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Inovações e novas tecnologias no setor de água e saneamento

A evolução das novas tecnologias no setor de água e saneamento terá papel chave na universalização dos serviços, na redução consistente de custos e perdas

A gestão de resíduos sólidos, outra área crítica de saneamento básico, também oferece oportunidades para disrupção (TV Brasil/Reprodução)

Publicado em 13 de dezembro de 2023 às 14h56.

Seguindo nossa série sobre os benefícios das tecnologias no setor de infraestrutura (Infratech), neste artigo vamos falar do setor água e saneamento.

O ano de 1908 é um marco do uso do cloro como desinfetante no tratamento de água para abastecimento [1]. Por mais essencial que água potável seja ao longo da humanidade, o padrão básico moderno de tratamento existe há pouco mais de 100 anos. E há bastante espaço para aprimoramento.

Inovações e tecnologias digitais podem ajudar em tarefas básicas, como conseguir reduzir perdas de água. Para se ter uma ideia da relevância dessa tarefa, no Brasil, cerca de 40,3% da água potável é registrada como “não contabilizada ou perdida na distribuição”.

Vazamentos são uma das causas de perda. Achar vazamentos debaixo da terra não é fácil. Uma tecnologia disponível desde os anos 1970 é monitorar os sons da água passando pelos canos. Uma startup israelense oferece uma nova abordagem, utilizando sensores em satélites para identificar água potável próxima a canos com vazamentos. Há outras tecnologias sendo desenvolvidas para o mesmo propósito.

Novas tecnologias também podem revolucionar o outro extremo do sistema: o reuso de água e a destinação dos resíduos de esgoto. Há grande potencial inexplorado. A União Europeia registrou uma taxa média de reuso de efluentes de apenas 2,4%. Em comparação, Chipre e Malta observam taxas de reuso de 90% e 60%, respectivamente.

Em 2022, a UFMG noticiou pesquisas envolvendo o aproveitamento, na revitalização de áreas degradadas e na produção agrícola, do lodo produzido como resíduo no tratamento de esgotos. Uma outra abordagem envolve o tratamento descentralizado, com reuso de água no próprio prédio. Umastartupde São Francisco afirma ser possível reciclar até 95% da água de forma local, o que pode permitir poupar tanto o uso de nova água como o custo de tratamento centralizado.

A gestão de resíduos sólidos, outra área crítica de saneamento básico, também oferece oportunidades para disrupção. Uma grande dificuldade de reciclagem de lixo é a separação de materiais. Alumínio, vidro, plástico e outros materiais recicláveis devem ser segregados antes de processamento. Essa tarefa pode envolver custos e dificuldades substanciais.

Robôs oferecem um potencial de solução. Entram em cena startups como a Gongye Technology, que desenvolve equipamento de triagem de lixo usando inteligência artificial.  A companhia também inovou no financiamento do equipamento, oferecendo uma opção de leasing a 620 dólares por mês, que intitulou deRobotics as a Service.

Mas o setor de saneamento oferece oportunidades tecnológicas para além do tratamento de água, esgoto e lixo. A pandemia COVID-19, por exemplo, expandiu o interesse em técnicas de coleta de informações a partir de água de esgoto. Amostras coletadas na rede permitiram identificar ondas de transmissão. Em Boston, um hospital infantil decidiu adiar cirurgias com base em indícios de crescimento da variante Omicron no esgoto local.

Outros tipos de informação podem ser obtidos. A partir do esgoto, é possível monitorar o consumo de várias substâncias, desde cocaína e álcool até frutas. A coleta de amostras também pode ser local, como na saída de esgoto de um prédio. Essa especificação possibilita maior amplitude de pesquisa, ao mesmo tempo que suscita possíveis preocupações com privacidade.

Em conclusão, nota-se que novas tecnologias oferecem grande potencial de redução de custos no setor de água e saneamento, mas também de abertura de novas fronteiras, gerando novos dados e serviços. Essas possibilidades podem ser a diferença para atingirmos a meta nacional de universalização do tratamento de água e esgoto até 2033.

Em nosso próximo post, exploraremos Infratech no setor elétrico.

Reinaldo Fioravanti, é especialista principal na Divisão de Transportes do BID, responsável pela estruturação de grandes projetos de infraestrutura e assessoria a governos no desenho e implementação de políticas públicas. Lidera grupos de trabalho nas áreas de logística, infratech, aviação e mobilidade urbana, entre outros. Possui mestrado em Políticas Públicas pela Universidade de Harvard e em Supply Chain Management pelo Massachusetts Institute of Technology/ZLC Espanha; e doutorado em Engenharia de Transportes pela Universidade Estadual de Campinas.

