Tragédia dos Comuns: desafios socioambientais demandam cooperação
A importância desta pauta reside em evitar a “A Tragédia dos Comuns”, obra do ecologista Garrett Hardin, publicada em 1968
Da Redação
Publicado em 1 de março de 2023 às 09h00.
O conteúdo desse blog é gerenciado pelo Insper Metricis , o núcleo do Insper especializado em realizar estudos sobre estratégias organizacionais e práticas de gestão envolvendo projetos com potencial de gerar alto impacto socioambiental.
Por Fernanda K. Lemos*
O aquecimento global e sua mitigação, fome e segurança alimentar e a preservação da biodiversidade são grandes desafios socioambientais que visam ao bem-estar comum. A importância desta pauta reside em evitar a “A Tragédia dos Comuns”, obra do ecologista Garrett Hardin, publicada em 1968. O autor chama a atenção para problemas como o crescimento da população e o uso dos recursos naturais, cuja solução residiria apenas em mudança de técnicas das ciências naturais ou de natureza moral. Caso contrário, todos perderiam conjuntamente.
Os desafios mundiais debatidos nas últimas duas Conferências das Partes (COP) 26 e 27, respectivamente, em Glasgow e Sharm el Sheik em 2021 e 2022 traduzem fortes elementos de Hardin: já atingimos 8 bilhões de pessoas, as metas do Acordo de Paris (2015) não foram cumpridas e as perspectivas de aquecimento global aumentam para 2,9 ºC. Adicionalmente, estima-se que a situação de insegurança alimentar se agrave de 193 para 222 milhões de pessoas entre 2021 e 2023, de acordo com o World Food Programme e FAO, principalmente em países menos desenvolvidos.
Embora o cenário seja de pessimismo, nem tudo está perdido. Segundo Elinor Ostrom, caso as pessoas ou nações não sejam movidas apenas pelo auto interesse, a tragédia dos comuns pode ser evitada. O Prêmio Nobel é uma inspiração para os trabalhos conjuntos (Joint Works) das Nações Unidas e os compromissos das partes em elaborar políticas de cooperação global. Neste sentido, o engajamento do poder público e das organizações – empresas, associações privadas, organizações sociais - bem como indivíduos são relevantes neste caminho comum.
No Brasil, esta tarefa não é nada trivial. Diversas questões como segurança alimentar, desmatamento e uso da terra requererem a colaboração interministerial para atingir os objetivos comuns. O diálogo construtivo é primordial para um Brasil colaborativo. O conceito de que os ministérios e suas políticas públicas podem funcionar autonomamente, como capitanias hereditárias, precisa acabar. Apenas assim, nossas instituições e regras devem progredir quanto à legitimidade e transparência.
Tivemos experiências passadas quanto a atuação interministerial em prol da redução do desmatamento: em 2004, o incremento anual registrado pelo INPE na Amazônia Legal foi de 27,7 mil km2, o maior valor desde 1988. O compromisso brasileiro internacional em combater o desmatamento ilegal resultou em uma ação conjunta entre a Casa Civil, ministérios do Meio Ambiente (MMA) e Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Em 2012, após oito anos, o país teve seu menor valor registrado - 4,5 mil km2 (Prodes/INPE). Embora esses valores demonstrem a eficácia da colaboração e a capacidade de controle do país, nos anos subsequentes, focos de queimadas voltaram a crescer e o desmatamento chegou em 2022 a 12 mil km2 (Prodes/INPE).
Apesar da relevância do papel governamental para essa agenda, nem toda ação depende exclusivamente do governo. Faz-se cada vez mais necessário que as ações sejam integradas em prol da transparência e legitimidade do país. Neste sentido, o engajamento das organizações, empresas e indivíduos é fundamental para gerar impacto social e ambiental positivo.
*Fernanda K. Lemos é pesquisadora associada na Universidade de York e pesquisadora visitante no Insper (Metricis/IAG). Doutora em Administração de Empresas pela Universidade de São Paulo (FEA/USP).
O conteúdo desse blog é gerenciado pelo Insper Metricis , o núcleo do Insper especializado em realizar estudos sobre estratégias organizacionais e práticas de gestão envolvendo projetos com potencial de gerar alto impacto socioambiental.
Por Fernanda K. Lemos*
O aquecimento global e sua mitigação, fome e segurança alimentar e a preservação da biodiversidade são grandes desafios socioambientais que visam ao bem-estar comum. A importância desta pauta reside em evitar a “A Tragédia dos Comuns”, obra do ecologista Garrett Hardin, publicada em 1968. O autor chama a atenção para problemas como o crescimento da população e o uso dos recursos naturais, cuja solução residiria apenas em mudança de técnicas das ciências naturais ou de natureza moral. Caso contrário, todos perderiam conjuntamente.
Os desafios mundiais debatidos nas últimas duas Conferências das Partes (COP) 26 e 27, respectivamente, em Glasgow e Sharm el Sheik em 2021 e 2022 traduzem fortes elementos de Hardin: já atingimos 8 bilhões de pessoas, as metas do Acordo de Paris (2015) não foram cumpridas e as perspectivas de aquecimento global aumentam para 2,9 ºC. Adicionalmente, estima-se que a situação de insegurança alimentar se agrave de 193 para 222 milhões de pessoas entre 2021 e 2023, de acordo com o World Food Programme e FAO, principalmente em países menos desenvolvidos.
Embora o cenário seja de pessimismo, nem tudo está perdido. Segundo Elinor Ostrom, caso as pessoas ou nações não sejam movidas apenas pelo auto interesse, a tragédia dos comuns pode ser evitada. O Prêmio Nobel é uma inspiração para os trabalhos conjuntos (Joint Works) das Nações Unidas e os compromissos das partes em elaborar políticas de cooperação global. Neste sentido, o engajamento do poder público e das organizações – empresas, associações privadas, organizações sociais - bem como indivíduos são relevantes neste caminho comum.
No Brasil, esta tarefa não é nada trivial. Diversas questões como segurança alimentar, desmatamento e uso da terra requererem a colaboração interministerial para atingir os objetivos comuns. O diálogo construtivo é primordial para um Brasil colaborativo. O conceito de que os ministérios e suas políticas públicas podem funcionar autonomamente, como capitanias hereditárias, precisa acabar. Apenas assim, nossas instituições e regras devem progredir quanto à legitimidade e transparência.
Tivemos experiências passadas quanto a atuação interministerial em prol da redução do desmatamento: em 2004, o incremento anual registrado pelo INPE na Amazônia Legal foi de 27,7 mil km2, o maior valor desde 1988. O compromisso brasileiro internacional em combater o desmatamento ilegal resultou em uma ação conjunta entre a Casa Civil, ministérios do Meio Ambiente (MMA) e Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Em 2012, após oito anos, o país teve seu menor valor registrado - 4,5 mil km2 (Prodes/INPE). Embora esses valores demonstrem a eficácia da colaboração e a capacidade de controle do país, nos anos subsequentes, focos de queimadas voltaram a crescer e o desmatamento chegou em 2022 a 12 mil km2 (Prodes/INPE).
Apesar da relevância do papel governamental para essa agenda, nem toda ação depende exclusivamente do governo. Faz-se cada vez mais necessário que as ações sejam integradas em prol da transparência e legitimidade do país. Neste sentido, o engajamento das organizações, empresas e indivíduos é fundamental para gerar impacto social e ambiental positivo.
*Fernanda K. Lemos é pesquisadora associada na Universidade de York e pesquisadora visitante no Insper (Metricis/IAG). Doutora em Administração de Empresas pela Universidade de São Paulo (FEA/USP).