Exame.com
Continua após a publicidade

A estratégia define as melhores abordagens para a inovação

Investir em startups, realizar um programa de ideias, montar um lab de inovação ou outra iniciativa pode fazer muito ou nenhum sentido para a empresa.

I
Inovação na prática

Publicado em 10 de maio de 2021 às, 16h11.

Pensar a inovação como um processo gerenciado, com método e ferramentas adequadas sempre foi um dos mantras do nosso trabalho. Essa abordagem cria as condições necessárias para que a inovação ocorra de maneira intencional e controlada. Muito da nossa preocupação com isso, veio da dificuldade que percebemos daqueles responsáveis pela inovação nas empresas em juntar todos os elementos da gestão da inovação.

Não raro, os responsáveis por executar o trabalho nas organizações deixavam de lado os elementos menos visíveis, mas não menos importantes, da gestão da inovação. Inúmeras vezes nos deparamos com casos em que o processo de geração e execução de projetos inovadores não fazia sentido com a estratégia do negócio ou mesmo os mecanismos de incentivo não conversavam com os comportamentos desejados. Inexistência de métricas adequadas, lideranças não sensibilizadas, falta de políticas de alocação de orçamento para inovação, governança inadequada e tantas outras lacunas são fáceis de encontrar em empresas que não trabalham de maneira sistêmica a inovação.

O Octógono da Inovação é um framework conceitual e prático que criado visando trazer os elementos necessários para organizar a gestão da inovação dentro das corporações. Ele apresenta um conjunto de dimensões que permite estabelecer práticas e deliberações com impacto nos resultados alcançados pelas empresas. Com essa visão propomos trabalhar a inovação com método, ferramentas, métricas idealmente concebidos para esse fim. Os resultados da abordagem gerenciada versus o modelo aleatório falam por si só.

Relatamos em detalhes a lógica do octógono da inovação em um livro chamado Gestão da Inovação na Prática. Nele trazemos as definições, casos e ferramentas que auxiliam o gestor a gerenciar a inovação. Cada dimensão possui alguns elementos que direcionam o executivo que a utiliza na aplicação prática. Por exemplo, na dimensão cultura de inovação falamos de colaboração, diversidade, tolerância ao erro, comunicação interna, tempo dedicado para inovar, etc... Em estratégia apontamos elementos fundamentais para deliberar um direcionamento de porque, quanto, onde e como. A adequada abordagem desses “building blocks” cria as condições para que a inovação aconteça.

Nos últimos 15 anos, pudemos validar o modelo do octógono da inovação em diferentes projetos de consultoria com grandes empresas nacionais e multinacionais, além dele ter sido utilizado como framework para mais de 100 trabalhos acadêmicos de graduação e pós-graduação nesse período.

Alguns anos atrás fomos contratados por uma grande empresa que estava insatisfeita com os resultados das suas iniciativas de inovação. Após uma breve discussão durante o período de planejamento estratégico, decidiu-se que a empresa iria lançar um programa de inovação que pudesse coletar todas as ideias dos funcionários.

Pouco tempo depois, já frustrados com os resultados, perceberam que era hora de refinar a abordagem que nitidamente mostrava limitações relacionadas às entregas esperadas pela alta administração. Como de costume, iniciamos o trabalho analisando os oito aspectos presentes no octógono da inovação para identificar as lacunas nas práticas existentes na empresa. Diversos aspectos foram mapeados como oportunidades de melhoria na abordagem, tais como: definição de uma estratégia de inovação clara e comunicada, alinhamento das lideranças média para quanto à importância do tema para o futuro do negócio, ajuste nos indicadores para acompanhamento das iniciativas e projetos, redesenho e criação de programas internos e abertos que pudessem entregar os objetivos desenhados na estratégia, etc… A todo foram mais de 30 oportunidades de ajustes identificadas.

Mesmo que os conceitos de gestão da inovação tenham sido difundidos mais intensamente nos últimos anos, esse tipo de situação é bastante comum de encontrarmos, mesmo em grandes empresas que já trabalham com inovação há algum tempo. Se em empresas com uma trajetória consolidada há problemas, muitas que estão no início da jornada, na ânsia de mostrar resultados rápidos ou inspiradas em algum caso de sucesso do setor, acabam copiando iniciativas de outros players sem muito critério ou lógica.

Investir ou conectar startups, realizar um programa interno de ideias, montar um lab de inovação, hackathons e qualquer outro tipo de iniciativa pode fazer muito ou nenhum sentido para quem está executando. Tudo depende da estratégia e contexto cultural da empresa. Sem uma reflexão adequada do porque, onde e quanto inovar é premeditado definir como e com quem inovar.

Existe uma trajetória de aprendizado na abordagem sistemática de inovação em uma corporação, de forma que é de se esperar pontos de ajustes nos primeiros ciclos. Entretanto, diversos problemas comuns podem ser minimizados seguindo as metodologias e ferramentas já validadas na prática.

Felipe Ost Scherer