Breno Zaban, CFA, é advogado. Doutor em direito (UnB), mestre em administração de negócios (INSEAD) e mestre em administração pública (Harvard)

O grupo Infra 2038 é um movimento sem fins lucrativos iniciado em 2017, formado por mais de 100 pessoas físicas com grande experiência no setor de infraestrutura. O grupo é movido pela crença que o país precisa avançar fortemente em sua infraestrutura para garantir um aumento de produtividade que, por sua vez, trará ao Brasil uma maior competitividade internacional. Saiba mais aqui

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Seguindo nossa série sobre os benefícios das tecnologias no setor de infraestrutura (Infratech), neste artigo vamos falar do setor água e saneamento.

O ano de 1908 é um marco do uso do cloro como desinfetante no tratamento de água para abastecimento [1]. Por mais essencial que água potável seja ao longo da humanidade, o padrão básico moderno de tratamento existe há pouco mais de 100 anos. E há bastante espaço para aprimoramento.

Inovações e tecnologias digitais podem ajudar em tarefas básicas, como conseguir reduzir perdas de água. Para se ter uma ideia da relevância dessa tarefa, no Brasil, cerca de 40,3% da água potável é registrada como “não contabilizada ou perdida na distribuição”.

Vazamentos são uma das causas de perda. Achar vazamentos debaixo da terra não é fácil. Uma tecnologia disponível desde os anos 1970 é monitorar os sons da água passando pelos canos. Uma startup israelense oferece uma nova abordagem, utilizando sensores em satélites para identificar água potável próxima a canos com vazamentos. Há outras tecnologias sendo desenvolvidas para o mesmo propósito.

Novas tecnologias também podem revolucionar o outro extremo do sistema: o reuso de água e a destinação dos resíduos de esgoto. Há grande potencial inexplorado. A União Europeia registrou uma taxa média de reuso de efluentes de apenas 2,4%. Em comparação, Chipre e Malta observam taxas de reuso de 90% e 60%, respectivamente.

Em 2022, a UFMG noticiou pesquisas envolvendo o aproveitamento, na revitalização de áreas degradadas e na produção agrícola, do lodo produzido como resíduo no tratamento de esgotos. Uma outra abordagem envolve o tratamento descentralizado, com reuso de água no próprio prédio. Umastartupde São Francisco afirma ser possível reciclar até 95% da água de forma local, o que pode permitir poupar tanto o uso de nova água como o custo de tratamento centralizado.

A gestão de resíduos sólidos, outra área crítica de saneamento básico, também oferece oportunidades para disrupção. Uma grande dificuldade de reciclagem de lixo é a separação de materiais. Alumínio, vidro, plástico e outros materiais recicláveis devem ser segregados antes de processamento. Essa tarefa pode envolver custos e dificuldades substanciais.

Robôs oferecem um potencial de solução. Entram em cena startups como a Gongye Technology, que desenvolve equipamento de triagem de lixo usando inteligência artificial.  A companhia também inovou no financiamento do equipamento, oferecendo uma opção de leasing a 620 dólares por mês, que intitulou deRobotics as a Service.

Mas o setor de saneamento oferece oportunidades tecnológicas para além do tratamento de água, esgoto e lixo. A pandemia COVID-19, por exemplo, expandiu o interesse em técnicas de coleta de informações a partir de água de esgoto. Amostras coletadas na rede permitiram identificar ondas de transmissão. Em Boston, um hospital infantil decidiu adiar cirurgias com base em indícios de crescimento da variante Omicron no esgoto local.

Outros tipos de informação podem ser obtidos. A partir do esgoto, é possível monitorar o consumo de várias substâncias, desde cocaína e álcool até frutas. A coleta de amostras também pode ser local, como na saída de esgoto de um prédio. Essa especificação possibilita maior amplitude de pesquisa, ao mesmo tempo que suscita possíveis preocupações com privacidade.

Em conclusão, nota-se que novas tecnologias oferecem grande potencial de redução de custos no setor de água e saneamento, mas também de abertura de novas fronteiras, gerando novos dados e serviços. Essas possibilidades podem ser a diferença para atingirmos a meta nacional de universalização do tratamento de água e esgoto até 2033.

Em nosso próximo post, exploraremos Infratech no setor elétrico.

Reinaldo Fioravanti, é especialista principal na Divisão de Transportes do BID, responsável pela estruturação de grandes projetos de infraestrutura e assessoria a governos no desenho e implementação de políticas públicas. Lidera grupos de trabalho nas áreas de logística, infratech, aviação e mobilidade urbana, entre outros. Possui mestrado em Políticas Públicas pela Universidade de Harvard e em Supply Chain Management pelo Massachusetts Institute of Technology/ZLC Espanha; e doutorado em Engenharia de Transportes pela Universidade Estadual de Campinas.

Breno Zaban, CFA, é advogado. Doutor em direito (UnB), mestre em administração de negócios (INSEAD) e mestre em administração pública (Harvard)

O grupo Infra 2038 é um movimento sem fins lucrativos iniciado em 2017, formado por mais de 100 pessoas físicas com grande experiência no setor de infraestrutura. O grupo é movido pela crença que o país precisa avançar fortemente em sua infraestrutura para garantir um aumento de produtividade que, por sua vez, trará ao Brasil uma maior competitividade internacional. Saiba mais aqui

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