essas atividades. O modelo de deixar as pessoas usar o tempo livre para inovar funciona para pequenos projetos de melhoria mas não para aqueles de maior escopo e incertezas associadas. É como esperar que as pessoas deem uma “inovadinha” no seu tempo livre. Isso na prática não funciona. Ninguém tem tempo livre, pelo contrário. Então um planejamento adequado para montar a estrutura adequada para responder a estratégia de inovação se faz necessário.

Cabe falar ainda da falta de comprometimento das áreas com os novos projetos. Gestores trabalham para controlar os processos, reduzir a variabilidade e garantir o cumprimento dos padrões estabelecidos. Eles são cobrados e recompensados por isso. Desenvolvimentos que rompem com esses parâmetros nem sempre são bem vindos. Já vi diversos casos em que os projetos “empacam” quando é hora de fazer scale-up e as áreas envolvidas não tem o comprometimento para o sucesso do projeto. Muitas histórias de dificuldades são vividas em momentos de prototipação que é necessário utilizar recursos e pessoas que não se mostram disponíveis para tal.

Projetos dessa natureza precisam do apoio da alta gestão, dinheiro e pessoas com novas ideias e competências para desenvolver esses projetos.

Dito isso, vamos às ações que as grandes empresas estão tomando para romper com essas dificuldades. Vejamos alguns exemplos de como fazer isso:

1. Montando a estrutura certa para cada estratégia
O Aché Laboratórios é uma das empresas farmacêuticas mais inovadoras do Brasil. Nos últimos anos recebeu diversos reconhecimentos nesse sentido a partir de uma visão de longo prazo no qual a inovação tem papel fundamental. Para chegar lá foi estruturado um Núcleo de Inovação com atividades de inovação radical e incremental voltados para produtos e moléculas. Além disso, há uma estrutura voltada para novos negócios e parcerias. Para mobilizar as pessoas e a cultura da empresa também foi criada a Academia Aché de Inovação para projetos de curta duração e menor intensidade de recursos. Todas essas estruturas trabalham de maneira complementar e alinhadas com a estratégia de inovação da empresa.

2. Buscando apoio externo
Nunca antes as startups e as grandes empresas estiveram tão próximas. Várias empresas como Gerdau, Natura, Roche, EDP estão realizando eventos e programas de aceleração de ideias de empresas nascentes. Recentemente a Gerdau, líder em aços longos nas Américas, organizou um Hackathon, uma maratona de desenvolvimento para desenvolvimento de apps, análise de big data, gamificação, digitalização de canais de relacionamento, sensores e plataformas de internet das coisas entre outras tecnologias. Outras exemplos como Braskem Labs, Telefonica Wayra e Oxigênio (Porto Seguro) são variações que visam identificar e acelerar projetos inovadores de estudantes e empresas nascentes.

3. Engajando todas as pessoas
Muitas vezes a falta de engajamento das áreas de suporte aos projetos de inovação é fruto da falta de visão estratégica da importância da inovação para o negócio. Para resolver isso, as grandes empresas tem estruturado programas de sensibilização e capacitação de lideranças e colaboradores para inovar. Empresas como Itaú, Coca-Cola, Technip e Calçados Bibi tem programas intensos de mobilização e preparação das pessoas para inovar, através de metodologias e ferramentas específicas. Independente do setor, todos são responsáveis pela inovação acontecer.

Felipe Ost Scherer